#acessibilidade Ilustrações feitas por Niklas Elmehed dos vencedores do Nobel. Da esquerda para a direita aparecem William G. Kaelin Jr., Sir Peter J. Ratcliffe e Gregg L. Semenza sobrepostos e vestindo ternos brancos com gravatas brancas com detalhes marrons. Os nomes dos três aparecem abaixo das respectivas ilustrações. Acima há a frase «THE NOBEL PRIZE IN PHYSIOLOGY OR MEDICINE 2019» e abaixo, entre aspas, «for their discoveries of how cells sense and adapt to oxygen availability», em tradução livre: «O prêmio Nobel em fisiologia ou medicina 2019 por suas descobertas sobre como células sentem e se adaptam à disponibilidade de oxigênio».
Texto escrito em colaboração com Cleiton Maciel
Quem já tentou ficar embaixo da água sem respirar sabe como o oxigênio é importante. Todos os organismos realizam a respiração para manter-se vivos, que pode ser aeróbica (que depende de oxigênio) ou anaeróbica (que não depende de oxigênio e é conhecida como fermentação). A respiração aeróbica ocorre em todos os animais vivos, incluindo nós, humanos. Assim, o oxigênio é essencial para a nossa existência. No nosso organismo ele é transportado pelas hemácias (popularmente chamadas de glóbulos vermelhos) até a mitocôndria e é um dos responsáveis pela produção da energia utilizada em todas as nossas atividades, físicas e mentais.
Em altitudes mais elevadas, como na Bolívia, a pressão atmosférica se reduz e como consequência nosso corpo sente a redução de oxigênio disponível para o nosso organismo (você provavelmente já assistiu a jogos de futebol onde jogadores brasileiros apresentavam dificuldades para respirar devido às elevadas altitudes). No entanto, decorrido algum tempo, o corpo se adapta e é possível respirar melhor. O mecanismo molecular envolvido na regulação e na percepção de oxigênio pelas nossas células tem sido explorado há alguns anos. Os avanços significativos dessa compreensão deram o Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2019 a William G. Kaelin, Gregg L. Semenza e Peter J. Ratcliffe.
Uma das estruturas que ajuda nessa percepção é o corpo carotídeo, que fica próximo a grandes vasos sanguíneos nos dois lados do pescoço. Essa descoberta foi tema do Nobel de medicina, concedido a Corneille Heymans em 1938. Posteriormente, descobriu-se que o hormônio eritropoietina (EPO) também participa da regulação, levando ao aumento das hemácias quando em situação de hipóxia (diminuição das taxas de oxigênio no ar) para facilitar o transporte de oxigênio pelo corpo.
Os laureados deste ano descobriram que este hormônio está presente em diferentes tipos de células, em todos os tecidos do corpo e é regulado por um complexo proteico – chamado de fator induzido por hipóxia (HIF) – que se liga ao DNA dependendo da concentração de oxigênio na célula. Esse fator aumenta em baixos níveis de oxigênio sinalizando a necessidade de produção do hormônio EPO, que por sua vez aumenta o número de hemácias. Um outro controlador, o gene VHL, também participa dessa regulação, desligando a sinalização do fator HIF quando os níveis de oxigênio estão normais.
Além de descrever como funciona a regulação dos níveis de oxigênio que atua em todas as etapas da nossa vida, desde o desenvolvimento fetal e o crescimento até a nossa morte, essa descoberta é um grande passo na direção de novas evidências científicas sobre o tema. Diversas doenças são influenciadas pelo nível de oxigênio no organismo, como por exemplo alguns tipos de tumores, além das doenças respiratórias. Assim o potencial dessa descoberta é enorme, tanto para expandir a compreensão humana sobre o universo em que vivemos quanto para melhorar as condições da vida humana nesse universo.
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Divulgação | Nobel Prize
https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/2019/summary/
Para saber mais:
Vídeo do anúncio do prêmio no canal do prêmio Nobel no Youtube