#acessibilidade: A imagem apresenta um conjunto de garrafas de bebidas alcoólicas de diferentes formatos, cores e rótulos, agrupadas no centro, simbolizando a variedade de bebidas que podem ser adulteradas. À esquerda, dentro de um círculo vermelho com traços duplos, está a frase em negrito “Saúde Alerta!”, indicando um aviso de perigo à saúde. Abaixo desse círculo, há duas figuras ilustradas: uma mulher com a mão sobre o abdômen, demonstrando dor estomacal, e outra pessoa com as mãos na cabeça, aparentando tontura ou confusão mental, ambos sintomas de intoxicação. À direita das garrafas, aparece um símbolo triangular amarelo com borda preta e um ponto de exclamação no centro, representando alerta de perigo. Logo abaixo, está a palavra “Metanol” em letras grandes e pretas. Próximo a essa palavra, há a representação molecular do metanol (CH₃OH), composta por uma esfera preta (átomo de carbono) ligada a três esferas brancas (hidrogênios) e uma esfera vermelha (oxigênio) unida a outra branca (hidrogênio), simbolizando o grupo hidroxila. O fundo é branco e a composição tem caráter educativo e de conscientização sobre os riscos da contaminação por metanol em bebidas adulteradas.
Texto escrito pela colaboradora Sheila Cruz Araujo
Nas últimas semanas, o Estado de São Paulo tem reportado uma série de casos de contaminação de bebidas alcoólicas com metanol. A suspeita surgiu após internações por intoxicação e exames de sangue que confirmaram a presença da substância tanto no organismo das vítimas quanto nas bebidas consumidas. O caso acende um alerta importante: nem todo álcool é seguro.
O metanol (CH₃OH), também chamado de álcool metílico, é quimicamente semelhante ao etanol (C₂H₅OH), o álcool presente nas bebidas que consumimos, mas seus efeitos no corpo humano são drasticamente diferentes. Enquanto o etanol é metabolizado de forma segura em pequenas doses, o metanol é altamente tóxico: quantidades mínimas podem causar cegueira irreversível ou até morte.

#acessibilidade: Tabela comparando etanol e metanol. Mostra modelos moleculares, fórmulas químicas e toxicidade. Etanol: C₂H₆O, baixa toxicidade. Metanol: CH₃O, alta toxicidade, pode causar cegueira e morte, com ícone vermelho de perigo.
Como o metanol pode surgir na fermentação?
Durante a fermentação alcoólica, as leveduras transformam açúcares simples, como glicose e frutose, em etanol e gás carbônico. Entretanto, quando a matéria-prima contém pectinas que são compostos naturais presentes em frutas como maçã, uva, banana e ameixa, a ação de enzimas específicas pode liberar metanol como subproduto. Isso ocorre especialmente em fermentações prolongadas ou descontroladas, sem monitoramento de temperatura e pH.
Nos processos industriais, esse risco é controlado por meio da destilação fracionada, que separa os compostos conforme seus pontos de ebulição. Como o metanol ferve a 64,7 °C, ele aparece nas primeiras frações da destilação e é descartado com segurança.
Quando o risco aumenta
O perigo surge quando a produção é artesanal ou clandestina, sem controle técnico. Nesses casos, a etapa de remoção do metanol nem sempre é feita corretamente, e o resultado pode ser uma bebida contaminada. A falta de conhecimento, o uso inadequado de matérias-primas e falhas na destilação explicam como o metanol pode surgir naturalmente, mesmo sem intenção de adulteração.
Mas há situações ainda mais graves. Em fraudes deliberadas, produtores ilegais adicionam álcool industrial ou combustível, ricos em metanol, para reduzir custos e aumentar o volume. Essa prática é uma adulteração criminosa e representa uma ameaça direta à saúde pública.
O que o metanol faz no corpo?
Uma vez ingerido, o metanol é metabolizado no fígado pela enzima álcool desidrogenase, formando formaldeído e depois ácido fórmico, ambos altamente tóxicos. Essas substâncias atacam o sistema nervoso central e o nervo óptico, levando à cegueira e à acidose metabólica severa. Os sintomas iniciais incluem náusea, tontura, visão turva, dor abdominal e confusão mental, que costumam surgir entre 8 e 24 horas após o consumo.
Um problema global de saúde pública
Casos de intoxicação por metanol já foram relatados em vários países, geralmente associados a bebidas sem procedência ou produzidas ilegalmente. No Brasil, a Anvisa reforça que bebidas alcoólicas só podem ser vendidas com registro sanitário e rótulo completo, contendo nome do fabricante, CNPJ e informações de segurança.
Tratamento e prevenção
O tratamento exige intervenção médica imediata. Utiliza-se etanol ou fomepizol, substâncias que competem com o metanol pela mesma enzima, bloqueando sua conversão em toxinas. Em casos graves, pode ser necessária hemodiálise para remover o metanol e o ácido fórmico do sangue. Mais do que um risco individual, a contaminação por metanol é um problema coletivo. Ela demanda fiscalização rigorosa, educação do consumidor e responsabilidade compartilhada para evitar tragédias causadas pela adulteração ou fabricação sem controle técnico.
Lembre-se: quando se trata de bebidas, confiar na procedência é tão importante quanto brindar!
Fontes:
Imagem destacada: ARAUJO, Sheila C. Ilustração representando adulteração de bebidas alcoólicas com metanol (CH₃OH). Canva, imagem produzida no Canva. São Paulo, 30 set. 2025.
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. MJSP emite recomendação após casos de intoxicação por metanol no estado de São Paulo. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 27 set. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/mjsp-emite-recomendacao-apos-casos-de-intoxicacao-por-metanol-no-estado-de-sao-paulo
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on alcohol and health 2018. Geneva: WHO, 2018. Disponível em: https://iris.who.int/server/api/core/bitstreams/9530de1c-1fd2-4c20-a167-ec6ba7cb00c3/content
Ohimain EI. Methanol contamination in traditionally fermented alcoholic beverages: the microbial dimension. Springerplus. 2016 Sep 20;5(1):1607. doi: 10.1186/s40064-016-3303-1. PMID: 27652180; PMCID: PMC5028366.
Para saber mais:
BRASIL. Governo do Brasil detalha plano de ação contra intoxicações por metanol. Secretaria de Comunicação Social, 30 set. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2025/09/governo-do-brasil-detalha-plano-de-acao-contra-intoxicacoes-por-metanol
BBC News Brasil. “Ministério recebeu alerta com número atípico de casos na sexta-feira”. Publicado em 29 set. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy041pd8ne3o
NAGATO, Leticia Araujo Farah; DURAN, Maria Cristina; CARUSO, Miriam Solange Fernandes; BARSOTTI, Roberto Carlos Fernandes; BADOLATO, Elza Schwarz Gastaldo. Monitoramento da autenticidade de amostras de bebidas alcoólicas enviadas ao Instituto Adolfo Lutz em São Paulo. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 21, n. 1, p. 39-42, jan./abr. 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cta/a/nkR5MY3VphQ7rpXvrHHJXSG/?format=html&lang=pt
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