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#acessibilidade Retrato de perfil de Juliano Moreira.
Em 6 de janeiro de 1873, nasceu em Salvador o homem que hoje é considerado o fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil. Filho de Galdina Joaquina do Amaral, empregada doméstica na residência do Barão de Itapuã, e do português Manoel do Carmo Moreira Junior, funcionário público, Juliano Moreira foi um garoto negro e pobre que foi criado pela mãe e conseguiu ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia aos 13 anos. Moreira é um dos grandes nomes na história da ciência brasileira, mas é provável que você nunca tenha escutado sobre ele.
Dentro da Faculdade, Moreira foi aluno de Raymundo Nina Rodrigues, um dos precursores do racismo científico no Brasil. Rodrigues defendia a inferioridade racial de negros e indígenas, enxergando a miscigenação como a origem de indivíduos degenerados do ponto de vista físico e comportamental. Cinco anos após se formar, Moreira se tornou professor da faculdade e deu aula nas mesmas salas onde teve seu curso marcado pelo racismo científico, posição defendida por seu ex-professor e por parte minoritária dos médicos da época. Em suas aulas, pôde rebater essa tese. Moreira defendia que a origem das doenças mentais se relacionava a condições sanitárias e educacionais, e a luta contra esses inimigos não deveria ser afetada por “ridículos preconceitos de cores e castas”.
Além de se posicionar contra essas teses, Juliano Moreira também foi o responsável pelo tratamento humanizado de muitos pacientes psiquiátricos. Em 1903, foi nomeado diretor do serviço sanitário do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro. Nessa posição, Moreira mudou a estrutura do Hospício, retirando as grades das janelas, criando laboratórios e oficinas de trabalho, abolindo o uso de camisas de força e inaugurando uma biblioteca. Instaurou oficinas artísticas e defendeu a música nos corredores da clínica como terapia. Trouxe da Europa diversos equipamentos que ficavam à disposição dos pacientes e que podiam ser utilizados para atividades de mecânica, sapataria, pintura e outras que auxiliavam no processo de recuperação deles. Essas atividades precederam a depois criada terapia ocupacional.
Moreira tinha domínio do alemão e conhecia as obras de Freud, sendo o primeiro professor universitário brasileiro a incorporar a teoria psicanalítica no ensino da medicina, introduzindo também diversos estudos clínicos no Brasil. Entre 1917 e 1929, foi membro da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências, que aponta que, graças aos seus esforços, uma lei federal que garantia assistência a pacientes psiquiátricos foi aprovada.
Juliano era respeitado internacionalmente, tendo sido membro de sociedades médicas renomadas no mundo todo, como a Societé de Medicine (Paris, França) e a Medico-legal Society (Nova Iorque, EUA), e apresentado trabalhos em congressos em diversos países, tendo até mesmo recebido a Ordem do Tesouro Sagrado do imperador Hiroshito em viagem ao Japão.
Moreira recebeu Albert Einstein em sua primeira visita ao Brasil quando era vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências. Durante sua carreira, participou de diversos congressos internacionais, representando o Brasil e a ciência aqui produzida. Em 2 de maio de 1933, aos 60 anos, faleceu de tuberculose em Petrópolis.
#acessibilidade Foto em preto e branco da vinda de Einstein ao Brasil, com o famoso físico ao lado de Juliano.
Sua trajetória foi marcada pela luta incansável contra o racismo científico. Aos 18 anos se formou um dos primeiros médicos negros do país e suas inovações no exercício da medicina mudaram a forma como o país vê e trata pacientes psiquiátricos até hoje. Suas contribuições foram extensas e importantes para a história do país. Se essa foi a primeira vez que você ouviu falar sobre ele, podemos dizer que esse é um exemplo de como a educação brasileira apaga personalidades negras em diferentes áreas do conhecimento.
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Domínio Público
Fonte da imagem 1: Arquivo Memorial Juliano Moreira
SciELO – Brasil – Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico
Juliano Moreira: o psiquiatra negro que revolucionou o tratamento de transtornos mentais no Brasil – BBC News Brasil
Quem foi JULIANO MOREIRA – Hospital do Coração
Juliano Moreira – Museu Afro Brasil
Para saber mais:
Vídeo Juliano Moreira, o psiquiatra negro que revolucionou tratamento de transtornos mentais no Brasil do canal BBC News Brasil no YouTube
Vídeo O médico negro que se opôs ao racismo científico: Juliano Moreira do canal Nexo Jornal no YouTube
