(Português do Brasil) Sobre a Impossibilidade do teletransporte e derrubando teorias conspiracionistas usando apenas um argumento da física clássica (V.4, N.12, P.2, 2021)

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#acessibilidade Lua Cheia, com boa visibilidade de crateras, alternando entre tons brancos e cinzas, contra um céu totalmente escuro.

Texto escrito pelo colaborador Fulvio Andres Callegari

A primeira sensação que vocês podem ter tido ao ler o título deste ensaio é de surpresa. O que tem a ver a impossibilidade de um ser humano se teletransportar ao estilo Jornada nas Estrelas com alguma teoria da conspiração (no caso, as que negam a chegada do homem à Lua)? Bem, elas estão associadas pelo fato de poderem ser debatidas utilizando exatamente o mesmo argumento, que pertence ao domínio de óptica clássica, vejamos:

Todos os entusiastas da ficção científica e da ciência já se perguntaram se o teletransporte da nave Enterprise de jornada nas estrelas poderia algum dia se tornar realidade. E a resposta (negativa por enquanto) já foi dada muitas vezes (inclusive neste blog). Essa resposta é sempre baseada em argumentos envolvendo a mecânica quântica, isto envolve princípio de incerteza, “entanglement” quântico, etc. Eu gostaria de oferecer um outro argumento muito raramente citado, que é baseado apenas em conceitos de óptica clássica, neste caso específico, o poder de resolução dos aparelhos ópticos.

O poder de resolução é basicamente uma medida do grau de detalhe com o qual uma imagem é formada por um sistema óptico, ou, qual o grau de precisão.

Sem entrar em detalhes, o resultado final é tão simples que vocês podem verificar por si próprios, mostrarei mais a frente e os encorajo a fazê-lo. A teoria nos diz que o menor tamanho linear de algum detalhe que um objeto deve ter para ser corretamente reproduzido por um determinado sistema óptico (isto equivale também ao menor tamanho que um determinado objeto deve ter em ordem a ser enxergado corretamente por nosso aparelho), é diretamente proporcional ao produto entre a distância do objeto ao aparelho óptico e uma característica fundamental da luz (o chamado comprimento de onda), e também é inversamente proporcional (isto é, dividido), ao (pelo) diâmetro da lente utilizada no instrumento óptico (ainda, o número resultante dessa operação deveria ser multiplicado por 1,22 para termos mais precisão, segundo a teoria).

Podemos tomar um dos maiores telescópios ópticos (i.e., que funcionam com luz visível) que existem na Terra, o “Gran Telescópio Canaria” (GTC), com seus 10,4 m de diâmetro, e aplicar para o caso de dois objetos na Lua. A questão é: qual seria a distância mínima à qual esses dois objetos devem estar afastados para que a imagem formada pelo telescópio os mostre efetivamente separados (e não um sobreposto no outro)? Isto é equivalente ao menor tamanho linear de um objeto para ser efetivamente enxergado em seus detalhes (e não apareça apenas como um borrão). Aplicando a fórmula já explicada, e levando em conta que o comprimento de onda da luz visível em média é de uns 0,0000005 m (muito pequeno mesmo!), com uma distância Terra- Lua de 384.400 km, ou 384400000 m, o resultado nos dá 23 metros. E este número é um excelente argumento para desarmar algumas teorias conspiracionistas acerca da chegada do homem à Lua. Uma destas teorias alega que, ao não poder enxergar com telescópios desde a Terra os veículos Rover deixados pelas missões Apolo 15, 16 e 17, mesmo mirando com o telescópio no local exato em que esses veículos foram deixados, então as alunissagens não teriam acontecido. Bem, o maior tamanho linear destes veículos (o seu comprimento, neste caso) é de uns 3 m, bastante menor que os 23 m calculados anteriormente. Podemos, é claro, inverter o argumento e nos perguntarmos, qual seria o diâmetro de um telescópio óptico na Terra capaz de enxergar os Rovers deixados na lua? A resposta é 78 m. Evidentemente, não temos (ainda) um telescópio desses na Terra.

Voltamos então ao caso do teletransporte e raciocinamos que, antes de mais nada, ele deveria estar equipado com alguma espécie de sistema óptico que escaneie o corpo humano ao nível da molécula de DNA, para ter a informação necessária com vistas à materialização do corpo no destino. Vamos supor então uma pessoa na superfície do planeta Terra, a nave em órbita baixa a uns 420 km (órbita da ISS), e que o nosso transportador, para ter a informação suficiente para a reconstrução do corpo, tenha de trabalhar no nível de resolução dos nucleotídeos (o tijolo básico do DNA), os quais têm um comprimento de 0,00000000033 m, ainda mais pequeno que o comprimento de onda da luz visível! Por isso, seria conveniente utilizar luz com menor comprimento de onda (o qual acarreta complicações adicionais, nas quais não vou entrar aqui). Digamos luz com comprimento de onda de 0,00000001 m. Já temos todos os dados para calcular o diâmetro da lente necessária, o resultado é de 15.527 km. Isso mesmo, quinze mil quilômetros de diâmetro! Claramente, um tamanho impossível para uma lente. Se decidirmos ainda usar luz visível para enxergar a molécula de DNA com detalhe suficiente, o resultado seria de uns 776.363 km, isto é, setecentos e setenta e seis mil km, com trezentos e alguns metros de diâmetro. Vemos então que para além dos corretos argumentos que já se conhecem baseados na mecânica quântica, a ótica clássica também nos fornece uma forte evidência para a imensa dificuldade (senão impossibilidade) de construção que um transportador acarretaria.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Gregory H. Revera, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

http://www.gtc.iac.es/GTChome.php

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lunar_Roving_Vehicle

https://en.wikipedia.org/wiki/DNA

Para saber mais:

https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=teletransporte-envolvendo-materia

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