#acessibilidade A imagem mostra uma boca com batom vermelho mordendo uma pimenta vermelha.
Texto escrito pelo colaborador Igor Espindola de Almeida
A fuga de tudo que causa dor pode ser clara para a maioria das pessoas, mas alguns casos, como no exercício físico, um prato apimentado ou uma discussão em um relacionamento, mostram que prazer e dor podem andar juntas na natureza humana.
A dor é algo que o corpo entende com urgência, isto porque geralmente, se algo está te causando dor, é porque pode causar prejuízo a você: altas temperaturas, baixíssimas temperaturas, uma picada, descargas elétricas, e a lista de perigos continua. Mas como você sabe que está com dor?
Pense que você é um soldado operando um radar em um submarino. No radar aparece um míssil que está vindo em sua direção. Como um bom soldado, você avisa os demais e pede para eles levarem a mensagem para o capitão. Os demais soldados avisam o capitão que soa o alarme e prepara uma estratégia para se defender e anular o perigo.
No caso do nosso corpo, você seria o que chamamos de nociceptor, um tipo de célula em nossa pele que registra fatores de perigo (como temperatura e pressão) que estejam nos afetando. Ligados a esses nociceptores ficam neurônios, células do sistema nervoso que se comunicam por meio de sinais elétricos. Quando algo está errado, os nociceptores estimulam os neurônios a que estão conectados, «avisando-os» que há algo errado e que essa informação precisa ser repassada para o «capitão»: o cérebro. A informação é repassada de neurônio para neurônio, saindo da sua pele até sua coluna, para subir e chegar nos neurônios do encéfalo, onde a informação é processada. É nesse momento que você entende que algo está te causando dor. Uma vez percebida e reconhecida sua origem, uma estratégia será traçada para parar a dor, a menos que o indivíduo goste dela. Esse gostar é causado por uma relação biológica.
Quando o encéfalo detecta a dor, uma parte dele chamada hipófise, responsável por soltar substâncias na rede sanguínea, libera o hormônio endorfina, que alivia a dor para que ela se torne suportável o bastante para que o encéfalo possa traçar estratégias para pará-la. A endorfina, no entanto, também é liberada em atividades prazerosas, como comer chocolate.
Outro bom exemplo é a atividade física. Apesar de você estar gastando energia enquanto se exercita, e possivelmente estar sentindo alguma dor, a endorfina faz com que você tenha um sentimento de bem estar. O mesmo ocorre quando ingerimos algum tipo de pimenta, o sabor picante também é resultado de receptores na língua que processam a dor.
As associações não se limitam às sensações físicas. Uma outra molécula presente no funcionamento de nosso cérebro, a ocitocina (também chamada de oxitocina), comumente associada à empatia e às relações sociais positivas, tem se mostrado presente quando um parceiro apresenta algum tipo de desprezo. Essa liberação de ocitocina faz com que o parceiro desprezado tente se aproximar emocionalmente do outro a fim de manter o relacionamento. Assim, a adequação dos limites de tolerância à dor têm promovido diversas experiências aos seres humanos, prazerosas ou não.
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Imagem de englishlikeanative por Pixabay
Fonte da imagem 1: Autor
BEAR, M. Desvendando o Sistema Nervoso, 3 Ed., 2008.
NEHLIG A. The neuroprotective effects of cocoa flavanol and its influence on cognitive performance. Br J Clin Pharmacol. 2013; 75(3):716-727. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3575938/
BOSLAND PW. Hot stuff – do people living in hot climates like their food spicy hot or not?. Temperature (Austin). 2016;3(1):41-42. Published 2016 Jan 29. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4861186/
GREBE, N. Oxytocin and vulnerable romantic relationships. Hormones and behavior. Hormones and behaviour 90. Fevereiro, 2017.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/314227000_Oxytocin_and_vulnerable_romantic_relationships
Para saber mais:
Podcast – Jornal da USP – Exercícios de alta e de média intensidade liberam maior quantidade de endorfina
Outros divulgadores:
https://www.nanocell.org.br/o-que-e-dor/ – Jornal
TED-Ed – Youtube
Clash Course – Youtube
Gostei muito do texto por estar inserida no meio BDSM.
Depois desse texto que explica sobre o masoquismo, tenho interesse em saber sobre o sadismo.
Agradecida.
Muito bom!!