(V.6, N.1, P.5, 2023)

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#acessibilidade: A imagem apresenta um corpo d’água recebendo um efluente com coloração esverdeada vindo de tubulações de esgoto, o efluente despejado começa a cobrir a superfície aquática que antes apresentava aparência livre de dejetos.

Texto escrito por João Pedro Portilho Encide e Lucas Gorito dos Santos, discentes do Programa de Pós graduação em Ciência e Tecnologia – Química (PPG-CTQ da UFABC)

Você sabia que o excesso de alguns fertilizantes, como nitrogênio e fósforo, pode prejudicar o desenvolvimento dos organismos vivos que vivem no meio aquático? E não só isso, podem fazer mal a você também!

Geralmente, quando pensamos nos problemas da contaminação de corpos aquáticos como rios, lagos e mares, logo nos vem à mente problemas como intoxicação por resíduos químicos e mortes de animais geradas pela ingestão de pedaços de plásticos descartados irresponsavelmente. Esse pensamento, de maneira alguma, está errado. Contudo, além dessas perturbações mais evidentes causadas pela poluição das águas, existem outras adversidades muito sérias, que têm como origem, principalmente, atividades agrícolas como o uso inadequado dos fertilizantes e o fim impróprio dado aos dejetos que vem das criações de animais. Tais resíduos acabam gerando algumas fontes de contaminação que aumentam a concentração de nutrientes presentes nos solos. Esses nutrientes em excesso são um tipo de poluição e podem penetrar até reservatórios de água subterrâneos ou atingir diretamente os meios aquáticos. Além das atividades agrícolas, os lixões e aterros sanitários, que, em muitos casos, além de serem mal construídos, se encontram em locais impróprios, também podem ser fontes de poluição com esses nutrientes. Ainda, os vazamentos vindos dos sistemas de saneamento e redes coletoras de esgoto também são enormes fontes de contaminação.

O grande problema é que o excesso de nutrientes, principalmente o nitrogênio e o fósforo, em nossos meios aquáticos afetam tanto a vida dos organismos vivos ali presentes, quanto o cotidiano populacional ao prejudicar atividades econômicas locais e a saúde pública. Isso porque a presença em excesso  desses nutrientes faz com que organismos como algas e cianobactérias tenham uma fonte maior de nutrição, superlotando aquele ambiente.

Da mesma forma que um trem cheio pela manhã resulta em uma espessa camada de gente na porta que impede a saída e entrada de passageiros, o lodo (formado por algas e cianobactérias) cobrindo a superfície aquática impede a entrada de luz e a troca de gases da água com o exterior. Esse processo é chamado de eutrofização. O bloqueio da entrada de luz  impede um fenômeno muito importante conhecido como fotossíntese, que é a grande responsável pelo fornecimento de oxigênio ao ecossistema. Assim como nós, seres humanos, não sobreviveríamos sem oxigênio, as espécies aquáticas como os peixes presentes nos locais afetados pela eutrofização sofrem do mesmo destino causado pela falta de oxigênio, a morte.

musgo 300x199 - (V.6, N.1, P.5, 2023) plataforma de trem 225x300 - (V.6, N.1, P.5, 2023)

#acessibilidade: Duas imagens são apresentadas, a da esquerda apresenta um corpo d’água  com uma grande e espessa quantidade de material verde (musgo) cobrindo toda a superfície aquática e a imagem da direita apresenta uma plataforma de estação de trem lotada por pessoas tentando entrar e sair de um trem já cheio.

Além disso, o excesso de moléculas nitrogenadas, como o nitrato, na água bebida por nós pode causar problemas graves como câncer no trato gastrointestinal e na bexiga, além da síndrome do bebê azul ou metemoglobinemia infantil. A metemoglobinemia infantil é uma condição clínica originada pela transformação da hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio pela nossa corrente sanguínea, em metahemoglobina – ou seja, o oxigênio passa a não ser entregue adequadamente pelo corpo do bebê, levando a uma coloração azul ou arroxeada na pele.  Enquanto isso, o excesso de fósforo, também chamado de hiperfosfatemia, pode causar hipertensão, confusão mental, parestesias nas extremidades do corpo (alterações do nível de sensibilidade) e formação de cristais de fosfato que podem bloquear artérias, atrapalhando assim a circulação sanguínea e levando à arteriosclerose, derrames e ataques cardíacos.

Dito tudo isso, logo pensamos que são então necessárias leis que impeçam isso de acontecer, certo? Na verdade, para vários desses compostos, como o nitrato, já existem limites mas ainda ocorrem diversos casos de contaminação, até mesmo em locais como o estado de São Paulo, onde  iniciativas de prevenção adotam limites ainda menores (metade do padrão nacional) de nitrato na água para consumo humano.

Ao se debater maneiras de se combater o cenário atual, o processo de reversão da eutrofização de um corpo hídrico é muito caro e demorado, sendo necessário investir em maneiras mais baratas e práticas de serem usadas em nossas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) para limpar nossas águas do excesso desses nutrientes e outros contaminantes.

Dessa forma, com a intenção de ser uma sociedade cada vez mais sustentável, devemos buscar formas de evitar que essas fontes de nutrientes tenham como destino a água, sendo importante que se reduzam as quantidades utilizadas de pesticidas e fertilizantes (fontes desses nutrientes) em nossos solos. Da mesma forma, também se faz necessária uma maior fiscalização, por parte dos órgãos reguladores, dos efluentes e lixos descartados de maneira irregular. Por último, um ponto muito significativo ainda é a necessidade de uma maior conscientização da própria população, para que todos possam finalmente entender todos os tipos de danos que jogar seu lixo “na rua” podem causar, e também para exigir dos governantes que aumentem o rigor e a frequência das fiscalizações.

Para saber mais:

Nitrato em Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo | Revista do Instituto Geológico.

Nitrato e os Efeitos na Saúde Humana | Secretaria da Saúde | Centro de Vigilância Epidemiológica | Coordenadoria de Controle de Doenças

Nitrato nas Águas Subterrâneas: Desafios Frente ao Panorama Atual | Conselho Estadual de Recursos Hídricos Câmara Técnica de Águas Subterrâneas

Portaria de Consolidação Nº 5, de 28 de Setembro de 2017 | Ministério da Saúde

Cidade de São Paulo tem poluição do ar acima do recomendado pela OMS nos últimos 22 anos | Instituto de Energia e Meio Ambiente

Ingestão de Lixo Plástico Como Provável Causa Mortis de Peixe-Boi Amazônico | mamiraua

Copo e Sacola Encontrados no Intestino de Tartaruga-Verde Mostram os Riscos de Poluir a Água com Plástico | Globo | Natureza

Nitrate in Drinking Water and Risk of Death From Bladder Cancer: An Ecological Case-control Study in Taiwan | TAYLOR & FRANCIS Online

 

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1 thought on “(V.6, N.1, P.5, 2023)

  1. As verduras hidroponicas têm esses excessos também? Quem fiscaliza as pessoaa que trabalham com essas verduras? Gostaria de saber também sobre a água engarrafada PRATA. Mito ou verdade que colocam prata na água para quem tem problema renal? Por fim, parabenizar a equipe pelo excelente trabalho de extensão à comunidade. Os textos são suscintos e de fácil entendimento ao leigo. Obrifada.😀💙

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