(Português do Brasil) A Ciência, o Piche e o Tempo (V.8, N.7, P.1, 2025)

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#acessibilidade: Nas laterais da imagem temos recipientes de vidro utilizados em laboratórios científicos os quais simbolizam a ciência. No centro da imagem temos um relógio, que simboliza o tempo, derretendo e dando origem a um líquido escuro que remete ao piche.

Texto pela colaborador Tales Alexandre Costa e Silva

Quanto tempo dura um experimento científico?  

Bom, a resposta a essa pergunta pode variar frente a vários fatores como área de pesquisa, recursos financeiros e humanos, conhecimentos prévios, entre outros. Entretanto, e se eu te contar que existe um experimento que foi iniciado em 1927 e que até hoje continua sendo avaliado? Isso mesmo, este experimento, que tem quase 100 anos, foi iniciado pelo físico britânico – e veterano da Primeira Guerra Mundial – Thomas Parnell na Universidade de Queensland, em Brisbane na Austrália. Está registrado no livro dos recordes (Guinness World Records) como o experimento de laboratório em execução contínua mais longo da história. 

Sobre o experimento: 

Parnell decidiu mostrar aos seus alunos que materiais do dia a dia podem exibir propriedades bastante surpreendentes como algumas substâncias que parecem sólidas, mas que são na verdade fluidos altamente viscosos. Para isso ele despejou uma amostra de piche, uma substância derivada do petróleo, em um funil selado e deixou-a repousar por três anos. Somente em 1930 a ponta do cone foi cortada o que permitiu que o piche começasse a fluir pelo funil. O fato é que, devido à extrema lentidão com que o piche se move, apenas nove gotas caíram do funil em quase um século de observação. O piche é o fluido mais espesso conhecido no mundo e escorre tão lentamente que levou oito anos para a primeira gota cair, e mais de 40 anos para outras cinco. Até agora, 98 anos depois do corte do funil, apenas nove gotas caíram — a última gota caiu em abril de 2014 e foi a única registrada em vídeo (veja aqui).  Espera-se que a próxima gota caia em algum momento desta década e você pode assistir à transmissão do experimento ao vivo pelo link

Apesar do experimento não ser mantido em condições especiais – como o controle de temperatura – foi possível determinar que o piche possui uma viscosidade de aproximadamente 230 bilhões de vezes a da água.

Infelizmente, Parnell não conseguiu ver o registro de nenhuma gota caindo. Ele faleceu em 1948 e o experimento foi supervisionado pelo físico australiano John Mainstone entre 1961 e 2013 – este último também nunca viu uma gota cair. Após o falecimento de Mainstone o experimento está atualmente sob a supervisão do físico, também australiano, Andrew White. Estima-se que ainda haja quantidade de piche suficiente no funil para que o experimento continue por pelo menos mais cem anos.

image2 - (Português do Brasil) A Ciência, o Piche e o Tempo (V.8, N.7, P.1, 2025)
O experimento da queda do piche – Universidade de Queensland. (Fonte: John Mainstone, custodian of the Pitch Drop Experiment – University of Queensland)

Compreensão imediatista do mundo: 

O que começou como uma simples demonstração capturou o interesse de dezenas de milhares de pessoas no mundo todo e pode deixar vários ensinamentos. Um deles é que o gotejamento de um material altamente viscoso como o piche envolve uma combinação de várias forças como viscosidade, densidade e gravidade (e paciência!).  Por outro lado, poderíamos pensar que toda essa espera tediosa poderia ser evitada, por exemplo, se o piche fosse aquecido. É isso que o mundo de hoje nos exigiria em vista de uma vida acelerada, agendas lotadas, exigência de alta performance, excesso de informações e baixo processamento crítico. Sem contar no ritmo de coleta e publicação de dados tão frenético ao qual somos submetidos. Diante disto, fica estranho pensar que muitas coisas acontecem em uma escala de tempo muito mais lenta do que normalmente conseguimos apreciar. E é aí que o experimento da gota de piche desafia nossa compreensão imediatista do mundo e nos faz pensar sobre o ofício do cientista. Às vezes, a ciência parece uma reação química explosiva, e às vezes é um longo jogo de espera e observação na velocidade ditada pela própria natureza. E quando se trata de piche escorrendo por um funil, a velocidade da natureza é a mais lenta possível cultivando a mais genuína curiosidade científica.  

Fontes:

Universidade de Queensland: https://lnkd.in/dhcEQZdE

Explainer: the pitch drop experiment

The pitch drop experiment

Tedium, tragedy and tar: The slowest drops in science, BBC

Para saber mais:

Physics Museum 

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