#acessibilidade: A imagem é uma ilustração que contém à esquerda um pinguim com óculos escuros segurando um celular espalhando notícias falsas por ligação e, ao seu lado direito, um gato de terno o encarando com o rosto sério, representando os cientistas.
Texto escrito pelas colaboradoras Victória Silva Assis, Cynthia Rocha Fidelis, Joyce Soares Silva, Isabelly Vitória Beco da Silva, Izabella Santos Caetano e Yasmin Gomes Bezerra
Caro leitor, você, em algum momento, já viu alguém afirmando que a ciência provou alguma coisa? Sim? Pois bem: iremos explicar, neste texto, como funciona o método científico – e porque você, ao encontrar alguma notícia parecida com “ciência prova que…”, deve desconfiar dela.
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O mundo está passando por um problema muito forte com a disseminação de notícias falsas (as famosas fake news). Em uma pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) [1], as 42 mil pessoas participantes da pesquisa acertaram, em média, apenas 60% das vezes ao tentar identificar se uma notícia é verdadeira ou inventada.
O Brasil tem desempenho ainda pior: em outro estudo, da Universidade de Oxford e da Reuters [2], 60% das pessoas disseram confiar nas mídias sociais que usam e nas notícias que consomem.
Desconfiar por quê?
A ciência trabalha com incertezas, por meio do método científico. Esse método possui algumas etapas:
- a observação: é o ato de prestarmos atenção no mundo ao nosso redor e ao que nele acontece. É essencial, e deve ser feita sem a influência de crenças pessoais. É impossível sermos totalmente objetivos, mas, enquanto cientista, você precisa fazer esse esforço.
- os questionamentos: a partir da observação, podemos gerar perguntas – e, partindo delas, podemos usar nossas experiências e conhecimentos para tentar produzir hipóteses (supor, ou imaginar razões) do porquê tal coisa acontece, e de que maneira. A hipótese deve ser testável, e deve ser possível provar que ela é errada, para ser científica.
- as predições: se temos uma hipótese, podemos escolher uma lógica válida e formar previsões do que acontecerá nos testes.
- os testes: servem para confirmar ou falsear uma hipótese. Se ela for falseada, voltamos lá para o início: observamos o que já sabíamos, o que aprendemos e, então, criamos novas perguntas.
Se uma hipótese for confirmada por vários testes e evidências, ela se torna cada vez mais confiável – mas nunca é considerada uma verdade absoluta, pois sempre haverá a chance de ser rejeitada!
E não para por aqui! Esse sistema é reiniciado incontáveis vezes, produzindo cada vez mais conhecimento – e muito mais perguntas do que respostas!
(Ah, e uma última coisa: uma teoria é formada por várias hipóteses ainda não falseadas. Teorias são conjuntos de conhecimentos mais confiáveis, mas, ainda assim, não são verdades absolutas.)
Quer um exemplo?
Pode soar óbvio para algumas pessoas, mas o conceito de evolução natural nem sempre existiu. O filósofo grego Aristóteles, nascido 2.408 anos antes deste texto, acreditava em três tipos de alma [3]: sensível, vegetativa e racional – que davam vida a bichos, plantas e seres humanos, nessa ordem; mas, para ele, nada desaparecia, entrava em extinção ou evoluía. Ele também assumia que a vida surgia a partir de matéria não-viva (uma hipótese rejeitada com os experimentos de Louis Pasteur, por volta de 1860).
Treze séculos depois de Aristóteles, “aparecem” os conceitos de seleção natural e descendência, sendo escritos no atual Iraque – por volta dos anos 800, pelo árabe Hasan al-Basri, ou al-Jahiz [4]. Talvez você não saiba disso.
É possível, todavia, que você tenha ouvido falar de uma pessoa chamada Charles Darwin. Em 1859 ele escreveu, com base em seus estudos, que todos os seres vivos são aparentados uns dos outros. Hoje em dia não é tão estranho pensar que onças são da família dos gatos, cachorros são próximos aos lobos e tudo o mais; mas o livro dele provocou revolta, por ser uma ideia contrária ao entendimento da época – em especial a parte em que Darwin sugeriu que seres humanos eram parentes de macacos.
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Percebe o esforço que fizemos e o tempo que levamos para chegar ao conhecimento que possuímos hoje? A Ciência é um processo contínuo, colaborativo e internacional – e por isso está sempre se atualizando. Em outras palavras, a Ciência não prova nada.
Desconfie, cheque as informações, seja uma pessoa curiosa, e se cuide!
Fontes:
[1] Jornal da USP – Relatório da OCDE mostra que brasileiros são os piores em identificar notícias falsas: https://jornal.usp.br/radio-usp/relatorio-da-ocde-mostra-que-brasileiros-sao-os-piores-em-identificar-noticias-falsas/
[2] Reuters – Digital News Report: https://www.digitalnewsreport.org/survey/2017/brazil-2017/
[3] Jamil Ibrahim Iskandar. O De anima de Aristóteles e a concepção das faculdades da alma no Kitáb al-Nafs (Livro da Alma, de Anima) de Ibn Sina (Avicena): https://www.scielo.br/j/trans/a/kN5rrymL6fPDdZhtC5b4NLw/#
[4] BBC – O filósofo muçulmano que formulou teoria da evolução mil anos antes de Darwin: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47577118
Para saber mais:
Relatório da Reuters e da Universidade de Oxford sobre fake news no mundo (em inglês): https://www.digitalnewsreport.org/survey/2017/overview-key-findings-2017/
Vida e obra de al-Jahiz: https://en.wikipedia.org/wiki/Al-Jahiz (em inglês, mais completa); https://pt.wikipedia.org/wiki/Al-Jāḥiẓ (em português)
Outros divulgadores:
Método Científico (Rogério Anton): https://youtu.be/eRDBggKy0js?si=7nqETF92iQzgGM3Y
Pós-Verdade, Fake News e Fake Ethics (Casa do Saber): https://youtu.be/WFzk12KPYvE?si=OzOgxdacIBStl_Xg
Por que você acredita em Fake News? (Nerdologia): https://youtu.be/8quTOBvb8uA?si=Z-h2yi3P0CdVOC9M