(Português do Brasil) Cianotipia – Parte I: A história de Anna Atkins e as fotos azuis (V.7, N.1, P.3, 2024)

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#acessibilidade: Imagem de cianótipos preparados pelos integrantes do projeto Ciência em Foto. A imagem mostra diversos papéis redondos sobrepostos. Os papéis são azuis com a imagem de plantas impressas em branco.

Texto escrito por Michelle Mantovani, Maria Beatriz Fagundes, Jhosef Abrantes de Quadros, Sarah Moura de Souza e Luciano Gonsales Caetano, autores do Projeto Ciência em Foto. Em parceria com o Ciência em Foto

Há arte na ciência? Há ciência na arte? E se eu te disser que há ciências, no plural? E, que tanto a ciência como as diversas expressões artísticas podem ser muito interdisciplinares? Afinal, há história (e estórias) na literatura, química na tinta das telas dos quadros, matemática nas melodias e harmonias da música, biologia nos movimentos dos corpos em dança, física nas formas e cores da fotografia… e, em tudo isso, um pouco de tudo!

Aqui, para mostrar um exemplo de interdisciplinaridade entre arte e ciência, vamos falar da cianotipia: uma técnica de registrar imagens com a luz (fotografia), que envolve muita química, física e arte.

O que é a cianotipia?

Em 1842, o astrônomo John Herschel buscava fixar e copiar imagens para compartilhar resultados de seus estudos. Testando diferentes substâncias e objetos a serem “fotografados”, ele desenvolveu uma técnica para gerar negativos em papel. Para isso, aplicou uma mistura de sais de ferro sobre o papel, que permanecia inalterado na região coberta por um objeto opaco, mas ganhava forte coloração azul nas áreas expostas à luz. Essa técnica de impressão fotográfica, que foi chamada de cianotipia, se tornou amplamente conhecida graças aos trabalhos de uma mulher: Anna Atkins.

Anna Atkins - (Português do Brasil) Cianotipia - Parte I: A história de Anna Atkins e as fotos azuis  (V.7, N.1, P.3, 2024)

A botânica inglesa Anna Atkins.

#acessibilidade: Foto em preto e branco da botânica Anna Atkins. A imagem em preto e branco mostra uma mulher de pé com o rosto levemente virado para a esquerda, com sua mão esquerda próxima a sua cintura e a mão direita apoiada sobre um banco. A mulher está vestindo um vestido longo e listrado.

Nessa época, a presença de mulheres na ciência era praticamente inexistente, mas Anna Atkins teve a sorte de ser filha de um cientista, que a incentivou a estudar, além de pertencer a uma família que conhecia o próprio John Herschel e também um dos pioneiros da fotografia, William Henry Fox Talbot. Assim, mesmo sendo uma ótima desenhista, Anna utilizou a cianotipia para registrar e catalogar as formas das algas marinhas que eram seus objetos de pesquisa. Para isso, ela secava as algas e as colocava em contato com o papel a ser sensibilizado, testando o tempo de exposição à luz do Sol para produzir imagens que registravam nitidamente os detalhes e as formas dessas algas.

cystoseira foeniculacea - (Português do Brasil) Cianotipia - Parte I: A história de Anna Atkins e as fotos azuis  (V.7, N.1, P.3, 2024)

Página do livro “British Algae: Cyanotype Impressions” de Anna Atkins. Com o registro da Cystoseira foeniculacea.

#acessibilidade: Foto de um registro da Cystoseira foeniculacea feito através da cianotipia. A imagem mostra um papel com o fundo azul e com todo o contorno da planta branco. Abaixo da planta está escrito Cystoseira foeniculacea na cor branca.

Ao longo de 10 anos de pesquisa Anna Atkins publicou diversos trabalhos que iriam compor o primeiro livro ilustrado da história, o “British Algae: Cyanotype Impressions”. Escrito à mão e contendo centenas de registros de diferentes algas, esse livro complementou o “Manual of British Algae” (publicado em 1841), que contava apenas com descrições verbais da morfologia das algas. Além das algas, Anna Atkins publicou posteriormente estudos sobre plantas terrestres utilizando a técnica da cianotipia.

Mesmo tendo contribuído imensamente para o desenvolvimento da ciência e da fotografia como técnica para registro de imagens científicas, o reconhecimento do trabalho de Anna Atkins só ocorreu quase dois séculos depois. Hoje ela é considerada a primeira fotógrafa da história!

Vamos nos aprofundar um pouco mais nas ciências que envolvem a produção da cianotipia? Então nos vemos no próximo texto!

 

Fontes:

FIORITO, P.; POLO, A. S. A New Approach toward Cyanotype Photography Using Tris-(oxalato)ferrate(III): An Integrated Experiment. J. Chem. Educ., 2015. DOI: 0.1021/ed500809n

Booklet of ‘Photographs of British Algae: Cyanotype Impressions’ by Anna Atkins. Disponível em: https://collection.sciencemuseumgroup.org.uk/objects/co17028/booklet-of-photographs-of-british-algae-cyanotype-impressions-by-anna-atkins-booklet-cyanotype.

From blue skies to blue print: Astronomer John Herschel’s invention of the cyanotype. Disponível em: https://sites.utexas.edu/ransomcentermagazine/2010/12/07/from-blue-skies-to-blue-print-astronomer-john-herschels-invention-of-the-cyanotype/.

Anna Atkins: uma mulher à frente do seu tempo. Disponível em: https://www.escoladebotanica.com.br/post/anna-atkins#:~:text=A%20cianotipia%20%C3%A9%20uma%20t%C3%A9cnica,sensibilizado%2C%20tornando-se%20azul.

Anna Atkins. Disponível em: https://www.moma.org/artists/231.

Imagem de Anna Atkins. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Anna_Atkins_1861.jpg.

Página do livro “British Algae: Cyanotype Impressions” de Anna Atkins. Disponível em: https://garystockbridge617.getarchive.net/media/anna-atkins-cystoseira-foeniculacea-9f17af.

 

Para saber mais:

Anna Atkins: pioneering botanical photographer who captured algae and ferns in ghostly blue images. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-023-02446-3.

Anna Atkins’s cyanotypes: the first book of photographs. Disponível em: https://www.nhm.ac.uk/discover/anna-atkins-cyanotypes-the-first-book-of-photographs.html.

Fotógrafa pioneira, Anna Atkins passou mais de um século na obscuridade. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/anna-atkins-fotografa-pioneira/.

 

Outros divulgadores:

Ciência em Foto. Disponível em: https://cienciaemfoto.proec.ufabc.edu.br/2022/02/blueprint/.

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