#acessibilidade A imagem mostra dois círculos representando a vidraria placa de Petri utilizada em laboratório. A parte interna dos círculos está preenchida pela cor rosa degradê que é o meio de cultivo. Na parte central observa-se o escrito E. coli onde está crescendo a própria bactéria.
E. coli é a abreviação para Escherichia coli. Muitos dirão: “Em que língua está falando?”. Bem, primeiramente, estas duas palavras são o nome dado a uma das mais conhecidas e estudadas bactérias, e que foi descoberta por Theodor Escherich em 1884 ao investigar microrganismos intestinais de bebês e crianças.
Em homenagem a este cientista austríaco-alemão, o nome Escherich somado ao sufixo em latim “ia” resultou em Escherichia, e o epíteto “coli”, veio do fato desta bactéria habitar o colo, no intestino grosso. Os dois nomes Escherichia e coli, seguem a nomenclatura científica binomial (2 nomes). A nomenclatura nada mais segue do que uma aplicação de regras para nomear organismos. A E. coli, desta forma, recebe o nome de gênero, neste caso, Escherichia, e nome de espécie, neste caso, coli, e como podem observar são impressos em itálico.
Como mencionado acima, a E. coli é uma bactéria, e muitos já ouviram falar em “bactéria”, não é mesmo? Mas se alguém lhe perguntasse o que é uma bactéria, você diria o quê? Elas são microorganismos e são tão pequenas que só podem ser vistas utilizando um equipamento bem conhecido pelos cientistas: o microscópio. Elas são seres vivos bastante primitivos e um organismo inteiro é apenas uma célula (unicelular) que pode se dividir bastante rápido, em aproximadamente 20 minutos.
O termo bactéria, na maioria das vezes, nos faz lembrar de contaminação e doenças, principalmente devido à história da microbiologia de muitas bactérias que resultaram em surtos e epidemias. E a E. coli, é capaz de causar doenças? Sim. Os organismos, assim como a E. coli, podem ser ainda diferenciados dentro das espécies no que chamamos de cepas. As cepas de E. coli que causam doenças, ou seja, que são patogênicas, geralmente causam infecções intestinais com diarreias, as quais podem ser evitadas com uso de água limpa, hábitos de higiene pessoal e lavagem de alimentos.
Voltando ao termo “coli”, lembram-se que este nome foi dado por ter sido encontrada no intestino? Então quer dizer que temos bactérias no intestino? Sim! No intestino estão presentes muitas espécies de bactérias, a E. coli em menor quantidade, mas é uma delas. Aqui é importante enfatizar que a E. coli é naturalmente encontrada no intestino de humanos e animais e reside ali sem causar doenças, pelo contrário, faz parte da nossa flora (microbiota) intestinal onde produz vitaminas importantes para nós, como vitaminas B e K. Elas também propiciam melhor ambiente para outras bactérias benéficas, pois usam o oxigênio que as outras não toleram. Além disso, pesquisa recente também mostra um possível papel da E. coli na assimilação de Ferro, um importante nutriente para nosso organismo.
E para que mais serve a E. coli? Ela é considerada modelo de estudo dentre as bactérias para o desenvolvimento da microbiologia e biotecnologia. Pode ser utilizada como indicador de contaminação por fezes. Já que o local onde ela é encontrada é o intestino, então se ela for encontrada em ambientes aquáticos ou alimentos será um indício de contaminação por fezes.
A E. coli foi e é alvo de estudos na tecnologia para manipulação de material genético. Esta tecnologia permite que, em laboratório apropriado, a bactéria possa receber um material genético de outro organismo e, assim produzir produtos úteis a nós humanos, como por exemplo, medicamentos. A E. coli foi utilizada para produzir insulina humana (medicamento para diabéticos) comercialmente em 1982. E após este evento, muitos outros produtos já foram produzidos industrialmente em E. coli, como hormônio de crescimento, medicamento para aumento de imunidade em pacientes imunodeprimidos, entre outros. Por isto, podemos dizer que a E. coli pode ser uma “micro-fábrica” ou plataforma de produção.
O uso da E. coli como uma plataforma de produção sustentável foi demonstrado como caminho a ser desvendado em uma pesquisa científica divulgada no ano passado. Esta pesquisa mostrou que a E. coli, após sofrer modificações genéticas e experimentos direcionados para evolução em laboratório, passou a consumir CO2 (gás causador de efeito estufa), em vez de açúcar.
Todos os estudos na atualidade demonstram a grande importância dos microrganismos que podem ser maléficos, mas em muitos casos benéficos em diferentes quantidades e locais, na interação com seres vivos e a natureza. Pensem nisso!
Fontes:
Fonte da imagem destacada: «Escherichia coli« by TheRubinLab is licensed under CC BY-NC-SA 2.0
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https://www.colorado.edu/today/2018/08/22/unexpected-upside-e-coli
https://www.bbc.com/news/health-13639241
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