Disculpa, pero esta entrada está disponible sólo en Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.
Tiempo de leer: 6 minutosDisculpa, pero esta entrada está disponible sólo en Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.
#acessibilidade: A imagem é uma fotografia do papa Leão 14, Robert Prevost, acenando. (Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS)
Texto pela colaboradora Ana Paula Mattos Arêas
A expressão em latim Habemus papam (Temos papa), que foi proferida pelo cardeal Dominique Mamberti no dia 08/05/2025, foi ouvida outras 3 vezes nos últimos 47 anos, por ocasião da eleição do polonês Karol Józef Wojtyła (Papa João Paulo II) em 1978, do alemão Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) em 2005 e do argentino Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco I, ou simplesmente Papa Francisco) em 2013.
A escolha e posse do cardeal Robert Francis Prevost, em 2025, como novo pontífice, teve acompanhamento de uma verdadeira multidão na Piazza de San Pietro – praça de São Pedro – no Vaticano, local imediatamente à frente da Basílica que recebe o mesmo nome do mártir da Igreja, considerado o fundador dessa instituição. Prevost fez seus estudos secundários no seminário da Ordem de Santo Agostinho e se formou Bacharel em Matemática pela Universidade Villanova em 1977.
O anúncio completo em latim dava a conhecer o nome de batismo do cardeal escolhido e a alcunha adotada por ele a partir daquele momento, Leão XIV:
Annuntio vobis gaudium magnum;
habemus Papam:
Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
Dominum Robertum Franciscum
Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Prevost
qui sibi nomen imposuit LEONEM XIV(Trago-vos boas novas de grande alegria;
temos o Papa:
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor,
Senhor Roberto Francisco
Cardeal Prevost da Santa Igreja Romana
que se autodenominou LEÃO XIV)
A importância desse rito não só remete aos católicos, cujo líder é o eleito no conclave, mas ao mundo todo, visto que o pontificado também agrega funções administrativas de chefe de Estado.
O Vaticano é uma pequena cidade-estado (a versão moderna de Atenas e Esparta), com aproximadamente 0,44 km2 e cerca de mil residentes, incrustada em Roma, na região norte da capital italiana, a cerca de 1,5 km do centro. Para fins de comparação, o menor município do Brasil é Santa Cruz de Minas (MG) cuja área é de 3,56 Km2, com aproximadamente 8 mil habitantes.
Para termos uma ideia de distância, como grande parte de Roma é plana, o trajeto do centro da cidade até a Basílica leva cerca de 15 minutos a pé, praticamente o mesmo tempo necessário para percorrer toda a extensão do Vaticano. O mapa dessa cidade-estado pode ser visualizado a seguir, onde em 1 e 2 podem ser vistas a Basílica de São Pedro e a Praça de São Pedro (abertas para visitação) e em 5, a Capela Sistina. A Capela Sistina, um anexo da Basílica de São Pedro, normalmente está aberta ao público, mas nos dias do conclave é selada para a escolha do Papa.
A origem do nome “Vaticano” é controversa. Enquanto alguns autores descrevem a etimologia latina da palavra, como derivada de vaticinari, que quer dizer profetizar, outros acreditam que tenha vindo de uma palavra etrusca. A língua etrusca é um idioma morto, que era corrente na antiga civilização que repousa sob as ruínas de Roma da época do Império Romano (27 a.C. a 476 d.C.).
Quanto ao conclave, o termo latino derivado das palavras cum clavis quer dizer “com chave”, ou seja, o rito solene de escolha precisa ser secreto, realizado em um local trancado, a Capela Sistina. Conhecida por abrigar famosos afrescos – como A Criação de Adão e O Juízo Final – do artista renascentista Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1465-1564), popularmente conhecido como Michelangelo, a pequena Igreja tem um significado religioso e histórico enorme; por esta razão, esse local abriga oficialmente o conclave desde 1878, ainda que haja relatos de sua utilização para este fim antes disso.
Os mais de 1,4 bilhão de fieis católicos, e outros tantos interessados no conclave, acompanharam o andamento das votações dos 133 cardeais a partir da Praça de São Pedro ou por meio televisivo e redes sociais ao redor do planeta. Todos estavam alertas olhando para a chaminé da Capela Sistina, onde a cor da fumaça emanada indicaria se o sucessor do Papa Francisco havia sido eleito por 2/3 dos cardeais eleitores.
Essa fumaça é proveniente da queima dos votos dos cardeais naquela rodada do processo eleitoral. A tradição de queimar os votos, após o escrutínio, existe há pelo menos 6 séculos, mas somente com a instalação da chaminé na Capela Sistina no século XVIII, o produto da queima dos votos passou a ir para o ambiente externo. Na virada do século XIX para o século XX, a cor da fumaça emanada se tornou um indicativo para o público se um Papa havia sido escolhido no processo eleitoral.
Caso a votação tivesse sido bem-sucedida, a fumaça liberada seria branca, caso contrário, a fumaça negra, desprendida da chaminé, indicaria que uma nova rodada de sufrágio seria necessária. Mas qual a química por trás da cor dessa fumaça?
Já sabemos das aulas de química no ensino médio que fumaça branca indica combustão completa, ou seja, aquela na qual insumos compostos por C e H geram como produtos CO2 e H2O, enquanto fumaça enegrecida é rica em produtos secundários advindos da combustão incompleta, como CO e C elementar, responsável pelo material particulado (fuligem) que dá cor à fumaça escura. Qual a atual “receita” adicionada aos votos para gerar essas diferentes cores de fumaça?
A fumaça negra é obtida pela adição de perclorato de potássio (KClO4), que funciona como uma fonte de oxigênio adicional para a combustão – mas não provê os equivalentes necessários para a combustão completa; antraceno, um combustível orgânico proveniente de carvão e, enxofre que é um mediador da reação. Já a mistura para gerar a fumaça branca é composta por um oxidante mais potente, clorato de potássio (KClO3, que vai fornecer mais oxigênio para a reação) e lactose como combustível orgânico, que resulta em uma queima limpa, sem subprodutos indesejados que escureceriam a fumaça. Um último ingrediente é adicionado para tornar a fumaça branca mais espessa, mais visível: cera de pinheiro. Portanto, tanto a queima da cera quanto da lactose resulta em combustão completa.
Com o uso dessas misturas, podemos perceber a participação da Química moderna na divulgação, para o grande público, de um processo eleitoral tão importante e tradicional, como a escolha do Pontífice. Ciência a serviço da História!
Referências
Lammers, Gisela. Portal CNN Brasil – Relembre quem foram os últimos papas da Igreja Católica. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/relembre-quem-foram-os-ultimos-papas-da-igreja-catolica/. Publicado em 21/abr/2025 e acessado em 09/mai/2025.
Portal do Vaticano – ANNUNTIO VOBIS GAUDIUM MAGNUM HABEMUS PAPAM. Disponível em: https://www.vatican.va/content/vatican/it/special/habemus-papam.html. Acesso em 09/mai/2025. (a)
Portal do Vaticano – mapa da cidade-estado do Vaticano. Disponível em: https://www.vatican.va/faq/img/mappa-fr.png. Acesso em 09/mai/2025. (b)
Lorsh, Mark. Portal The conversation – Conclave: the chemistry behind the black and white smoke. Disponível em: https://theconversation.com/conclave-the-chemistry-behind-the-black-and-white-smoke-255980. Publicado em 07/mai/2025 e acessado em 09/mai/2025.
Portal The Vatican Tickets & Tours – Descubra a melhor entrada dos Museus do Vaticano. Disponível em: https://www.thevaticantickets.com/pt/vatican-museums-entrances/. Acesso em: 09/mai/2025.
Radar, C.B. Portal Correio Braziliense – Conheça a menor cidade do Brasil e como ela se sustenta. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/cbradar/conheca-a-menor-cidade-do-brasil-e-como-ela-se-sustenta/#:~:text=Santa%20Cruz%20de%20Minas%2C%20localizada,Brasil%2C%20com%20apenas%203%2C565%20km². Publicado em 28/mar/2025 e acessado em 09/mai/2025.
Serra, Vittorio. Rome and The Vatican, 2000 years of History and Masterpieces. Bonechi Edizioni “IL TURISMO”, 2002, Florença, Itália, 127 p.
Para saber mais, acesse:
Peirats, Anna. Portal BBC News Brasil – Uma breve história dos conclaves papais, entre fumaças brancas, intrigas e o cisma da Igreja Católica. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/czel536n4j2o. Publicado em 08/mai/2025 e acessado em 09/mai/2025.
Portal G1. Conclave: uso da fumaça como sinal do resultado tem história na Igreja; ciência explica coloração. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/05/07/conclave-uso-da-fumaca-como-sinal-do-resultado-tem-historia-na-igreja-ciencia-explica-coloracao.ghtml. Publicado em 07/mai/2025, atualizado em 08/mai/2025 e acessado em 09/mai/2025.
