(Português do Brasil) Como Beethoven conseguiu compor mesmo sendo surdo? (V.6, N.3, P.3, 2023)

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#acessibilidade: Diversas estátuas de Beethoven dispostas com o mesmo espaçamento entre si e viradas em diferentes direções.

 

Se aprender a tocar um instrumento é algo que exige muita dedicação, imagine compor melodias nunca antes ouvidas. E se você tem alguma deficiência auditiva? Esse é o caso de Ludwig van Beethoven (1770 – 1827), um dos principais compositores europeus de música clássica. Suas melodias são conhecidas mundialmente e inspiraram diversos outros compositores, mas como foi possível compô-las?

Precisamos ser justos, Beethoven não nasceu surdo. Os primeiros relatos de problemas em sua audição são de quando ele tinha 26 anos. A partir daí, a sua capacidade de perceber sons foi se degradando ao longo dos anos. Por ter recebido treinamento musical desde os 5 anos e ter tido a oportunidade de frequentar concertos ao longo de sua infância e juventude, aos 26 anos, Beethoven já tinha um repertório musical vasto. É graças a este repertório em sua memória musical que ele pôde compor, mesmo sendo surdo.

Para entender direito precisamos separar o sentido da audição do pensamento musical. Quando um som chega até os seus ouvidos ele é transformado em impulsos elétricos em um componente do ouvido chamado cóclea. Estes impulsos são transportados pelo nervo vestibulococlear até diferentes partes do encéfalo, onde são processadas. Beethoven teve perda contínua na audição, mas isso não significa que ele não conseguia lembrar de sons.

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A menos que você esteja lendo este artigo em voz alta, parte do que você está fazendo agora é o que permitia Beethoven compor. Quando lemos, apesar de não estarmos ouvindo os sons que as letras indicam, pensamos em seu som. Algumas palavras podem evocar imagens em sua mente, como árvores ou andar, mas isso não ocorre com palavras que não indiquem alguma ação ou um objeto, como “apesar” ou “alguma” que acabamos de usar. Para elas, o som e o seu significado são o que surgem no pensamento. Conseguimos pensar até mesmo na entonação das frases ou em um som específico, como quando temos uma onomatopeia, mas não conseguimos descrever os sons que uma orquestra deve seguir só com palavras, precisamos de algo que exponha nosso pensamento referente a música.

Apesar de diferentes tentativas de desenvolver uma notação musical terem sido feitas, foi Guido d’Arezzo (992 – 1050), um monge italiano, que formulou o que se tornaria a partitura que temos hoje. Em uma partitura, podemos indicar melodias, tons, tempo, altura e intensidades. Foi com esta ferramenta em mãos, mesmo sem ouvir os sons (ou os ouvindo em uma intensidade baixa), e confiando nas memórias que tinha dos sons, que Beethoven pôde compor diversas obras, passando-as do seu pensamento para a folha do papel.

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Outros divulgadores:

Música e Neurociência. – YouTube

Vídeo sobre como a audição funciona – YouTube

COMO FUNCIONA A SUPERAUDIÇÃO? | Nerdologia – YouTube

Tudo Sobre: BEETHOVEN – YouTube

 

Fontes:

BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. Artmed editora, 2002.

BURROWS, John; WIFFEN, Charles. Música clássica. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2007.

ESTEVES, Glaucia; SBAFFI, Edoardo. Técnica de leitura da partitura musical com notação relativa: da Solmização de Guido di Arezzo até o Dó móvel de Zoltan Kòdaly. In: IX ENCONTRO REGIONAL NORTE DA ABEM. 2016.

Fonte da imagem em destaque: Pixabay (Valdas Miskinis)
Fonte da imagem do ouvido interno: Wikimedia Commons
Fonte da imagem da partitura: Domínio Público

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