(Português do Brasil) Uma breve história (da resistência) da ciência (V.2, N.3, P.5, 2019)

Facebook Instagram YouTube Spotify

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil and Español. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in this site default language. You may click one of the links to switch the site language to another available language.

Reading time: 5 minutes

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil and Español. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in this site default language. You may click one of the links to switch the site language to another available language.

#acessibilidade Foto tirada no Memorial da Resistência, ao fundo uma das janelas gradeadas da cela e à frente da imagem um cravo dentro de uma garrafa com água, ambos sobre um caixote de madeira em memória daqueles que foram presos, torturados e mortos durante a ditadura naquela e em outras celas.

Texto escrito em colaboração com Gabriela Dias

Sócrates, Giordano Bruno, Galileu Galilei, Albert Einstein. Você certamente já ouviu ao menos um desses nomes. Schrödinger, Heisenberg e Born são nomes mais familiares a quem já cursou alguma matéria das ciências exatas.  O que eles têm em comum? São pensadores, filósofos, cientistas reconhecidos até hoje por suas ideias revolucionárias, que contrariavam as ideias estabelecidas em sua época.

Sócrates nasceu em 470 a.C. e foi um grande pensador da antiguidade, embora não tenha deixado nenhum trabalho seu escrito. Conhecido por defender o diálogo como método de ensino, suas ideias são conhecidas a partir dos escritos de outros pensadores, que foram seus discípulos e seguidores, como Platão e Aristóteles. Já no fim da vida, foi preso, julgado e condenado à morte por “corromper a mente dos jovens atenienses” e “não acreditar nos deuses do estado”.

Giordano Bruno foi um teólogo, filósofo e frade italiano, nascido em 1548. Foi preso por defender ideias contrárias às estabelecidas pela religião católica, como a infinitude do universo, que o sol é uma estrela como outras observadas no céu noturno e o heliocentrismo. Por essas ideias e também por outras que contrariavam os dogmas católicos, ele foi condenado à fogueira pela inquisição. Ficou preso por oito anos e foi queimado em 1600.

A história de Galileu você provavelmente já ouviu falar. Sua principal obra é o “Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo”, publicado em 1632. Nela é apresentada e defendida (com anos de experimentação e observações) a visão copernicana do “universo”, com o sol no centro e os planetas girando em torno dele, em contraponto à visão aceita naquele momento histórico, com a Terra no centro e todos os corpos celestes, incluindo o sol, girando ao seu redor. Acusado de heresia pela igreja católica, Galileu foi condenado a contradizer publicamente o que defendia em sua obra e permaneceu em “prisão domiciliar” pelo resto da vida. Em 1992, o papa João Paulo II pediu perdão em nome da igreja católica pela condenação de Galileu.

Erwin Schrödinger, Werner Heisenberg e Max Born foram alguns dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento da teoria quântica, que explica fenômenos que acontecem em escala atômica e subatômica (você pode saber um pouquinho mais sobre essa teoria clicando aqui). Desenvolviam suas pesquisas na primeira metade do século XX, principalmente em universidades alemãs. Com o advento e crescimento das ideias antissemitas propagadas pelo nazismo, acabaram abandonando a Alemanha e se exilando em países como Inglaterra e Estados Unidos.

Esses são apenas alguns nomes de filósofos e cientistas que foram de alguma forma perseguidos e/ou condenados por suas ideias. Muitos outros mais tiveram fins trágicos como a morte ou o exílio. Tudo isso parece distante? É coisa da idade média? Ataque de extremistas que já foi superado e que não poderiam se repetir em uma sociedade civilizada e democrática? Pois bem, Ana Rosa Kucinski Silva, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), e seu marido Wilson Silva, desapareceram em abril de 1974. Somente em 2014, com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, ficou comprovado que foram mortos por agentes da repressão da ditadura militar instaurada no Brasil em 1964. Na mesma época, o casal Victor e Ruth Nussenzweig (biólogos) se exilou nos Estados Unidos após Victor se tornar alvo de um inquérito militar. Foram contratados pela Universidade de Nova York, onde continuaram as pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina para a malária, e continuam lá até hoje. Isaias Raw, professor da Faculdade de Medicina da USP, ficou preso por 13 dias em 1964, acusado de atividades “subversivas” pela comissão interna da universidade. Cabe destacar que qualquer atividade poderia ser classificada como subversiva e motivar uma prisão, mas na maioria das vezes não havia ameaça nenhuma, essa prisão era totalmente arbitrária.

Perceba que esses últimos relatos não fazem tanto tempo assim, não é mesmo?! O próprio reconhecimento de que muitos desses professores e cientistas foram vítimas de um ataque contra os direitos trabalhistas, civis, políticos e humanos ocorreu há 4 anos. Ainda hoje algumas informações continuam sendo atualizadas, pessoas continuam desaparecidas e perguntas continuam sem respostas.

A Sociedade Brasileira de Física (SBF) publicou no dia 28 de março de 2019 a matéria “SBF relembra físicos perseguidos pela ditadura militar de 1964, que cita os físicos Mario Schenberg, Elisa Esther Frota Pessoa, Jaime Tiomno, José Leite Lopes, Plínio Sussekind da Rocha, Sarah de Castro Barbosa, que foram aposentados compulsoriamente em 1964. Hoje, dia 31 de março de 2019, completam-se 55 anos do início do regime militar, que perdurou até 1985. Em função disso a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) lançou uma nota declarando seu repúdio à qualquer tipo de comemoração que remeta à ditadura militar no Brasil: “Não é dia de comemorar. Pelo contrário. É dia de homenagear os que tombaram”.

Em 2014, foi lançado o Projeto Ciência na Ditadura, que “consiste num levantamento dos pesquisadores e professores universitários perseguidos ou que tiveram suas carreiras acadêmicas prejudicadas em função de questões de natureza política”. Segundo o site do projeto, 471 cientistas sofreram nesse período de nossa história, seja porque foram presos, torturados, assassinados ou exilados; demitidos, aposentados, submetidos a inquéritos militares, cujos livros foram proibidos, tiveram que se demitir ou fugir do país em função do clima de perseguição política, ou sofreram boicote ao seu trabalho científico e intelectual.  

Assim como esse projeto, outras iniciativas têm sido realizadas para preservação das memórias da resistência e da repressão militar ocorridas durante a ditadura e garantir que seja apenas uma triste lembrança do passado que não venha assombrar nosso futuro. Em São Paulo, por exemplo, existe o Memorial da Resistência, localizado no prédio da antiga  sede do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social, órgão responsável pela repressão política e censura durante o regime militar). Este Memorial conta um pouquinho dessa história e da perseguição que ocorreu em várias universidades do país.

Recordar esses fatos não significa que gostamos de cutucar a ferida para vê-la sangrar, mas sim que nós, como sociedade, devemos tirar uma lição deste triste momento histórico. Precisamos sinalizar, recordar e relembrar para que a mesma pedra não nos faça tropeçar novamente abrindo uma outra ferida.

Para saber mais, listamos alguns sites que trazem mais informação sobre os cientistas e intelectuais brasileiros perseguidos nessa época sombria de nossa história recente e também textos que relembram as perseguições políticas e ideológicas sofridas por pesquisadores e pensadores ao longo da história.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Arquivo pessoal.

Para visitar: Memorial da Resistência http://www.memorialdaresistenciasp.org.br/memorial/

Para saber mais: (no Brasil) Playlist com documentários sobre a Ditadura Militar Brasileira no YouTube

http://www.sbq.org.br/ensino/workshop/nota-publica-da-divisao-de-ensino-da-sociedade-brasileira-de-quimica-sobre-31-de-marco

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252014000400015 https://portal.fiocruz.br/noticia/ditadura-regime-instituido-pelo-golpe-ha-50-anos-deixou-marcas-no-campo-da-ciencia http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/projeto-identifica-cientistas-perseguidos-pela-ditadura-militar/ https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/museu-lanca-site-sobre-cientistas-perseguidos-durante-ditadura-militar-15738975 http://site.mast.br/ciencia_na_ditadura/index.html http://www.sbfisica.org.br/v1/home/index.php/pt/acontece/875-sbf-relembra-fisicos-brasileiros-perseguidos-pela-ditadura-militar-de-1964 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1560259-relatorio-da-comissao-da-verdade-detalha-prisoes-tortura-e-mortes.shtml (no mundo) https://netnature.wordpress.com/2016/07/11/cientistas-filosofos-e-livres-pensadores-que-a-inquisicao-matou-em-nome-de-deus/ http://www.comciencia.br/punicao-na-ciencia-atraves-dos-tempos/ http://cienciahoje.org.br/a-fuga-de-cerebros-da-alemanha-nazista/ https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf https://super.abril.com.br/ciencia/9-cientistas-famosos-que-ja-foram-refugiados/

Outros divulgadores: Texto do Universo Racionalista sobre o atraso científico na Ditadura

Compartilhe:

Leave a Reply

Your email address will not be published.Required fields are marked *