(V.5, N.12, P.1, 2022)

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#acessibilidade: cartaz exibido na Marcha pela Ciência de Curitiba com as frases “A ciência salva vidas. Sem ciência não há futuro” 

Texto escrito pelo colaborador Artur F. Keppler

No apagar das luzes do atual governo federal, na noite que antecedeu o jogo da seleção brasileira (quinta 01.12.22), publicou o decreto nº 1.269/2022 e o Ministério da Educação (MEC) enviou um documento oficiando que não tinha mais saldo para pagamento de despesas discricionárias. De forma sucinta, o MEC informou que não tem, então não irá liberar recursos financeiros para o pagamento de despesas já contratadas. Com este montante confiscado abruptamente, previa-se pagar bolsas de estudos e serviços já executados no mês de novembro (limpeza, segurança, manutenção, água…). Vale lembrar que as Universidades e Institutos de Pesquisa Federais não tem caixa; o dinheiro fica sob a guarda do MEC. As Universidades Estaduais e Particulares também recebem verba do MEC para pagar bolsas de estudos de alunos e pesquisadores.

Em 05.dez.22, foi noticiado nas principais plataformas de notícia, manchetes “MEC está sem verbas para pagar residentes e bolsistas”. Vamos entender um pouco o aspecto humano deste descalabro.

Residentes e bolsistas, para quem não os conhece. Quem são? 

Muitos já devem ter ouvido falar dos residentes. São estudantes da área da saúde que têm que cumprir horas de atendimento ao público, seja em hospitais ou clínicas, para serem diplomados. Uma parte deles recebe bolsa de estudos.

Já bolsistas, é um termo mais amplo. São estudantes de diversas áreas do conhecimento, de diversos níveis (graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado) que recebem um valor mensal para se dedicarem à pesquisa. Diferentemente do salário, que tem garantias legais e contratuais (13o, férias, FGTS…hoje nem todos assalariados têm esses direitos, infelizmente) os bolsistas brasileiros só recebem um valor mensal e com prazo definido para o término do contrato. Um mestrando, por exemplo, recebe 24 pagamentos de R$1500,00 ao longo dos seus 2 anos de jornada acadêmica (bolsa CAPES, em valores atuais). Para cada nível de escolaridade, um valor de bolsa (neste link vocês podem consultar o valor das bolsas). Muitos pesquisadores, assim como residentes, não recebem bolsa. São conhecidos como voluntários. Não porque queiram ficar sem bolsa, o fato é que não há bolsa para todos.

Como eu consigo uma bolsa? 

Independentemente do órgão ao qual o requerente à bolsa esteja, vai existir um processo seletivo, público e transparente. Será aplicada uma prova de conhecimentos específicos e os melhores classificados terão direito a receber a bolsa. Em contrapartida, o bolsista deverá se dedicar exclusivamente à pesquisa ou à residência. Não poderá ter outra fonte de renda e ao final do período, irá apresentar um documento comprobatório de uso dessa bolsa (uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado, por exemplo).

E o que se faz com essa bolsa. E com esse conhecimento?

Uma bolsa de estudos é paga com nossos impostos, para trabalhadores. Um ser humano que tem contas a pagar, sonhos a conquistar, uma carreira e um futuro para ser estruturado. Muitos, também têm uma família para sustentar. Diariamente, essas mulheres e homens pegam um transporte, compram alimentos e passam os dias buscando respostas para um problema que aflige a humanidade. Ou prospectam algo que virá acontecer. Assim como na história da humanidade; na Ciência, os avanços não acontecem em saltos. Nós pesquisadores, subimos coletivamente pequenos degraus, rumo à um conhecimento mais elevado. 

De um contínuo esforço de milhares de brasileiros, dedicados à ciência básica e aplicada, surgiram produtos e inovações tecnológicas que fazem parte do nosso cotidiano. Podemos citar como exemplo o feijão, a cana-de-açúcar e a laranja, cujas linhagens mais adaptadas ao clima e condições de plantio locais, foram selecionados e melhorados geneticamente pelos pesquisadores da ESALQ/USP.

Somado, todo esse conhecimento, é a base para o progresso de uma nação. Ciência e tecnologia é um investimento que se reverte em benefícios para a sociedade, infelizmente, não imediatamente. A partir dos trabalhos de James Heckman, laureado em 2000 com o prêmio Nobel em economia, pôde se ver que para cada dólar investido em educação infantil, sete voltam para o país ao longo do tempo (HECKMAN, James J. et al., 2010). Quando falamos de pesquisa e desenvolvimento, o impacto ou consequência do investimento é difícil de mensurar, devido a sua multidimensionalidade, pois envolve aspectos econômicos, sociais, capacitação de mão de obra especializada e etc. Em um programa pontual de financiamento da FAPESP, para cada real investido, retornaram seis (SALLES-FILHO, Sergio, 2011).

Desde 2018 sofremos cortes profundos em verbas destinadas à educação. O resultado que vemos hoje, são safras recordes de produção de commodities (soja e milho, principalmente) e falta de antibióticos nas prateleiras. (ZOLIN, Beatriz., 2022)  Exportamos matéria prima e importamos, quando disponível, produtos acabados. O problema não é de hoje, mas o investimento massivo no agro e corte na pesquisa/educação é um legado do finado governo, que será sentido por longas décadas.

Sem investimentos para a mudança da matriz produtiva, continuaremos sendo uma grande colônia dedicada ao extrativismo, glamourosamente manteremos o status de celeiro da humanidade. 

Força bolsistas, força pesquisadores, precisamos!

Siglas e Fontes:

ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de Sâo Paulo) https://www.esalq.usp.br/pg/programas/genetica/

FAPESP (Funcação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) https://fapesp.br/

Fonte da imagem destacada: Exatas UFPR

HECKMAN, James J. et al. The rate of return to the HighScope Perry Preschool Program. Journal of public Economics, v. 94, n. 1-2, p. 114-128, 2010.

SALLES-FILHO, Sergio. Quanto vale o investimento em ciência, tecnologia e inovação?. Jornal da Unicamp. 19 a 25 de setembro de 2011. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp_hoje/ju/setembro2011/ju507pdf/Pag02.pdf. Acesso em: 08/12/2022

ZOLIN, Beatriz. PRATELEIRAS VAZIAS: POR QUE ALGUNS MEDICAMENTOS ESTÃO EM FALTA NO BRASIL?. Portal Drauzio Varella. 15 de junho de 2022.Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/medicamentos/prateleiras-vazias-por-que-alguns-medicamentos-estao-em-falta-no-brasil/ Acesso em: 08/12/2022

 

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