#acessibilidade: Imagem de duas flores pendentes com pétalas brancas em um fundo preto. As flores possuem estruturas brancas e amarelas no centro e esverdeadas ao fundo, estas últimas com geometria de estrela com diversas pontas.
Texto escrito por Ana Beatriz Pae Cioff, Júlia Zattoni Fairbanks Mendes, Milena do Nascimento e Isabely Vasconcellos Gonçalves
Quem costuma passear à noite provavelmente já se deparou com o extraordinário cheiro de dama-da-noite e posso apostar que não deixou de comentar! Mas você sabia que dentre todas as damas, existe uma rainha com história e biologia tão notáveis quanto seu aroma inebriante? Apresentamos-lhes: Epiphyllum oxypetalum.
Os jardins reais contam com uma variedade de damas como: jasmim da noite (Cestrum nocturnum), flor da lua (Hylocereus undatus), cacto sianinha (Selenicereus anthonyanus) e a exuberante rainha da noite (Epiphyllum oxypetalum)! Todas, no final das contas, são damas da noite, visto que este título deriva do fato de suas flores se abrirem exclusivamente no final da tarde e à noite, liberando um aroma inconfundível que permeia todo o ambiente.
Mas a rainha da noite possui uma história que a faz muito especial. Segundo uma de suas lendas, Epiphyllum, outrora a deusa das flores, viu-se apaixonada por um jovem, o que desencadeou a ira do Imperador, resultando na separação do casal. A deusa das flores foi rebaixada pelo imperador, passando de uma flor que desabrochava diariamente para aquela que só revela sua beleza por um breve momento à noite, impedindo-a de reunir-se ao seu grande amor.
Consciente de que seu amado descia a montanha apenas uma vez por dia à noite, a Epiphyllum reservou sua energia para florescer precisamente nesse momento específico. Apesar da aura mística da lenda, a ciência fornece uma explicação precisa para os hábitos de floração dessa magnífica flor.
O nome do gênero Epiphyllum se origina do grego “epi”, sobre, e “phyllum”, folha, fazendo referência às flores: quando esta denominação foi dada, os botânicos da época consideravam que os filocládios eram folhas (hoje sabemos que são caules!) de onde as flores pareciam brotar. Já o epíteto oxypetalum vem do grego “oxy” e do latim “petalum”, relacionado às pétalas das flores, que são afiadas, pontiagudas, mas ao mesmo tempo, deslumbrantes e pungentes, adjetivos perfeitos para descrever sua beleza! Mas e com relação ao seu perfume?
#acessibilidade: Imagem de uma flor pendente com pétalas brancas em fundo preto com uma mariposa pousada sobre ela. Estruturas florais brancas e mais amareladas no centro, com geometria de estrela com diversas pontas. A mariposa possui asas com padrão de cores amarronzado, branco e preto e seu corpo possui padrão circular alaranjado com detalhes em preto, marrom e branco.
O principal inseto responsável pela polinização dessas plantas é a mariposa, que sai em busca de néctar floral (seu alimento preferido!) entre o final da tarde e à noite. Desta forma, neste período específico as flores desabrocham, liberando um doce aroma destinado a atrair estes polinizadores noturnos. Este intrincado processo é vital para a reprodução da planta, uma vez que os animais polinizadores transferem o pólen de uma flor para outra, assegurando assim a continuidade do ciclo de vida da rainha Epiphyllum.
Mas o que determina a hora certa das flores abrirem? O momento de abrir, que é também quando a dama-da-noite libera o aroma, é controlado por células especiais chamadas fotorreceptoras que são capazes de identificar a intensidade de luz. De acordo com a intensidade da luz, essas células podem sofrer uma mudança em sua estrutura ou desencadear uma série de reações que avisam a planta se é dia ou noite.
#acessibilidade: Imagem de um campo de flores amarelas (girassóis) virados com as pétalas amarelas para um fundo chuvoso.
É legal imaginar que, mesmo que os fotorreceptores sejam sempre células dedicadas à captação de luz, seu funcionamento varia de maneira única para cada tipo de flor. Talvez você já tenha ouvido falar que os girassóis seguem o sol? Ou que algumas plantas gostam mais de sombra? Isso tudo é trabalho dos fotorreceptores que podem ter um funcionamento mais ou menos sensível. Até mesmo a flor de maio ou a onze horas recebem uma ajudinha dos fotorreceptores! Só por isso já é possível perceber a importância dessas células, não é mesmo?
Falando em células e óvulos, você sabia que a rainha da noite também dá frutos? Sim e lembram muito uma pitaya (que curiosamente é um nome comum para frutos vindos de cactos, muito legal né?), inclusive um dos nomes pelos quais esse fruto é conhecido é pitainha de forquilha. Seu outro nome, Acutirém-biú, vem do tupi-guarani e significa “erva longa que dá frutos como lança”. Esses frutos podem ser consumidos in natura, como suco ou até como geleias e não só por nós, os morcegos também gostam de comê-los.
Depois de descobrir que existem diversas variedades de dama-da-noite, entender por que só sentimos esse cheiro à noite e identificar a importância desse aroma, que tal compartilhar essas descobertas com sua família e amigos? Nós, da equipe do GEC, agradecemos a companhia nesta jornada aromática e até a próxima!
Para saber mais:
Season’s greetings: Epiphyllum – queen of the night. CGTN. Disponível em: https://news.cgtn.com/news/2021-08-29/Season-s-greetings-Epiphyllum-queen-of-the-night-137AKphFRcs/index.html
How to Plant, Grow, and Care for Queen of the Night Flower. Planet Natural. Disponível em: https://www.planetnatural.com/queen-of-the-night-flower/
Floração da dama-da-noite é flagrada com recurso fotográfico que acelera o tempo. G1 Globo. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2021/02/10/floracao-da-dama-da-noite-e-flagrada-com-recurso-fotografico-que-acelera-o-tempo.ghtml
Epiphyllum oxypetalum (DC.) Haw. UNIRIO. Disponível em: https://www.unirio.br/ccbs/ibio/herbariohuni/epiphyllum-oxypetalum-dc-haw
Por que a dama-da-noite só solta perfume à noite? Super Interessante. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-dama-da-noite-so-solta-perfume-a-noite
Fisiologia Vegetal. UFPB. Disponível em: http://portal.virtual.ufpb.br/biologia/novo_site/Biblioteca/Livro_5/7-Fisiologia_Vegetal.pdf
Movimentos vegetais. Mundo Vegetal. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/movimentos-vegetais.htm
EPIPHYLLUM PHYLLANTHUS. Colecionando Frutas. Disponível em: https://www.colecionandofrutas.com.br/epiphyllum.htm
CAVALCANTE, Arnóbio; TELES, Marcelo; MACHADO, Marlon. Cactos do semiárido do Brasil: guia ilustrado. Campina Grande: INSA, 2013.
MELO, H. C. Plantas: Biologia Sensorial, Comunicação, Memória e Inteligência. 1 ed. – Curitiba: Appris, 2021.