(Português do Brasil) Como argumentar com anticiência (V.6, N.8, P.2, 2023)

Facebook Instagram YouTube Spotify
Reading time: 5 minutes

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

#acessibilidade: Foto de uma parede lateral branca de um estabelecimento que possui a frase “I don’t believe in global warming” pichada, que pode ser traduzida como “eu não acredito no aquecimento global”. Há uma inundação no local tapando as palavras “global warming” na metade de baixo pra cima.

Esse texto foi escrito pelos colaboradores Catarina Garcia Shelkovsky, Vinicius Higuchi e Miguel Piva de Santana para a disciplina Educação Científica, Sociedade e Cultura ministrada pela Profª Dra. Carla Rodrigues de Almeida, que revisou o texto

Pensamento ou atitude contrários ao princípio ou conhecimento científico, essa é a definição de anticiência. A anticiência apresenta argumentos contra pesquisas e teorias científicas, mas sem ter bases teóricas concretas. Infelizmente, tem convencido parte da população, especialmente quem não tem conhecimento profundo do funcionamento das ciências. Esses argumentos usam frequentemente falácias de evidência suprimida, também conhecidas como Cherry Picking, nome em inglês que poderia ser traduzido como “escolher a dedo” – em ciência não podemos escolher só parte dos dados para mostrar, só aqueles dados que reforçam nossa hipótese… mas essa é uma prática comum da anticiência.

Ao propagar inverdades e incentivar a desconfiança na ciência, a anticiência se torna um perigo para toda a sociedade, podendo chegar ao ponto de ameaça à saúde pública e às decisões políticas, como exemplo os movimentos antivacina durante a pandemia da Covid-19.

Com o avanço das tecnologias de telecomunicações, a anticiência conta com mais um impulsionador: a disseminação de informação em uma velocidade jamais vista antes. Com a possibilidade de criação de conteúdos sem rigor científico, a dificuldade da conferência da fonte e da veracidade da notícia, temos um cenário propício para o crescimento da anticiência e divulgação de fake news.

homens usando mascaras cirurgicas e o homem de baixo esta recusando - (Português do Brasil) Como argumentar com anticiência (V.6, N.8, P.2, 2023)
#acessibilidade: Imagem de quatro homens no quadro da imagem, os três de cima estão usando máscaras cirúrgicas, e o homem de baixo está recusando uma máscara oferecida pelo homem da esquerda.

Como argumentar contra a anticiência? 

Dado o potencial dano que os movimentos anticiência podem ter na sociedade, na saúde pública, nas políticas sociais e econômicas, fica evidente que precisamos cada vez mais traçar estratégias efetivas de argumentação para evitar que a opinião pública seja tomada pela desinformação. 

Os movimentos anticiência apresentam um método falacioso para induzir a desinformação, que foi explicitado por exemplo durante a pandemia, em que autoridades afirmaram que o uso de remédios como a Cloroquina e Azitromicina serviriam para o tratamento da Covid-19. Vejam, muitas dessas “autoridades”, apresentavam estudos isolados in-vitro e ensaios clínicos mostrando uma melhora em potencial com o uso das tais drogas. No entanto, ao analisar essas “evidências”, ficou claro que havia diversos problemas metodológicos e conceituais.

Os artigos usados a favor da disseminação dessa fake news, são exemplos do uso da tática argumentativa  da evidência suprimida (cherry picking), ou seja, usar somente os estudos que corroboram com a crença já pré-estabelecida. Nesses casos, mostrar o erro através de artigos científicos confiáveis cai na problemática de que a pessoa acredita já estar munida do conhecimento “científico” dos estudos.

Uma saída interessante é apresentada em um texto divulgado na Scientific American, em que a professora Cornelia Betsch da Universidade de Erfurt diz que entender as falácias usadas pelos movimentos anticiência é um bom meio de mostrar ao interlocutor como os movimentos argumentam e muni-los da capacidade de compreender as tentativas de distorção de evidências científicas.

Resgatando a confiança na ciência

Ao mesmo tempo que podemos concluir que há uma possibilidade em argumentar contra as ideias e os métodos dos movimentos anticiência, é notável também que estes se fundamentam através da ignorância acerca do processo científico e do processo  de construção de conhecimento, o que facilita a proliferação de desinformação. Algo extremamente danoso em uma sociedade tão conectada à ciência. Recuperar a confiança na ciência ou talvez até mesmo construir pela primeira vez a confiança no processo científico é um desafio que devemos enfrentar imediatamente se quisermos resolver os problemas que ameaçam a nossa existência. 

Para desestruturar as bases da anticiência, não há uma saída simples. Como defende Riccardi, é necessário que o processo de ensino e aprendizagem através da educação científica seja prioridade na educação básica e ensino superior e que haja a ampliação de projetos de ciência cidadã, aproximando a universidade da sociedade. 

É fato, no entanto, que o acesso à educação pública no Brasil é extremamente desigual. Então a prioridade é o ensino de qualidade, com a inclusão  paulatina de projetos de educação científica.

O fascínio pela ciência também deve ser estimulado através de obras midiáticas, desde o cinema, os romances de ficção científica, até mesmo em outras formas de arte. A recente estréia e sucesso de Oppenheimer (veja o que falamos recentemente sobre o contexto deste cientista aqui), e o sucesso recente de outros romances históricos e obras de ficção, nos apontam que há na cultura pop (temos uma seção aqui do blog todinha dedicada a isso, o Ciência Pop) um grande espaço para desmistificar a ciência.

 

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Imagem de Matt Brown. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/londonmatt/4203327856/in/photostream/.

Fonte da imagem contida no texto. Fotografada por Sander Sammy na Unsplash.

Guerra, F. M. (2020). Do in vitro ao in vivo: a eficácia da cloroquina no tratamento da COVID-19. Journal of Evidence-Based Healthcare, 2(1), 106–111. Disponível em https://doi.org/10.17267/2675-021Xevidence.v2i1.2960.

Riccardi, P. How to restore trust in science through education. Nat. Phys. 19, 146–147 (2023). Disponivel em: https://doi.org/10.1038/s41567-023-01941-8.

Ciência em xeque: ataques à evidência científica buscam destruir a confiança nas instituições | SBMT. Disponível em: https://sbmt.org.br/ciencia-em-xeque-ataques-evidencia-cientifica-buscam-destruir-confianca-nas-instituicoes/

A volta do pré-iluminismo: quando ‘não se acreditava’ na ciência | SBPC. Disponível em: http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/a-volta-do-pre-iluminismo-quando-nao-se-acreditava-na-ciencia/.

Guerra à Ciência – Parte I – Por que as pessoas não acreditam mais nos cientistas? | Tunes Ambiental. Disponível em: https://tunesambiental.com/guerra-a-ciencia-parte-1-por-que-as-pessoas-nao-acreditam-mais-nos-cientistas/.

How to Debate a Science Denier | Scientific American. Disponível em: https://www.scientificamerican.com/article/how-to-debate-a-science-denier/.

Para saber mais:

Nerdcast 475: Profissão Cientista. Disponível em: https://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-475-profissao-cientista/.

Outros divulgadores:

Sérgio Sacani – https://www.youtube.com/@SpaceToday.

Pirulla – https://www.youtube.com/@Pirulla25.

Nunca vi 1 cientista – https://www.youtube.com/@nuncavi1cientista.

Naruhodo! – https://www.b9.com.br/shows/naruhodo/.

Compartilhe:

Leave a Reply

Your email address will not be published.Required fields are marked *