#acessibilidade: Imagem de Cianótipos preparados pelos integrantes do projeto Ciência em Foto. A imagem mostra diversos papéis redondos sobrepostos. Os papéis são azuis com a imagem de plantas impressas em branco.
Texto escrito por Michelle Mantovani, Maria Beatriz Fagundes, Jhosef Abrantes de Quadros, Sarah Moura de Souza e Luciano Gonsales Caetano do Projeto Ciência em Foto
Uma breve história sobre a técnica da fotografia por cianotipia já foi contada no post “A história de Anna Atkins e as fotos azuis”, aqui vamos falar um pouco sobre a cor azul, que é característica dessa técnica.
Até o século XVIII, as tintas utilizadas na arte da pintura eram obtidas de extratos naturais, mas plantas azuis são muito raras e a produção de pigmentos azuis era muito difícil e custosa. O pigmento azul conhecido como Anil (ou também chamado de Índigo) era obtido a partir da fermentação das plantas Anileiras, encontradas somente na região da Índia.
Anileira (Indigofera tinctoria)
#acessibilidade: A imagem mostra parte de uma anileira. A fotografia foi tirada de um ângulo em que é possível ver mais folhas da parte inferior da planta ao fundo. As folhas da anileira são ovaladas e suas flores de cor rosada.
O Anil ainda é usado no tingimento de calças jeans, mas atualmente quase todo pigmento utilizado industrialmente é produzido em laboratórios, de forma sintética. A fabricação de pigmentos sintéticos, além de alterar as relações de trabalho e a economia das antigas regiões de plantação, também gerou (e continua gerando) impactos danosos ao meio ambiente.
O pigmento azul foi sintetizado em laboratório pela primeira vez nas remotas décadas dos anos 1700s e possivelmente devido a um “descuido” do químico Johann Jacob Diesbach, nascido na Prússia (hoje Berlim, Alemanha). Durante a preparação de um pigmento vermelho, obtido a partir de insetos triturados, Diesbach provavelmente utilizou um reagente contaminado com sangue. O ferro, presente no sangue, produziu uma reação que gerou um produto de cor azul bastante intensa, conhecido hoje como o “Azul da Prússia”.
O nome químico do Azul da Prússia é Hexacianoferrato(II) de ferro(III). Tal nome (um tanto quanto complicado) indica que uma molécula desse pigmento é formada por um íon metálico central coordenado com ligantes ao seu redor, ou seja, por um íon de ferro(II) ligado a seis grupos ciano (-CN) e tendo como contra-íon o ferro(III).
Hexacianoferrato(II) de ferro(III). Autoria própria.
#acessibilidade: Imagem da representação formal simbólica do complexo Hexacianoferrato (II) de ferro (II) em que há a representação de um átomo de ferro ligado a seis grupos cianos (CN) e três destes conjuntos estão ligados a outros quatro átomos de ferro. Há uma seta apontando para o lado direito, onde há um punhado de corante que possui cor azulada, abaixo deste está escrito Azul da Prússia.
Para que a formação do composto de coordenação aconteça e, consequentemente, a cor azul apareça, é necessário que haja transferência de elétrons entre os diferentes sais de ferro utilizados na produção do pigmento. Mas só misturar os sais de ferro não é suficiente… para que a reação se inicie é necessária a presença de luz, pois trata-se de uma reação fotoquímica!
#acessibilidade: Na parte superior da imagem é mostrado o espectro eletromagnético em forma de onda, esta é uma linha com diversos picos e vales que vão ficando mais próximos entre si indo da esquerda para a direita na imagem. Na segunda e terceira linhas são indicados o nome do tipo de radiação de acordo com a distância entre os picos da onda acima e o comprimento de onda em metros. Indo da esquerda para a direita há a radiação de rádio de 10 elevado a 3 metros; microondas de 10 elevado a -2 metros; infravermelho de 10 elevado a -5 metros; visível de 0,5 multiplicado por 10 elevado a -6 metros; ultravioleta de 10 elevado a -8 metros; raios-x de 10 elevado a -10 metros; raios gama de 10 elevado a -12 metros. Abaixo há uma indicação da escala do comprimento de onda, indo da direita para a esquerda há o desenho com o nome abaixo de prédios, pessoas, borboletas, ponta de agulha, células, moléculas, átomos e núcleos. Para finalizar há essa mesma escala do tipo de radiação na unidade de frequência Hertz, indo de 10 elevado a 4 Hertz para o rádio à 10 elevado a 20 Hertz para os raios gama.
Esse tipo de reação precisa de energia para acontecer e essa energia é transportada pela luz, em quantidades diferentes de acordo com a sua frequência. Assim, a absorção dessa energia pelas moléculas provoca a transferência de elétrons do ferro(II) para o ferro(III) iniciando a reação de formação do Azul da Prússia.
Diferentes colorações do pigmento (mais esverdeados ou mais avermelhados) também podem ser conseguidas a partir da interação da luz com outros íons metálicos — como sódio ou amônio — adicionados às soluções de sais de ferro.
Esses compostos quando precipitados são utilizados como pigmentos que determinam as cores das tintas. As soluções de tais compostos, quando aplicados sobre papel e exposto à luz, podem deixar registrados os formatos de objetos colocados sobre o papel, sendo essa a essência da técnica de fotografia por cianotipia. E, ainda, para finalizar, vale destacar que o Azul da Prússia também tem aplicação na medicina, pois ajuda a eliminar o césio e o tálio do corpo de pessoas que foram expostas à radiação!
Fontes:
FIORITO, P.; POLO, A. S. A New Approach toward Cyanotype Photography Using Tris-(oxalato)ferrate(III): An Integrated Experiment. J. Chem. Educ., 2015. DOI: 0.1021/ed500809n
SAMAIN, L. et al. Relationship between the Synthesis of Prussian Blue Pigments, Their Color, Physical Properties, and Their Behavior in Paint Layers. J. Phys. Chem., 2013. DOI: dx.doi.org/10.1021/jp3111327
Fading and Colour Change of Prussian Blue: Methods of Manufacture and the Influence of Extenders. Disponível em: https://www.nationalgallery.org.uk/research/research-resources/technical-bulletin/fading-and-colour-change-of-prussian-blue-methods-of-manufacture-and-the-influence-of-extenders.
Como funciona o azul da Prússia? Disponível em: https://www.cdc.gov/nceh/radiation/emergencies/pdf/infographics/infographic_prussian_blue_pt_br.pdf.
Pequeno manual de cianotipia. Disponível em: https://vergotti.art.br/2017/02/kit-de-cianotipia/.
Índigo Natural. Disponível em: https://www.etnobotanica.com.br/indigonatural.
Para saber mais:
O lendário azul da Prússia, cor que pode salvar ou tirar vidas. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59655123.
Outros divulgadores:
Ciência em Foto. Disponível em: https://cienciaemfoto.proec.ufabc.edu.br/2022/02/blueprint/.