(Português do Brasil) O futuro da carne (V.3, N.8, P.6, 2020)

Facebook Instagram YouTube Spotify

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

Reading time: 5 minutes

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil and Español. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in this site default language. You may click one of the links to switch the site language to another available language.

#acessibilidade Foto de uma vaca preta olhando para a câmera. Em sua orelha direita há uma etiqueta com números e código de barras. Ao fundo pode-se outras vacas.

O consumo de carnes está muito presente na nossa sociedade, porém junto com ele aparecem diversos problemas que às vezes não nos damos conta. A naturalidade com que se compra e se come carne atualmente faz com que às vezes seja esquecido ou até mesmo que não saibamos de onde vem esse alimento e muito menos como ele é produzido e chega até nós.

A criação de gado para abate cresceu muito nos últimos anos no Brasil, e esse fator tem ligação direta com o desmatamento da Amazônia e do Cerrado, já que é preciso espaço para a criação desses animais e também para a plantação de grãos usados como alimentos. [1] Outro fator preocupante é a pegada hídrica da carne. Pegada hídrica é a quantidade de água que é usada para a fabricação de algum produto, segundo a Embrapa a média da pegada hídrica para a carne produzida no estado de São Paulo em 2017 é em média quase 6 mil litros de água para cada kg de carne bovina. [2]

Mais recentemente, com a pandemia do novo coronavírus, a relação do consumo de carnes (de forma geral) com o aparecimento de doenças voltou a ser comentada. Mas esse problema sempre existiu, um relatório da ONU de 2013 mostra que cerca de 70% das “novas” doenças em humanos tinham origem animal, sejam essas doenças vindas diretamente dos animais abatidos ou doenças que podem ser agravadas pelo consumo excessivo de carne. A questão da expansão dos pastos também contribui para o aparecimento de doenças, já que o gado entra em contato com animais selvagens. [3]

Todos esse pontos negativos em relação ao consumo de carne têm impacto direto na população e fizeram com que o número de pessoas vegetarianas crescesse muito nos últimos anos. Uma pesquisa feita pelo IBOPE inteligência e encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) mostra que em 2018 14% dos brasileiros se consideravam vegetarianos, um crescimento de 75% em relação a 2012. [4]

Devido à preocupação com o meio ambiente, os perigos à saúde causados pelo consumo de carnes e o aumento no número de pessoas vegetarianas foi preciso encontrar opções para substituir as fontes de proteínas animal. Algumas empresas, voltadas para o público vegetariano, já possuíam opções de proteínas vegetais a base de grãos. Porém, pensando em pessoas que ainda consomem carnes, mais recentemente, começaram as vendas de proteínas vegetais que possuem textura e gosto de carne, para atrair o público recém vegetariano e até mesmo pessoas que ainda consomem carnes, mas pensam em reduzir o consumo e/ou querem outras alternativas.

Hoje temos três tipos diferentes de “carnes do futuro”. As proteínas plant-based que são feitas a partir de vegetais e grãos. As carnes in vitro que são produzidas em laboratórios a partir de células animais, porém sem que ocorra o abate. E por último as proteínas impressas em impressoras 3D. Todos os tipos contam com muita inovação tecnológica e pesquisa e apresentam diversos prós e contras em relação a fabricação e consumo desses produtos.

As plant-based são as mais comuns, já é possível encontrar em supermercados e compondo cardápios de redes de fast-food e hamburguerias menores. O formato mais comum ainda é o hambúrguer, mas é possível encontrar proteínas que imitam nuggets, linguiças e salsichas. Um ponto muito criticado nesse processo é a questão da quantidade de sódio e do processamento necessário para que esse alimento seja produzido. Nutricionistas compararam marcas de hambúrgueres plant-based e convencionais, o resultado mostra quantidades parecidas de proteínas e de sódio, mas hambúrgueres convencionais são carnes ultra processadas não recomendadas para consumo constante. [5]

As carnes in vitro ainda estão em estudo e trazem com elas muitas polêmicas relacionadas à ética. Basicamente essas carnes são feitas em laboratórios a partir da multiplicação artificial de células. Na série de documentários “Explicando”, da Netflix, tem um episódio relacionado à esse assunto (veja aqui) e as pessoas apresentam uma certa resistência em substituir a carne convencional pela feita em laboratório. Além da questão ética, o preço para produção dessas carnes é muito alto, já que ainda estão sendo desenvolvidas pesquisas mais aprofundadas. Os principais pontos positivos são relacionados à ecologia, já que a pegada ecológica se torna menor, e ao bem estar dos animais, pois nessa opção não existe sofrimento. [6]

Uma nova técnica para produção de alternativas às carnes é a impressão das “carnes” a partir de impressoras 3D. A técnica é muito recente e ainda é preciso muito estudo e pesquisa acerca dela. Os pontos positivos são os mesmos buscados pelas outras técnicas: questão ecológica, bem estar animal e a questão relacionada à saúde pública. Os pontos negativos são de viés cultural e nutricional. A culinária, de forma geral, é uma das marcas que definem diferentes culturas e tradições, alimentos impressos (não só proteínas animais) não precisam do cozimento e da preparação, ao contrário dos alimentos in natura. Na questão nutricional esses alimentos não suprem as necessidades humanas, a não ser que seja preparado de forma personalizada para cada pessoa. [7]

Todas as técnicas apresentam prós e contras, assim como o consumo convencional da carne. O importante é o investimento em pesquisa para que seja possível uma produção limpa e saudável. Mesmo com todas alternativas a diminuição do consumo de carne é necessária tanto para saúde pessoal quanto para a saúde do meio ambiente. E aí? Depois de ler esse texto você está preparado para o futuro da carne?

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Imagem de Alexas_Fotos por Pixabay

[1] AGÊNCIA BRASIL. Produção de carne afeta desmatamento na Amazônia, dizem especialistas. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-08/producao-de-carne-afeta-desmatamento-na-amazonia-dizem-especialistas. Acesso em 26 de agosto de 2020

[2] EMBRAPA. Estudos indicam pegada hídrica de bovinos em confinamento no Brasil. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/21518151/estudos-indicam-pegada-hidrica-de-bovinos-em-confinamento-no-brasil. Acesso em 26 de agosto de 2020

[3] NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Cerca de 70% de novas doenças que infectam seres humanos têm origem animal, alerta ONU. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2013/12/1460081-fao-70-das-novas-doencas-em-humanos-tiveram-origem-animal. Acesso em 26 de agosto de 2020

[4] SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA. Pesquisa do IBOPE aponta crescimento histórico no número de vegetarianos no Brasil. Disponível em: https://www.svb.org.br/2469-pesquisa-do-ibope-aponta-crescimento-historico-no-numero-de-vegetarianos-no-brasil. Acesso em: 25 de agosto de 2020

[5] REVISTA NUTRI ONLINE. A revolução da carne plant-based por Deilys Gonzalez. Disponível em: https://www.revistanutrionline.com/2019/10/03/4-hamburgueres-vegetais-que-voce-precisa-conhecer/. Acesso em 29 de agosto de 2020.

[6] VITAL, A. C. P. et al. Produção de carne in vitro: nova realidade da sociedade moderna. Portal Pubvet. Brasil, v. 11, n. 9, p. 840-946, set/2017.

[7] SUN, J.; PENG, Z.; ZHOU, W.; FUH, J. Y. H; HONG, G. S.; CHIU, A. A Review on 3D Printing for Customized Food Fabrication. In: Procedia Manufacturing, 2015, S. 308–19.

Compartilhe:

Leave a Reply

Your email address will not be published.Required fields are marked *