(Português do Brasil) Petróleo na praia: limpou tá limpo! Certo ou errado? (V.2, N.11, P.1, 2019)

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#acessibilidade Um barril com petróleo derramado na areia da praia com o mar ao fundo.

Nos últimos dias temos visto notícias tristes sobre a contaminação das praias do nordeste brasileiro com petróleo vindo de fontes ainda não identificadas. Análises mostraram a origem do petróleo e que esse seria o tipo de petróleo mais perigoso ao meio ambiente. Essas informações levantam várias dúvidas envolvendo essa substância que, apesar de tão presente em nossas vidas, parece que pouco sabemos especificamente sobre ela.

O que é petróleo?

Petróleo é uma substância formada a partir da decomposição de plantas e animais que viveram em nosso planeta há milhões de anos. A decomposição dessas espécies gerou reservas de petróleo que ficaram armazenadas em diferentes regiões do nosso planeta.

O petróleo é composto por uma mistura de substâncias muito conhecidas por nós como: asfalto, piche, parafina, diesel, querosene, gasolina, éter de petróleo, GLP (o gás de cozinha, composto por propano e butano) e metano (gás natural), entre outras. Essas substâncias estão misturadas para formar o petróleo e é essa mistura que dá a consistência pesada do óleo. Apesar de ter uma aparência pesada, o petróleo é normalmente menos denso que a água e, assim como o óleo de cozinha, fica por cima da água quando os dois são misturados.

Como toda mistura, a composição do petróleo pode mudar de acordo com as espécies que se decompuseram para formá-lo. Dessa forma, o petróleo encontrado em cada região do planeta é diferente, por ter uma composição diferente. Ou seja, para cada tipo de petróleo, a quantidade de cada uma das substâncias que compõe o óleo é diferente, o que influencia suas propriedades, como a densidade. Por terem composição diferente, é possível identificar de onde vem cada amostra de petróleo.

Além disso, é muito comum falarmos de frações do petróleo, mas o que é isso? Fica fácil entender se pensarmos nos produtos que compõem o petróleo. Asfalto, piche e parafina são produtos mais encorpados e constituem a fração sólida do petróleo junto com outras substâncias pesadas. Diesel, querosene e gasolina, entre outras substâncias, fazem parte da fração líquida do petróleo. Por fim, está a fração gasosa, composta por butano, propano, metano e outras. Todas essas substâncias são compostas basicamente por uma cadeia de átomos de carbono e hidrogênio e o que diferencia uma substância da outra é o número de carbonos presente na cadeia. Por exemplo, a parafina é composta por moléculas com mais de 30 carbonos, a gasolina é composta moléculas com 5 a 10 átomos de carbono e o gás liquefeito de petróleo (GLP) é composto por butano e propano, com 4 e 3 átomos de carbono em suas cadeias respectivamente. Além de carbono e hidrogênio, átomos de nitrogênio, oxigênio, enxofre e de metais também estão presentes petróleo.

Quanto maior a quantidade da fração composta por moléculas com cadeias longas de carbono, mais denso será o petróleo. Essa variação da composição e, como consequência, densidade do óleo, leva o petróleo a ser classificado como leve, médio, pesado ou extrapesado. O petróleo extrapesado é mais denso que a água, portanto afunda quando colocado em água.

E qual o impacto do petróleo encontrado nas praias?

Análises feitas por laboratórios de várias universidades brasileiras especializados em petróleo foram eficazes na identificação da origem do petróleo que tem aparecido em várias praias da região nordeste do Brasil nos últimos 2 meses. Os estudos mostraram que esse petróleo é do tipo extrapesado, motivo pelo qual o óleo não aparece como uma mancha por cima da água. Devido à alta densidade, esse petróleo afunda na água e é carregado pelas correntes marítimas, só ficando visível quando chega a áreas mais rasas, ou seja, quando está próximo da costa. Infelizmente, quando atinge essa região, a remoção do petróleo passa a ser um ato de remediação e não de contenção, o que significa que muito mal já foi causado ao ambiente marítimo. O fato de o petróleo extrapesado ser rico em moléculas com cadeias mais longas de carbono, que podem ser quebradas e permanecer por mais tempo no meio ambiente, faz desse tipo de petróleo o mais prejudicial ao ecossistema.

Limpar o óleo da praia resolve?

As imagens das ações da população para limpeza das praias atingidas podem, erroneamente, dar a impressão que a limpeza é simples e eficaz, mas isso não é verdade. Por ser composto de várias frações, parte do petróleo consegue se solubilizar na água do mar, contaminando peixes, moluscos e plantas. Além disso, mesmo com a retirada da parte mais pesada do petróleo da areia das praias, é possível que a parte mais leve do óleo tenha penetrado na areia, deixando um rastro de contaminação invisível.

Para fazermos uma comparação, imagine um copo de água ao qual misturamos um pouco de gasolina. Após agitarmos a solução, como a gasolina e a água tem densidades e propriedades diferentes (enquanto a água é uma molécula polar, a gasolina é apolar e, por essa razão, existe pouca interação entre essas substâncias, o que as torna imiscíveis), a solução se separa em duas fases, sendo a de baixo água, que é mais densa, e a de cima gasolina, mais leve. Olhando para esse copo com as duas fases, você se sentiria confortável para tomar a água da parte de baixo, mesmo sabendo que a gasolina ficou na parte de cima? Imagino que não, pois seria capaz de sentir o cheiro da gasolina na água mesmo após a remoção a parte de cima. Isso acontece porque, apesar de haver uma separação devido à diferença de densidade e outras propriedades, uma pequena parte da gasolina consegue se solubilizar na água.

Transferindo essa situação para o que está ocorrendo na região nordeste, apesar de parecer que o petróleo não se mistura à água, uma pequena parte deste que, como vimos anteriormente, contém gasolina, diesel, querosene e outras substâncias, consegue se solubilizar na água do mar, contaminando as espécies presentes no ecossistema, pois, diferente de nós, que podemos escolher não tomar a água do copo com gasolina, os habitantes do mar não têm essa opção.

Dessa forma, além da contaminação visível, não podemos deixar de pensar na contaminação que não vemos facilmente, mas que pode afetar muito o meio ambiente e chegar indiretamente à população, por meio dos peixes e moluscos, que podem ter sido contaminados, ou pela areia, que absorveu parte do óleo que chegou às praias e pareceu ter sido removido pelas ações de uma população preocupada e prestativa.

Fonte:

Fonte da imagem destacada: HO/Ademas/AFP

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