#acessibilidade Imagem ao microscópio eletrônico de quatro coronavírus. Aparecem como quatro círculos sólidos e claros, completamente margeados por pequenas manchas claras como se fossem pequenas flores com grandes miolos e pétalas pequenas.
Pois é! Como costumamos dizer no Brasil, o ano de 2020 começou mesmo depois do Carnaval! Ouvimos de dentro de nossas casas a notícia que o primeiro caso confirmado de COVID-19 foi registrado no Brasil. Logo depois veio a recomendação: evite aglomerações! Mas uns dias antes era Carnaval! Foliões vieram de todas as partes do mundo e justamente aglomeraram-se nas ruas e em salões para curtir o samba e uns aos outros. Ah se tivesse sido uma semana atrás… E agora? Será que o surto será de grandes proporções? Provavelmente. E por que não seria?
Não seria, porque o vírus “não gosta” de calor. Estão dizendo até que morre em temperaturas de 26 graus. É mesmo? Então vamos começar a organizar as coisas. Você aprendeu na escola que mamíferos tem sangue quente e que nós somos mamíferos. Lembra qual a temperatura do nosso corpo? Mais ou menos 36,5 graus. Assim, se o novo coronavírus morresse aos 26, não haveria surto. O que acontece é que fora do corpo, o tempo de duração do vírus pode variar e é maior, podendo alcançar até 9 dias quando o local é fresco e úmido (veja aqui algumas respostas a fake news que estão circulando nas redes). Além disso, embora estejamos em um país tropical, as temperaturas do sudeste e sul do Brasil estão beirando justamente aquelas favoráveis à dispersão do vírus. Aproxima-se o outono e o período de crises respiratórias causadas principalmente por outros vírus com os quais convivemos há mais tempo – os da gripe.
Infelizmente, o novo coronavírus apresenta uma das estratégias de transmissão das mais eficientes em se tratando de doenças. O vírus fica concentrado nas vias aéreas superiores no início da infecção, ou seja, nariz, boca e garganta, e pode ser transmitido ainda que a pessoa infectada não apresente sintomas. Depois de mais ou menos uma semana é que a infecção se aprofunda e as partículas virais passam a aumentar em número nas vias aéreas inferiores, especialmente na traqueia, brônquios e pulmões. Nessa fase os sintomas são claros e a doença se agrava, podendo levar a um quadro de pneumonia e óbito. Isso não significa que todos que forem infectados com o novo vírus ficarão doentes. E nem que todos os doentes passarão para a fase grave da doença. A letalidade do COVID-19 é relativamente baixa (cerca de 3%) quando comparada com outras doenças tropicais com as quais convivemos. A febre amarela tem taxa de letalidade de 30% por exemplo. E, exatamente matar menos é que o faz tão eficiente em termos de dispersão. As pessoas infectadas transmitem o vírus desde o início e não ficam tão doentes a ponto de interromperem suas rotinas. Assim, quanto mais contatos tiverem, mais o vírus se espalha.
Também é fato que o mais provável seja uma transmissão rápida, numerosa e de ampla escala no Brasil e conforme o número de infectados e pessoas recuperadas da doença aumentar, o surto deve se tornar mais ameno. Teremos provavelmente mais um vírus circulante convivendo conosco e causando desconfortos eventuais. “Mas o número não é assustador?” Sim, concordo. Milhares de pessoas foram infectadas. Mas até antes do carnaval estava tudo bem contigo? Porque vou apresentar outros números assustadores. De 29 de dezembro de 2019 até 01 de fevereiro de 2020 tivemos no Brasil 94.249 (94 mil!) casos de pessoas infectadas com o vírus da dengue. No exato mesmo período, 11.953 pessoas infectadas pelo novo coronavírus no mundo inteiro. Hoje esse número soma 82.294. A dengue ainda está ganhando!
A lição aqui é lidar com as informações com cautela e perspectiva. Todo dia temos casos novos de dengue surgindo no Brasil e essa informação nem sequer chega até você. Continuamos cheios de repelentes e telas protetoras contra mosquitos disponíveis para compra no mercado. No entanto, um caso confirmado de coronavírus levou à falta das máscaras cirúrgicas nas principais redes de farmácia do país. Mais do que usar máscaras, as medidas de higiene são mais efetivas para proteção. São muito parecidas com aquelas que evitam outras doenças respiratórias, como gripes e resfriados. Evitar locais fechados, em que não haja circulação natural de ar, lavar as mãos com frequência, evitar contato com pessoas doentes e manter a saúde em dia. Como? Boas noites de sono e alimentação saudável ajudam a manter o sistema imunológico forte e é ele que nos defende de agentes externos que nos deixam doentes. Além disso, superfícies como corrimão e maçanetas podem ser limpas com álcool 70% (álcool gel não vai adiantar se for fraco) e desinfetantes que contenham cloro (Kampf et al 2020). Não há informação testada que indique que o vinagre (ácido acético) funcione. Não arrisque.
Infelizmente não são todas as pessoas que têm condições de manter a saúde em seu dia-a-dia com cuidados simples. Pessoas com doenças pré-existentes, como doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, pressão alta, asma, estão mais susceptíveis a desenvolver a fase grave da doença, bem como idosos (Chen et al., 2020). Ainda assim, a letalidade é relativamente baixa, em torno de 6% a 8%. Ao que parece, a distribuição de renda também pode afetar o risco imposto por doenças respiratórias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS ou WHO, em inglês) doenças respiratórias agudas são a primeira causa de morte em países pobres, enquanto são a quarta considerando todos os países do mundo. Proteja-se, portanto, não só por você, mas também pelos outros. Não há motivo para pânico, mas há motivo para cuidado e empatia.
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Photo Credit:Content Providers(s): CDC/Dr. Fred Murphy / Public domain
Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico 07: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/fevereiro/19/Boletim-epidemiologico-SVS-07.pdf
World Health Organization (WHO). Report 1 February: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200201-sitrep-12-ncov.pdf?sfvrsn=273c5d35_2
World Health Organization (WHO). Informativo: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/the-top-10-causes-of-death
Jornal da USP contra Fakenews: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/veja-as-mensagens-que-andam-circulando-sobre-coronavirus-e-por-que-elas-sao-fake/
Para saber mais:
Confira outros textos do Guia sobre a COVID-19
Outros divulgadores:
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Podcast Dragões de Garagem #179 – Coronavírus
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