Dia Mundial dos Oceanos: Estamos Sufocando os Mares? (V.8, N.6, P.2, 2025)

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Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade: A imagem mostra uma praia poluída com lixo, incluindo garrafas plásticas, uma lata e um galão amarelo jogados na areia. Há também vegetação e detritos espalhados. Ao fundo, vê-se o mar com pequenas ondas, moitas de capim aquático e uma cidade no horizonte sob céu azul.

Texto pela colaboradora Sofia Brogliato Martani

No dia 8 de junho é comemorado o Dia Mundial dos Oceanos, data criada pela ONU em 2008 para celebrarmos e refletirmos sobre a importância do maior ecossistema do mundo!

Cobrindo 70% da superfície da Terra, os oceanos são divididos em cinco partes de acordo com suas características geográficas e propriedades físicas, sendo eles os oceanos Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e Antártico. Porém, é fácil de imaginar o quão difícil é estudar essa parte do nosso planeta. Cientistas estimam que somente de 5% a 19% do oceano foi mapeado até o momento e que identificamos somente ⅓ de toda sua biodiversidade! 

Este enorme corpo de água salgada é essencial para diversas atividades humanas, gerando benefícios conhecidos como serviços ecossistêmicos marinhos. Entre eles, podemos citar a obtenção de alimento por meio da pesca, a realização de atividades de lazer, que atraem e movimentam o turismo em regiões costeiras, a produção de oxigênio e sequestro de carbono, regulação da temperatura da Terra, além de, é claro, ser o lar de diversas espécies animais e vegetais únicas. 

Apesar de sua importância ser amplamente reconhecida, este ecossistema é um dos que mais sofre em decorrência das atividades humanas, responsáveis por uma destruição em massa de diversos habitats e suas espécies. Práticas pesqueiras predatórias e excessivas, o aumento da temperatura dos oceanos em decorrência das mudanças climáticas, atropelamento de animais por embarcações, poluição plástica e muitos outros fatores nocivos aos oceanos estão colocando em risco a sobrevivência de milhares de seres vivos. Consequentemente, isso afeta a vida humana, socialmente, culturalmente e economicamente. 

O plástico é um dos grandes vilões contemporâneos, e seu papel em relação à saúde dos oceanos não seria outro. Pesquisas mostram que em torno de 0.3% de todo o plástico produzido no mundo eventualmente acabará nos oceanos, problema que é intensificado pelo fato desse material não ser biodegradável. Mesmo sua fragmentação em partículas menores é dificultada pelo ambiente marinho, já que a salinidade e baixas temperaturas retardam esse processo. Plásticos descartáveis leves flutuam e se acumulam em regiões costeiras, se tornando um problema tanto para a população local quanto para a fauna, sendo comuns os casos de pássaros e tartarugas marinhas encontrados mortos após ingerirem sacolas plásticas. 

Mas o plástico não vem apenas do uso cotidiano. Na verdade, uma das maiores preocupações é em relação a resíduos da indústria pesqueira, principalmente com anzóis, linhas e redes de pesca “perdidas” nos oceanos. Esses materiais causam lesões graves em diversos animais marinhos, como tartarugas, golfinhos e baleias, que podem sofrer amputações, asfixia e morte lenta por emaranhamento, já que ficam impedidos de ir à superfície para buscar ar ou se alimentar. A ingestão de linhas de pesca, por exemplo, também provoca danos diretos aos animais, gerando danos ao sistema digestivo, impedindo que os alimentos sejam corretamente digeridos e seus nutrientes absorvidos, levando ao mau desenvolvimento e à morte precoce.

Outro grande problema são os conhecidos microplásticos, encontrados em grande quantidade nos oceanos. Estudos já mostraram que esse poluente é encontrado em todas as camadas dos oceanos, já que os diversos tipos de plásticos com diferentes densidades permitem que essas partículas possam tanto flutuar na superfície, quanto afundar para camadas profundas, afetando a vida marinha como um todo. Por serem partículas muito pequenas, acabam se tornando parte indesejada da dieta de pequenos seres marinhos, como plânctons e outros pequenos invertebrados como moluscos, por exemplo, o que gera um impacto em toda a cadeia alimentar. Isso porque animais maiores, como peixes e mamíferos aquáticos, se alimentam destas pequenas criaturas e, como o plástico não se degrada facilmente, acaba se bioacumulando nos organismos desses animais. Estudos também mostram que compostos tóxicos presentes nos plásticos, como BPA e ftalatos, são potencialmente perigosos para a fauna.

O Brasil possui uma das maiores áreas costeiras do mundo, com 7.367 quilômetros de litoral banhado pelo Oceano Atlântico, abrigando uma biodiversidade rica e com mais de 50% da população do território nacional vivendo nessas regiões. Infelizmente, o país ainda é o maior poluidor dos mares da América Latina, sendo o plástico o principal resíduo descartado.

Neste Dia Mundial dos Oceanos devemos nos conscientizar sobre os impactos ambientais que causamos, reavaliando nossas atitudes pessoais e coletivas, mas principalmente cobrando atitudes de nossos representantes para garantirmos um futuro justo e sustentável. O Guia dos Entusiastas da Ciência agradece a todos os pesquisadores e profissionais que se dedicam a entender e proteger nossos oceanos e nosso planeta! 

Referências:

Dia Mundial dos Oceanos, gov.com

Biodiversidade marinha, Fundação Mamíferos Aquáticos

What is Ocean Biodiversity, Unesco

10 motivos para proteger os oceanos e a vida marinha, Oceana

“IBGE: mais de 50% da população brasileira vive perto do mar”, Agência Brasil

https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S0960-9822%2817%2930289-0

https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S2405-8440%2820%2931552-8

https://www.researchgate.net/publication/268187066_Editorial_Plastic_Pollution_An_Ocean_Emergency

Outros textos do Guia:

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