(V.6, N.1, P.1, 2022)

Facebook Instagram YouTube Spotify

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

Reading time: 5 minutes

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

#acessibilidade: ilustração de um vírus tipo corona e um frasco de medicamento

Texto escrito por Artur Franz Keppler

Antes de falar sobre o medicamento, tema deste artigo, vamos dar um breve giro pelo assunto Covid-19.

Uma boa parte da população brasileira está vacinada. Temos uma barreira imune que mostrou inegável eficácia, reduzindo drasticamente o número alarmante de mortes e internações causadas pelo Sars-CoV-2.[1] Uma parcela dos nossos conterrâneos não se vacinou, outros não concluíram o esquema vacinal e outra parte não teve uma resposta imune esperada depois das doses recomendadas. Os seres humanos se comportam de maneiras diferentes e respondem de maneiras diversas a um estímulo, neste caso, à vacina. Independentemente das ideologias negacionistas e do posicionamento refratário quando falamos de ciência, fomos salvos coletivamente pela valente campanha de vacinação brasileira e pelo Sistema Único de Saúde,  o SUS.[2]

Assim como ocorre com as gripes, sabe-se que mesmo imunizados, ainda existe o risco de nos contaminarmos novamente pelo Sars-CoV-2. Quem está com a carteirinha em dia, tem menos chance de desenvolver sintomas graves de síndrome respiratória. Estudos médicos ainda não conseguem prever quais sequelas ficarão em nosso organismo após a infecção pelo  Sars-CoV-2.[3] Com a intensificação da circulação do vírus, mesmo vacinados, devemos voltar a usar máscaras, higienizar as mãos com álcool em gel e evitar aglomerações.

Vamos ao Paxlovid. No final de março de 2022, a ANVISA liberou o uso emergencial deste antiviral, de uso oral, para o tratamento de pacientes acometidos pelos Sars-CoV-2. A recomendação é administrá-lo no tratamento de adultos que não requerem oxigênio suplementar e que apresentam risco aumentado de progressão para Covid-19 grave . Ponto importante:o medicamento deve ser administrado, assim que possível, após resultados positivos de teste viral direto de SARS-CoV-2, e no prazo de 5 dias após o início dos sintomas”.[4] O Paxlovid é um coquetel e tem na sua formulação dois IFA’s (ingrediente farmacologicamente ativos): nirmatrelvir e ritonavir. O primeiro é um antiviral específico para o SarsCov-2, que inibe uma enzima importante na replicação viral e o segundo tem como função inibir uma enzima humana, o citocromo P450, que detoxifica nosso organismo, oxidando tudo o que entra de estranho no nosso corpo. Então por que inibir essa enzima tão importante para nosso organismo durante o tratamento? Os pesquisadores perceberam que o nirmatrelvir era degradado rapidamente pela P450. Dessa maneira, ao inibí-la, foi possível manter uma concentração sanguínea adequada do nirmaltrelvir durante o tratamento.

Dados clínicos certificam que Paxlovid é extremamente eficiente contra o vírus. Mas tem dois problemas, que valem o comentário:

A. Preço: No Brasil, o tratamento (uma caixa com 30 comprimidos) pode ser adquirido por R$ 4.856,73 (aqui a fonte). 

B. Complexidade do tratamento: Imagine que você tem esse dinheiro.[5] Apesar de estar liberada a venda nas farmácias brasileiras (a partir de novembro de 2022), ela é feita apenas sob prescrição médica. Conseguir uma receita médica, qual é a complexidade? Vamos por partes. Primeiro, você tem que saber se está contaminado e para isso, tem que fazer um teste.[6] Testagem em massa é algo que jamais tivemos no Brasil. Sigamos: você fez seu teste por conta própria e agora terá que agendar uma consulta para que o médico possa receitar o medicamento. Mesmo cobertos por um plano de saúde, pacientes podem ter que esperar dias para conseguir o contato com um profissional médico. Para aqueles que usam o SUS, o prazo pode ser maior, a depender da região. Consideremos que até aqui, estejamos no 5o. dia de contaminação, prazo limite para o início do tratamento com o Paxlovid. Você está no consultório médico. Será iniciada uma análise cuidadosa da sua ficha médica, pois o Paxlovid tem uma série de restrições de uso, por conta da sua interação com diferentes componentes presentes em medicamentos usados no tratamento de sintomas de doenças comuns como alergias, doenças cardíacas, pressão alta, hiperplasia de próstata, câncer, enxaqueca, problemas renais, enfim, a lista é enorme.. Isso significa que, se utilizado indiscriminadamente, o Paxlovid pode não funcionar ou causar efeitos colaterais para o paciente. Se alguma peça dessa engrenagem falhar, o quadro clínico do paciente pode piorar. No hospital, ele não poderá usar o Paxlovid. Mesmo que não piore, passou do 5o dia, o paciente também não poderá usá-lo.

Por conta dessa complexidade, na terra do Rei Charles III, caixas de Paxlovid compradas pelo governo inglês, estão acumulando poeira nas prateleiras.[7] Sendo muito realista, é possível antecipar que o mesmo vai acontecer aqui no Brasil. 

Perguntas e respostas para ansiosos: O Paxlovid é um medicamento seguro? Sim, uma vez tomadas as devidas precauções. Ele é eficiente contra o vírus? Sim, de fato é o único medicamento realmente eficaz contra o vírus.[8] Sem sombra de dúvidas é uma ferramenta poderosa contra o Sars-CoV-2, mas não é universal. Não é profilático (preventivo) nem pode ser usado quando você tem dúvidas se está ou não contaminado. Todas as questões levantadas em relação ao custo alto de produção e venda, complexidade dos trâmites até que se inicie o tratamento indicam que devemos continuar a investir em pesquisa, buscar outros fármacos, mais seguros e de mais simples administração, para que seja acessível e diminua o risco e os custos de internações hospitalares.

 

NOTAS E REFERÊNCIAS:

  1. Perdemos 691 mil brasileiros até o presente momento, sem contar tantos outros acometidos por sequelas ou distúrbios psicológicos, decorrentes de traumas e incertezas sobre o futuro. Perda de renda, perda do lar, insegurança alimentar… se compararmos o que foi feito para superar as mazelas decorrentes da pandemia em relação ao que foi investido no orçamento secreto ou ao financiamento público da campanha eleitoral de 2022, o resultado é um absoluto nada (ou algo próximo de nada)..
  2. lembremos que o SUS gerenciou a distribuição das vacinas e cuidou (e custeou o tratamento) de grande parte dos pacientes internados com o vírus Sars-CoV-2
  3. No vídeo do Átila Iamarino, https://youtu.be/1fd1e6m4v_k , é possível ouvir uma explicação sobre os riscos relativos de ficar com sequelas, comparando pessoas vacinadas e não vacinadas. Avancem até o minuto 44 caso queiram ir direto ao ponto. 
  4. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/paf/coronavirus/medicamentos/paxlovid-nirmatrelvir-ritonavir,  acessado 14.12.22
  5. Se você não tem 5000 reais para custear o tratamento com o Paxlovid, não se preocupe, o governo brasileiro já comprou 100 mil caixas do medicamento e elas serão distribuídas pelo SUS.
  6. Se você for assintomático, como saber quando foi a contaminação? Eis outro problema.
  7. https://www.ft.com/content/0eb0b444-c516-4abf-85a2-8cc9326cf84e, acessado 02.12.22
  8. Existe também o Molpunavir, da Merck, que diminui a chance de morte e hospitalização em 30% quando o paciente está com o vírus Sars-CoV-2. Em comparação, o Paxlovid diminui os riscos em 89%.
Compartilhe:

1 thought on “(V.6, N.1, P.1, 2022)

Leave a Reply

Your email address will not be published.Required fields are marked *