#acessibilidade: ilustração de um lutador de luta livre, identificado como “ciência”, pulando para cima de uma caixa, identificada como “morte”, em um ringue.
Você já parou para pensar em como relacionamos vida a movimento? Diante de um animal atropelado na estrada, inteiro, e da pergunta: Está vivo? É provável que a resposta seja:
— Acho que não. Não está se mexendo.
— Tem certeza? Está respirando? E você vai se aproximar e tentar verificar bem de pertinho algum movimento…se se mexer, vai levar um susto e dizer:
— Está vivo!
Embora possa parecer simples, definir quando um ser vivo morre tem se tornado uma questão cada vez mais complexa. O desenvolvimento da ciência e tecnologia tem ampliado significativamente os horizontes das discussões relacionadas à vida e à morte. Antes da tecnologia, o coração parava de bater e estava caracterizada a morte. Na falta de equipamentos acurados, estabelecer a falta de batimentos cardíacos de vez em quando gerava enganos. Quem nunca ouviu falar de pessoas que se levantaram do caixão no velório ou que foram enterradas vivas? Imagina-se que tenham sido casos de catalepsia patológica, condição que provoca paralisia, rigidez muscular e perda de sensibilidade à dor. A catalepsia normalmente dura poucos minutos, mas pode durar muitas horas. Aparentemente, a vigília dos cadáveres por horas antes do enterro tinha a função de prevenir tristes enganos. Alternativas adicionais foram propostas, como enterrar o corpo com uma corda amarrada a um sino. Caso o morto estivesse vivo, poderia acionar o sino e ter uma chance de ser socorrido.
Ainda hoje é comum que as famílias aguardem pelo menos 24hs para enterrarem seus entes queridos, às vezes mais, mas o motivo agora é aguardar parentes que moram longe chegar às homenagens ou religioso. A tecnologia recente é muito mais precisa ao determinar a morte de um corpo e ninguém corre o risco de ser enterrado vivo. Por outro lado, temos aparelhos que permitem que a respiração permaneça e o coração continue batendo artificialmente. A morte cerebral passou a ser utilizada para determinar o ponto de não retorno que permitiria o desligamento dos aparelhos e o encerramento do prolongamento artificial das atividades do corpo. No entanto, os limites podem ser difíceis de estabelecer e é preciso suporte técnico e jurídico para definir a escolha por ligar e desligar aparelhos (Nitkin, 2017).
A definição de morte, seja por parada cardíaca, seja por morte cerebral, tem balançado nos últimos anos. Existe um interesse científico e social enorme em superar esse processo. Descobrimos cada vez mais organismos capazes de resistir a condições extremas, como altíssimas temperaturas, congelamento, ambientes extremamente cáusticos ou extremamente ácidos e até capazes de sobreviver à radiação no vácuo. A invencibilidade desses organismos é estudada como um caminho promissor para contornarmos danos causados às nossas próprias células. Recentemente, descobriu-se que tardígrados (Fig.1), um dos animais quase imortais do planeta, resistem a temperaturas maiores que 100 °C, ao zero absoluto, aos raios-X e a longos períodos de desidratação – tudo isso porque esses pequenos seres apresentam proteínas que protegem diretamente seu DNA (Bittel, 2016). Testes indicaram que injetar tais proteínas em células humanas, também confere proteção ao nosso próprio DNA. Promissor, não?
#acessibilidade: Foto em tons de cinza que inclui um animal alongado e roliço, de aparência segmentada, com expansões semelhantes a patinhas saindo de cada segmento.
Se você ainda não estiver impressionado o suficiente, em 2019, pesquisadores conseguiram reativar mecanismos celulares de cérebros de porcos que haviam morrido a quatro horas. A continuidade da pesquisa levou ao resultado publicado na revista Nature neste mês de Agosto, em que reativaram a circulação e o funcionamento do fígado, rins e coração de cadáveres de porcos, mortos já há uma hora (Koslov, 2022)! O cérebro também voltou a apresentar atividade, mas descoordenada, indicando que não houve recuperação de consciência ou senciência. Será que em breve ressuscitar os mortos será uma opção?
Fontes:
Métodos bizarros de comprovar a morte na era vitoriana
Pig organs partially revived in dead animals, researchers are stunned