(Português do Brasil) Estratégias para inclusão na Academia (V.5, N.6, P.2, 2022)

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#acessibilidade Desenho representando dois caminhos identificados por placas. No da direita da imagem há uma placa indicando “Homens” e há uma estrada limpa e com flores. No lado esquerdo da imagem há uma estrada com a placa indicativa de “Mulheres”. Nessa estrada há escorpiões, uma fenda e pedras pontiagudas. Uma mulher ao centro lê as placas.

Você sabia que academia não é só aquela que você usa para treinar seus músculos? (ou aquela que você paga e não vai enquanto assiste um filminho culpado no sofá…shhh). Então, academia também é o termo que define locais ou grupos de estudos de assuntos científicos, literários ou artísticos. Cientistas fazendo ciência nas Universidades brasileiras são acadêmicos, por exemplo. E aposto que enquanto você lia ou ouvia esse texto, apareceu a imagem de um cientista em sua mente que era homem, de meia idade, branco, meio descabelado e provavelmente usando um avental. Pois é! É sobre esse viés que vamos conversar. Você sabia que lá no ingresso dos cursos de graduação o número de mulheres é igual ou muitas vezes maior que o número de homens? Mas depois, ao longo da carreira, na formatura, pós-graduação, cargos acadêmicos e de chefia, homens, cis-gênero e brancos predominam. Por quê?

Acaba de ser publicado na revista Nature Communications, muito renomada na academia, um trabalho escrito por 28 acadêmicas brasileiras, entre elas a Profa. Priscila Barreto de Jesus, da Universidade Federal do ABC, que trata justamente deste viés nas áreas conhecidas como STEM (em inglês: science, technology, engineering and mathematics): ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O trabalho não só aponta vieses em relação a mulheres, mas também a pessoas que não se identificam com os gêneros binários definidos pela anatomia ao nascimento; a estrangeiros, especialmente aqueles oriundos de outros países que não aqueles localizados no Hemisfério Norte; a pessoas negras, indígenas, não-heterossexuais e com deficiências. As autoras propõem com uma linda metáfora relacionada ao desenvolvimento de plantas, estratégias para aumentar a inclusão na academia: semear, germinar e fazer florescer a inclusão com estratégias que venham desde o ensino básico.

Se você leu (ou ouviu) até aqui e é mulher, ou parte de alguma ou vários dos grupos sub-representados mencionados acima, tenho certeza que se reconhecerá, acadêmica ou não, no texto do manuscrito. Se você é homem, branco, cis-gênero e heteronormativo, e pretende seguir, ótimo! Mas se está começando a sentir uma certa resistência, se está achando esse texto exagerado, que não é bem assim, será que não está descobrindo seu viés até então inconsciente? Em resumo, existem diversos trabalhos científicos que mostram que a presença de uma maioria masculina, cis-gênero, heterossexual e branca na academia e em corpos editoriais de revistas científicas gera dificuldade de acesso a grupos minoritários a cargos de poder e prestígio. Esses grupos, embora estejam presentes nas fases iniciais da carreira científica, vão sendo eliminados por um contexto de dificuldades ao longo do trajeto. Ou seja, a presença desses homens em cargos de poder e prestígio determinam que o acesso a essas posições, continue sendo somente de outros homens, brancos, cis e heteronormativos. O contexto é complexo e envolve uma sociedade com cultura de dominação, patriarcal e racista. Precisamos mudar isso! Não porque os grupos mencionados acima precisam de favor ou ajuda para chegar onde quiserem chegar, mas porque o justo é que tenham espaço para manifestar todas as suas competências, sem precisar enfrentar o dobro ou triplo de dificuldades para chegar ao mesmo lugar.

Como fazer isso? Semeando ciência ao encorajar meninas desde a primeira infância à investigação, desafios lógicos e pensamento crítico, usando brinquedos e representatividade em desenhos, livros e filmes. Germinando cientistas ao incentivar meninas em estágios iniciais de carreira, e orientadores que promovam equidade na seleção de alunos, na rede de colaboradores e na promoção de posições de prestígio e liderança. Florescendo exemplos ao apoiar, fomentar e divulgar o trabalho de mulheres em posições de liderança e prestígio. A gente começa tomando consciência e segue, agindo. Grata pelo ótimo trabalho meninas!

Fonte:

Fonte da imagem destacada: Modificada de freepick por Vanessa Verdade

Diele-Viegas et al. 2022. Community voices: sowing, germinating, flourishing as strategies to support inclusion in STEM. NATURE COMMUNICATIONS. https://doi.org/10.1038/s41467-022-30981-6

Lies. Faculdade do Japão fraudou notas para admitir menos mulheres em medicina. (2018) 

Ronan e Rodrigues. Estudante da Ufop tem mestrado reconhecido após perder título por gravidez. (2022) 

 

Para saber mais:

Chimamanda Ngozi Adichie. Para educar crianças feministas. 2017. Um manifesto. Companhia das Letras.

Ignotofsky, R. 2017. As cientistas que mudaram o mudam. Tradução de Sonia Augusto. Ed. Blucher

 

Outros divulgadores:

Algas por Elas (Facebook) (Instagram)

Cientista que virou mãe

Menina Ciência Ciência Menina UFABC

Meninas na ciência 

Parent in Science 

Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência (Facebook) (Instagram)

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