(Português do Brasil) Ela é porta-voz de quem nunca foi ouvido (V.4, N.8, P.3, 2021)

Facebook Twitter Instagram YouTube Spotify

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil and Español. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in this site default language. You may click one of the links to switch the site language to another available language.

Reading time: 3 minutes

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

#acessibilidade A pesquisadora Rachel Hardeman em uma foto retrato ministrando uma palestra.

Geralmente, ao pensarmos em cientistas geniais, nos vem à cabeça uma imagem de uma pessoa velha, provavelmente branca, talvez um homem. E se eu te dissesse que dá pra ser genial com “apenas” 11 anos de carreira, sendo mulher e negra? Alguns já sabem, quando uma mulher negra cresce, ela leva toda uma galera junto. Pra outros, vale essa surpresa.

Pois Rachel Hardeman é essa mulher. Estadunidense e professora associada na Universidade de Minessota, a doutora Hardeman acumula dezenas de publicações sobre o sistema de saúde do país e tem concluído uma coisa mais legal que a outra. Dentre os títulos dos artigos, vemos: “Decisões sobre a prescrição de analgésicos são influenciadas pelo cargo (enfermeira ou médica) e pelo gênero, idade e etnia de paciente”, ou ainda, “O valor do contato inter-racial na formação médica para reduzir o viés racial”. Rachel se tornou essa pesquisadora engajada e, junto com ela, crianças, mães e profissionais da saúde crescem junto.

Já sabíamos por trabalhos brasileiros que mulheres negras recebem menos anestesia durante o parto que mulheres brancas. Mas o que Rachel nos mostrou em um de seus trabalhos foi o aumento na sobrevivência de bebês negros quando cuidados por profissionais da saúde também negros, o que ela chamou de concordância racial. O contrário, porém, não é verdade. Bebês brancos, que já apresentam uma taxa de mortalidade inferior à de bebês negros, não têm menor chance de sobreviver quando cuidados por profissionais negros.

Vamos aos números. Os cálculos originais foram feitos a cada cem mil crianças, mas vamos pensar a cada mil crianças. O número de mortes de crianças recém-nascidas é um pouco mais que o dobro para crianças negras, mais especificamente, 4,6 para crianças brancas e 10,8 por mil para crianças negras.

No estudo sobre concordância racial, foram analisados dados de hospitais da Flórida entre 1992 e 2015. A amostra tinha 1,35 milhões de recém nascidos brancos e 460 mil recém nascidos negros. As taxas de mortalidade foram 2,89 por mil e 7,84 por mil, respectivamente. Uma baita diferença, não? Agora, quando acrescentamos a informação sobre a raça da equipe de atendimento, foram calculadas 4,3 mortes a mais a cada 1000 bebês para recém-nascidos negros cuidados por brancos.

No gráfico, foram calculadas as diferenças entre os dados e o modelo linear, que foi feito com base nas crianças brancas tratadas por equipes médicas brancas. Quanto maior a diferença em relação ao modelo, maior o efeito da concordância racial. Fica nítido o efeito do viés da equipe médica branca em crianças negras, com um coeficiente de mortalidade de quase 0,5.

coeficiente de mortalidade - (Português do Brasil) Ela é porta-voz de quem nunca foi ouvido (V.4, N.8, P.3, 2021)

#acessibilidade Gráfico de coeficientes estimados. No eixo y vê-se o valor do coeficiente e no eixo x as categorias analisadas. Uma linha horizontal vermelha marca o zero. Para criança e equipe médica negras, o coeficiente é pouco inferior a 0,2. Para criança branca e equipe médica negra, o coeficiente é levemente superior a 0. Para criança negra e médica branca, o coeficiente é aproximadamente 0,43.

A conclusão de Rachel e sua equipe? Que a formação médica antirracista é crucial para diminuir esses números, ou seja, que o racismo explícito seja combatido, que o racismo implícito seja percebido e que a justiça social seja posta em lugar de destaque na formação inicial e continuada de equipes médicas, de enfermaria e de psicologia. Obviamente, uma outra necessidade é aumentarmos o número de pessoas negras nos cursos de medicina.

Com o trabalho de Rachel Hardeman fica aparente também a necessidade de pesquisadoras negras nas várias ciências, não é mesmo?

* o título faz referência à letra da música Triunfo, do rapper Emicida

Fontes:

Fonte da imagem destacada: The Colorado Trust, CC BY 3.0, via Wikimedia Commons

Artigo original: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7474610/

Reportagem no Washington Post: https://www.washingtonpost.com/health/black-baby-death-rate-cut-by-black-doctors/2021/01/08/e9f0f850-238a-11eb-952e-0c475972cfc0_story.html

Site da universidade: https://directory.sph.umn.edu/bio/sph-a-z/rachel-hardeman

Site da cientista: https://www.rachelhardeman.com/

Maternidade e anestesia: https://www.scielo.br/j/csp/a/LybHbcHxdFbYsb6BDSQHb7H/?format=pdf&lang=pt

Para saber mais:

Portal Geledés – https://www.geledes.org.br/geledes-instituto-da-mulher-negra/publicacoes-de-geledes/

Rachel Hardeman na Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Rachel_Hardeman

Outros divulgadores:

Twitter da Rachel Hardeman: https://twitter.com/RRHDr

Compartilhe:

Responder

Seu endereço de e-mail não será publicado.Campos obrigatórios estão marcados *