“Mulher tem que ser inteligente, mulher preta muito mais! Mas a gente abre o livro de história e nada ali satisfaz. Não tem nenhum livro que diz que, para uma preta, estudar feminismo pode ser uma tarefa infeliz…” (Trecho do Poema Tudo nela é de se amar de Luciene Nascimento)
Quando pensamos em inventores e cientistas, se imagina no automático a figura de um homem branco e idoso, ou às vezes de uma mulher branca, ou raramente de um descendente de asiático, todos vestidos com um avental branco, alguns com caras de louco. Esta imagem tem sido amplamente divulgada nos meios de comunicação durante muitos anos. Falamos muito sobre empoderamento e representatividade, mas e quando se trata de uma pessoa preta, principalmente uma mulher preta, temos o mesmo alcance? Com o passar dos anos o feminismo negro vem ganhando espaço e cada vez mais conhecemos mulheres negras inspiradoras como Marielle Franco, Elza Soares, Djamila Ribeiro, Viola Davis, Aline Borges, Taís Araújo, Nina Simone, Conceição Evaristo, entre outras. Porém, não foi sempre assim. Até bem pouco tempo, pautas raciais eram apagadas e pouco discutidas no País. Mais de 50% da população brasileira é preta ou parda, neste número existem mais de 40 milhões de mulheres, o que perfaz mais de 23% da população brasileira – mas a elas cabe o fardo da dupla discriminação: o racismo e o sexismo que trazem desdobramentos negativos sobre todas as dimensões da vida.
Discriminação de raça e gênero são fenômenos que interagem, sendo a primeira frequentemente marcada pela segunda. Ou seja, mulheres tendem a sofrer discriminações e abusos diferentes dos homens. Para além de todas as políticas públicas que impediam até bem pouco tempo a participação social do negro, uma série delas atingia diretamente as mulheres. Vejamos um exemplo do mercado de trabalho: mulheres brancas chegam a ganhar cerca de 20% menos que homens brancos, enquanto mulheres pretas, 27% a menos! Essa diferença é um dos fatores que ajuda a evidenciar diferenças de gênero quando atrelamos a fatores raciais.
Ainda vivemos numa sociedade que pouco aceita ver pessoas pretas em destaque ou mesmo ganhando voz para discutir pautas raciais. Isso incomodou até que a responsável por sequenciar o vírus da Covid no Brasil fosse uma mulher preta, a Jaqueline Goes de Jesus.
Mas porque incomoda tanto? Porque as pessoas sempre associam grandes e importantes invenções, normalmente, a pessoas brancas? Qual a importância de saber a trajetória de pessoas pretas na Ciência, pautados sob a ótica de uma mulher preta? Você saberia dizer quantas das coisas que você usa hoje foram descobertas ou inventadas por uma mulher preta? Então, vamos conhecer algumas.
Começamos pelos filmes 3D, que tiveram a primeira patente de tecnologia feitos pela física Valerie Thomas.
Outra invenção de uma mulher preta foi o GPS. Nascida em 1930, a programadora Gladys West, deixou um legado muito importante para a tecnologia e, você deve muito a ela se consegue se localizar nos lugares:
Sabe o que mais? Aquele condicionador que você usa toda vez que lava o cabelo. A responsável pela invenção foi Madam C. J. Walker, o que a incentivou foi a dificuldade que enfrentava com o próprio cabelo, assim ela teve a ideia de criar produtos especializados para cabelos afro, criando um império na indústria de beleza.
O sistema de segurança doméstico também foi invenção de uma preta, Marie Van Brittan Brown, que criou este sistema devido à insegurança que sentia em sua vizinhança e demora da polícia em responder chamados. Assim, ela desenvolveu um sistema que possuía 3 olhos-mágicos, um monitor, uma câmera e um microfone.
Aqui no Brasil, Taynara Alves, química e fundadora da startup InQuímica, lançou em 2021 um produto (solução líquida) que retira até 85% de metais pesados advindos de agroquímicos e fertilizantes presentes em legumes, frutas e verduras.
Além destes, também foram invenções de mulheres pretas o absorvente, identificador de ligações, chamada em espera, calefação central, tábua de passar roupa, voz em IP… e, ainda, as animações em GIF! Sim, aquelas que você usa e vê nos memes mais famosos da internet, dentre tantas outras invenções que você usa no dia-a-dia.
Aliás, tem uma divulgadora científica preta, a Kananda Eller, baiana, estudante de Mestrado da USP, dona da página Deusa Cientista no Instagram – siga e veja quanto pessoas pretas têm lutado há décadas pelo avanço científico. Tem também o Coletivo Com Ciência Negra, formado por alunos do Instituto de Química da USP.
Qual motivo de você, talvez, nunca ter ouvido dizer que itens tão importantes são fruto do trabalho de mulheres pretas? Aqui, ficamos com mais uma reflexão, ainda nas palavras de Luciene Nascimento:
Sociedade é construção e o racismo é o cimento, componente estrutural, formador fundamental do interior e do acabamento. Nessa fala eu acrescento: nossa estrutura social foi forjada no sofrimento houve esforço intencional, atuante, fraudulento, apoio internacional à tese do branqueamento, descolorindo e repintando tinta de sangue e caneta, se não branqueou os corpos, alvejou as almas pretas…
Fontes:
Fonte da imagem destacada e figura 6: Gama Revista
Figura 1: Raisa Mesquita/Câmara dos Deputados
Figura 2: NASA
Figura 3: Wikimedia Commons
Figura 4: Wikimedia Commons
Figura 5: Mulheres Inovadoras
Para saber mais:
Conheça Marie Van Brittan Brown – Mulheres e Inovação
8 mulheres negras cientistas brasileiras que você precisa conhecer
Conheça 8 cientistas negras brasileiras que fazem história — Gama Revista
10 invenções que não existiriam se não fossem por mulheres negras – Revista Galileu | Sociedade