(V.5, N.11, P.2, 2022)

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#acessibilidade: Representação do Objetivo 5 da lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Um quadro vermelho onde se lê em branco “Objetivo de desenvolvimento Sustentável 5; Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”. Do lado direito do texto é possível ver o símbolo de igualdade de gênero: um círculo com uma seta na diagonal para cima apontando para a direita, uma cruz para baixo e o símbolo de igual no meio.

Outro dia liguei a televisão e fui cuidar de uns afazeres, quando percebi que o filme que passava, falado em inglês, mencionava o Museu Nacional, do Rio de Janeiro. Aquilo me chamou a atenção e fui ver do que se tratava. Fiquei presa na história e arrepiada até o final. Contudo, o que mais me chamou a atenção foi o fato de eu, como brasileira, não conhecer a história.

O filme que passava era, na verdade, um documentário: “Bertha Lutz: A Mulher na Carta da ONU”, de 2019, dirigido por Guto Barra e Tatiana Issa. Acompanha duas pesquisadoras, Fatima Sator (argelina) e Elise Dietrichson (norueguesa) da Escola de Estudos Orientais e Africanos, da Universidade de Londres. Em 2016, as duas, pesquisando sobre a criação da ONU, descobriram que Bertha Lutz, a representante brasileira, teve papel fundamental na inclusão da igualdade de gênero na Carta da ONU, o primeiro documento escrito que deu origem à ONU. O documentário mostra detalhes do caminho percorrido por elas na tentativa de conseguir que a ONU reconhecesse a importância de Bertha Lutz e de outras representantes do hemisfério sul, na inclusão da igualdade de gênero na Carta da ONU. 

Para situar a história, a Organização das Nações Unidas – ONU, foi criada a partir de uma conferência que aconteceu em São Francisco, em 1945, logo após o final da II Guerra Mundial. Nessa reunião, estavam presentes representantes de 50 países, incluindo o Brasil. Durante o evento, foi redigida a Carta da ONU, que é o documento que fundamenta a criação da organização. Este documento faz menção à igualdade de gênero ao mencionar “a igualdade de direitos de homens e mulheres” em seu preâmbulo e, no seu artigo 8, que diz “as Nações Unidas não farão restrições quanto à elegibilidade de homens e mulheres destinados a participar em qualquer caráter e em condições de igualdade em seus órgãos principais e subsidiários”. Cabe ressaltar que somente 3% dos 160 participantes da conferência eram mulheres e que, naquela época, somente em 30 dos 50 países participantes, as mulheres tinham direito a voto.

As pesquisadoras da Universidade de Londres descobriram que a sugestão de inclusão das “mulheres” no texto foi da representante brasileira Bertha Lutz, apoiada pelas demais representantes latino-americanas. Para saber qual era a proposta original do texto, defendida inclusive pela representante dos Estados Unidos e pelas assessoras britânicas, volte ao parágrafo anterior e leia os trechos da carta substituindo “homens e mulheres” por “homens”. Elas achavam vulgar a insistência para adicionar a palavra “mulheres” ao texto. Contudo, a história da ONU sempre passou a ideia de que a inclusão da igualdade de gênero na Carta da ONU foi uma insistência das representantes dos países ocidentais, não mencionando o papel das representantes dos países latino-americanos. O documentário mostra o caminho percorrido, as visitas realizadas em vários países, incluindo o Brasil, as conferências e palestras ministradas pelas pesquisadoras na busca de fazer com que a ONU desse o devido crédito à representante brasileira. Mais importante, reconhecer o mérito dos países (e mulheres) do sul na inclusão da igualdade de gênero no documento. Não preciso dizer que isso incluía o reconhecimento do viés no registro da história, de forma a deixar os países desenvolvidos como protagonistas na iniciativa feminista. Podem imaginar a dificuldade delas? 

Além de acompanhar esse processo, o documentário mostra também o desconhecimento que o povo brasileiro tem de toda essa história e a pouca importância dada por alguns ao descobri-la. Bertha Luz é reconhecida como filha de Adofo Lutz, médico e cientista brasileiro, e pelo seu próprio legado de cientista (ela era bióloga) e ativista feminista no Brasil, mas não por seu papel de diplomata e por sua importância no reconhecimento da igualdade de gênero em nível internacional. Como cientista, Bertha Lutz estudava sapos e foi diretora do Museu Nacional. O documentário, inclusive, mostra a visita das pesquisadoras ao Museu Nacional, logo antes do incêndio que destruiu todo seu acervo (saiba mais aqui).

Depois de assistir ao documentário, posso dizer que fiquei com vontade de contar para todo mundo sobre a importância de ter sido a representante brasileira, uma cientista, do hemisfério sul, apoiada por outras mulheres latino-americanas, a pessoa responsável pela defesa da inclusão da igualdade de gênero na Carta da ONU. Uma realidade diferente da registrada inicialmente, que foi feita para reforçar a imagem de superioridade das nações desenvolvidas. 

Você já assistiu? Ajude a espalhar a história dessa brilhante mulher brasileira. Imagine quantas pessoas mais ela pode inspirar!

Para saber mais:

EXCLUSIVO: Diplomata brasileira foi essencial para menção à igualdade de gênero na Carta da ONU | As Nações Unidas no Brasil

Bertha Lutz A Mulher na Carta da ONU (2019) | Assista online | HBO Brasil

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