O que são estas vozes na minha cabeça? (V.6, N.11, P.4, 2023)

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Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade: Na imagem um homem negro olhando para a câmera enquanto coloca o dedo indicador na cabeça. O personagem é Roll Safe, protagonista de Hood Documentary, obra do ator e roteirista britânico Kayode Ewumi.

Texto escrito por Igor Espindola de Almeida & Nicolas Bernardo Matos

Nas aulas de ciências, você deve ter aprendido que todos os seres vivos são compostos por células (descartando a polêmica dos vírus, que não são compostos por células e discute-se se são seres vivos). Aprendemos também que toda a matéria é composta por átomos e por partículas: elétrons, prótons e nêutrons – sendo que prótons e nêutrons são compostos por quarks. Mas se um amigo te perguntasse do que a mente é feita, qual seria sua resposta? 

Quando falamos de mente, costumamos associá-la a pensamentos, ao raciocínio e à linguagem. Mas se a existência desses fatores é o que define a mente, podemos dizer que as inteligências artificiais (ex. Google Assistant, Alexa, Siri, ChatGPT…), que têm se desenvolvido tanto nos últimos anos, tem mente? De fato, muitas pessoas, principalmente crianças que já nasceram em contato com os smartphones, associam facilmente aspectos humanos, como emoções e consciência, às máquinas. Lembra do Wall-e?

Questões como essas são discutidas num campo de estudo chamado Filosofia da Mente, muito importante não só para a filosofia, como também para a psicologia, para a computação e para a neurociência. Por quê? Bem, estas áreas se preocupam com diversos aspectos éticos como, por exemplo, se seria certo desligar um computador que tenha consciência.

Existem várias teorias sobre a mente. Podemos dividi-las em duas correntes principais: o dualismo e o materialismo. Sabe quando você está em uma aula chata, pensando em mil outras coisas que não seja o tópico que o professor está falando e alguém fala “Aqui está só o corpo, porque sua mente está longe, não é?”, ou mesmo frases como “Mente sã, corpo são”. O que elas têm em comum é que ambas tratam mente e corpo como coisas diferentes; esse é o princípio básico do dualismo. Nessa corrente, existiria algo que não é físico, mas que interage com o físico e que nós chamaríamos de mente. Parece razoável que em vez de falar “Nossa, hoje os níveis de dopamina no meu cérebro estão altos”, alguém diga “Me sinto feliz”, e a maioria das pessoas não pensaria no cérebro delas quando falam sobre emoções e pensamentos.

Entretanto, os defensores das teorias dualistas têm a dificuldade de nos explicar como algo físico pode afetar algo não físico, e vice-versa. Poucos negariam que um calmante, um chá de camomila ou maracujá, algum outro remédio ou até mesmo um chocolate quente, todos físicos, mudam nossos estados mentais quando os tomamos. Também podemos pensar o quanto nos sentimos mais cansados quando estamos tristes, mesmo não tendo feito atividade física alguma. Não podemos usar as forças elementares conhecidas (gravitacional, eletromagnética, forte e fraca) para explicar os efeitos de um sentimento em uma substância que não tem matéria, contudo é possível  criar uma “ciência da mente”?

Bem, então poderíamos seguir pela outra via, o materialismo, e pensar que a mente não existe ou que é idêntica aos estados que encontramos nos nossos cérebros. Tudo seria explicado por neurônios sendo ativados, moléculas interagindo e correntes elétricas. Algumas correntes do materialismo diriam ainda que só criamos palavras sobre mente, pensamento e emoções, ao longo da história, pois não tínhamos como expressar essas ideias em termos físicos, o que faria com que a neurociência fosse o ponto de partida para a construção de uma nova linguagem. 

Neste caso, aquele sentimento de amor que você sente, as “borboletas no estômago”, as lágrimas quando uma pessoa parte ou quando ela volta, tudo seria simplesmente um conjunto de reações químicas acontecendo no seu encéfalo. Te convenci? Não parece que falta algo para realmente entender o amor?

Há algo a mais nos estados mentais que não se reduzem à sua composição física? Ou, se a mente é totalmente física, conseguimos criar um computador que tenha mente? Mas como nós podemos ter certeza de que as outras pessoas têm mente? Será que a mente não é uma ilusão?

Todas essas perguntas têm sido discutidas por séculos e agora entendemos melhor todas elas, apesar da humanidade ainda não ter achado suas respostas. E se você se interessou por elas, que tal entrar no time de filósofos, psicólogos, programadores ou neurocientistas para ajudar a respondê-las?

Provavelmente vamos precisar da sua ajuda. O desenvolvimento das Inteligências Artificiais tem estimulado o debate sobre o assunto e pode ter implicações no futuro, pois, como já dizia Asimov, em seu Eu Robô: “Fórmulas matemáticas no papel nem sempre são a melhor proteção contra os fatos da robótica.”

 

Fontes:

TEIXEIRA, J. De Fernandes. Mente, Cérebro & Cognição. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. 

BLACKMORE, Susan; TROSCIANKO, Emily T. Consciousness: an introduction. Routledge, 2018.

Fontes deste artigo:  CABEÇA, Vozes da Minha (2023). ELAS (QUASE) NUNCA FALHAM (Mentira) kkkkk

 

Outros divulgadores:

How do you explain consciousness? David Chalmers (Vídeo). Disponível em: https://youtu.be/uhRhtFFhNzQ?si=PK_Jf8fGwiNRQPkN.

O que é Consciência? (Vídeo). Disponível em: https://youtu.be/ujqgVWHcBjc?si=hw7Wg9wapB2BIss7.

O que é consciência? Podcast do “Alô, Ciência?” com o Dr. Altay Souza (Podcast). Disponível em:  https://alociencia.com.br/podcast/031-o-que-e-consciencia/.

Sentience: The invention of consciousness. Podcast do Closer To Truth com Nicholas Humphrey (Podcast). Disponível em: https://open.spotify.com/episode/13fHPKZB0qQALyUDMVifAM?si=X-RycZpWRh-PH9C2c-3JEA.

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