O POP não poupa ninguém (V.2, N.1, P.3, 2019)

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Tempo de leitura: 3 minutos
#acessibilidade Apresenta-se uma obra de arte desenhada em uma tela branca utilizando poluição ao invés de tinta para sua confecção. Esta obra por si só, independente do uso de poluição para confecção é uma crítica ao consumismo exacerbado da sociedade atual apresentando diversas logomarcas e formas de propagandas que incentivam esta forma nada sustentável da existência, contornadas por imagens que sugerem formas de poluição gasosa e aquosa, enquanto há pouca natureza.

De imediato, a primeira vontade que me toma ao ler este título é de cantarolar a continuação da música da banda Engenheiros do Hawaii com: “o papa levou, um tiro à queima roupa, o POP não poupa ninguém”. Dentre outras tantas possíveis associações com o título ou com a cultura POP possíveis de serem temas de redação, diga-se de passagem que me agradaria muito conversar com as leitoras e leitores, venho escrever talvez da menos agradável de todas e, acreditem, é pior que muitos artistas da atualidade!

Os Poluentes Orgânicos Persistentes, que também recebem a nomenclatura de POP, são compostos que em algum momento da história foram sintetizados por nós humanos para o ter seu uso principal na indústria e agricultura, seja como óleos isolantes, pesticidas, fungicidas ou outros. Estes são altamente resistentes à degradação. No momento em que foram sintetizados e amplamente utilizados não se tinha a dimensão do estrago que esta e outras características poderiam causar.

Os termos resistente à degradação ou persistente são comumente chamados nas ciências exatas como longa meia-vida, que significa que demora um período grande para que a quantidade final seja metade da inicial (por isso meia-vida). Vou elencar mais quatro palavrões característicos destes compostos que são bem cruéis aos seres humanos e ao meio ambiente e explicarei logo a seguir para que tenhamos noção do estrago do qual são capazes: destilação global, bioacumulação, biomagnificação e elevada toxicidade.

Destilação global é a principal responsável por estes compostos estarem presentes em praticamente todo o planeta Terra, inclusive em lugares onde os processos industriais nunca chegaram como ilhas isoladas do Oceano Índico, picos de montanhas, norte da Groenlândia ou a Antártida. Os compostos voláteis e semi-voláteis evaporam nas regiões mais quentes em que são produzidos e condensam em regiões mais frias sendo arrastados por rios, ventos e correntes marítimas. Esta talvez seja a característica que mais preocupa uma vez que estar sujeito a consequência da exposição a ele, independe de estar próximo de sua produção.

Na dinâmica do planeta, uma parte relativamente grande do POP mundial acaba indo aos oceanos e sedimentando, transformando assim o fundo dos oceanos em um grande reservatório. A parte que é consumida por seres vivos oceânicos será a maior responsável pelos males que seguem.

Após o consumo, o ser vivo sofrerá os impactos da bioacumulação, propriedade que se relaciona com a capacidade de, ao serem absorvidos, não serem eliminados com o tempo pelos organismos. Estes organismos por sua vez, formam todos os níveis da teia alimentar e quando um ser vivo contendo POP serve de alimento a outro ser vivo, este se acumula progressivamente no consumidor. A esta propagação do dano na teia alimentar damos o nome de biomagnificação.

Quanto a elevada toxicidade, podemos destacar um leque bem amplo de efeitos tóxicos nos organismos vivos, desde os sistemas nervoso, imunológico, e estarem relacionados diretamente ao aparecimento e evolução de câncer, passando até pelo sistema reprodutivo onde alguns poluentes são capazes de mimetizar ou bloquear determinados hormônios, particularmente hormônios sexuais. Além de afetar enzimas que controlam as reações bioquímicas no organismo.

Assim sendo, o POP é produzido pelos seres humanos, se espalham, são absorvidas, intoxicam diversas formas de vida no planeta, se acumulam em algumas, são repassadas a outras, e acabam durando muito e influenciando negativamente por todo o tempo que sua vida útil permitir. Já existem 22 compostos com estas características proibidos mundialmente, mas estudos sugerem que este número ainda pode aumentar. Desta forma o que podemos fazer individualmente é muito pouco: atentar para que os equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos que utilizamos sejam descartados adequadamente após o fim de seu uso.

Fontes: Fonte da imagem destacada: Cool Hunting

Para saber mais:

Texto da Profa. Dra. Rosalinda Carmela Montone sobre Poluentes Orgânicos Persistentes

Página da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos sobre Poluentes Orgânicos Persistentes

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