#acessibilidade: Temos uma imagem em preto e branco que mostra Jean Richer fazendo suas medições em um observatório e utilizando um globo terrestre. Ele está de frente para uma janela e está cheio de equipamentos astronômicos ao seu redor.
Texto escrito pelo colaborador Rafael Vilas Boas Dos Anjos
Em 8 de Fevereiro de 1672, o astrônomo Jean Richer saiu de Rochelle, na França e iniciou as navegações até Caiena, na Guiana Francesa. Ele chegou em seu destino, aproximadamente, dois meses depois, e começou seus trabalhos que possibilitaram conhecer um pouco mais do sistema solar.
Para entender melhor como a expedição de Richer possibilitou grandes descobertas, é necessário entender o que estava acontecendo naquele período. Em 1666, foi criada a Academia Francesa de Ciências com o objetivo político de fortalecer o reinado do rei Luís XIV. A formação da academia possibilitou, dentre outras coisas, uma maior comunicação entre cientistas para trabalhar conjuntamente em algumas questões importantes dos estudos da Astronomia.
Alguns anos antes, o astrônomo Johannes Kepler havia mostrado o funcionamento do movimento elíptico dos planetas em torno do Sol e, após seu trabalho, a estrutura do sistema solar já estava bem solidificada. Porém, ainda havia um problema específico que não havia sido resolvido. Esse problema está relacionado com as distâncias entre os planetas e o Sol. Até o momento, as distâncias eram colocadas em unidades astronômicas (UA), onde uma unidade astronômica é igual a distância entre a Terra e o Sol, mas essa distância não era, de fato, conhecida. Dessa forma, Mercúrio estava a 0,387 UA do Sol, mas não era possível converter essa distância para quilômetros.
A partir disso, uma das missões da academia real foi a de descobrir essa distância entre o Sol e a Terra. Mas isso levantava um grande problema: quando as observações eram feitas da França, um fenômeno chamado paralaxe trazia uma alteração na posição do planeta observado. Para definirmos, a paralaxe é uma mudança de posição vista em um objeto devido a mudança do ponto de vista do observador.
Por exemplo, na imagem a seguir é possível notar como a visão no ponto de vista A é diferente da imagem no ponto de vista B, onde, no primeiro caso, a estrela é vista junto com o quadrado azul e, no segundo, ela é vista junto com o quadrado vermelho.
#acessibilidade: Encontramos na imagem, verticalmente, 3 fundos distintos (vermelho, branco e azul) no canto direito, 2 pontos de vista separados, no canto esquerdo, e um objeto hipotético entre esses. É demonstrado que o fundo que acompanha o objeto varia de acordo com o ponto de vista designado. Ao observarmos o objeto pelo ponto de vista A, temos o fundo azul. Ao observá-lo pelo B, temos o fundo vermelho.
Quando esse fenômeno é colocado em distâncias astronômicas, a distância medida entre alguns objetos pode mudar muito e por isso a missão de Richer aconteceu. Era necessário que ele fizesse medições tanto em Caiena quanto em Paris para que houvesse uma triangulação e, com isso, o cálculo da paralaxe de Marte. A partir disso, era possível calcular a distância entre Marte e a Terra e, com essa distância, utilizar a 3° Lei de Kepler para calcular a distância entre o Sol e a Terra.
Quando Richer chegou em Caiena, o local havia passado por muitas disputas territoriais entre a França e a Inglaterra, ainda que aquele fosse um breve momento sem conflitos. Sendo um território colonizado pela França, Richer mandou que os nativos construíssem um observatório temporário para que fosse possível fazer as medições necessárias. Ele passou os meses seguintes trabalhando em sua missão e, em Outubro de 1972, na breve estação seca que facilitava a observação, a paralaxe de Marte foi medida.
Após seu retorno, Richer deixou suas medições com Jean-Dominique Cassini, que utilizou os dados para deduzir a distância entre o Sol e a Terra com o valor de 33 milhões de léguas, aproximadamente 159 milhões de quilômetros, valor que estava muito próximo do correto. E, com isso, o sistema solar deixou de ser um mapa sem escala.
Ao final, a expedição de Jean Richer trouxe grandes resultados, mas o colocou num papel secundário, na sombra de outros cientistas. Porém, uma coisa importante de se notar é como a descoberta da distância entre a Terra e o Sol foi um trabalho de muitas pessoas diferentes. Onde, a partir do trabalho de Kepler, a preparação dos equipamentos de Jean Picard e a conexão com a Companhia das Índias Ocidentais, Richer pode fazer sua longa expedição para coletar seus dados e, a partir disso, Cassini pode fazer os cálculos e deduções necessárias para concluir um trabalho com grandes descobertas – que seriam importantes no trabalho de Newton futuramente. Vemos como a Ciência é um trabalho coletivo, onde os grandes resultados surgem do contato e comunicação, buscados pela Academia Real de Ciências desde o início, e do trabalho de várias pessoas.
Para Saber Mais:
Jean Richer na Guiana francesa (1672-1673)
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