#acessibilidade: Em segundo plano há um fundo roxo com luzes e uma banda musical composta por alimentos: à direita há um pé de algodão tocando bateria, à esquerda um conjunto de três sementes verdes cantando, e ao centro uma espiga de milho tocando guitarra. Todos os instrumentos musicais são amarelos e pretos, apresentando o símbolo de alimentos transgênicos. Em primeiro plano há uma mesa cinza com dois botões, à direita o verde e à esquerda o vermelho, ao centro há uma mão com o dedo indicador levantado. A Figura representa um Show de Calouros, onde supõe-se um julgamento dos alimentos transgênicos que compõem a banda.
Texto escrito pelo colaborador Ednilson Donisete de França Junior com revisão de Wagner Rodrigo de Souza e Lívia Seno Ferreira Camargo
A biotecnologia compreende uma área em grande expansão, estando associada a diversos campos da ciência com alta aplicabilidade e impacto social. Esta área da ciência tem como conceito a utilização de sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para gerar produtos e serviços. Neste contexto, a engenharia genética em plantas, uma ferramenta da biotecnologia, trouxe novas perspectivas sobre a produção de alimentos no mundo, onde através da manipulação do DNA em laboratório tornou-se possível o isolamento de um gene de interesse, e inserção do mesmo em um outro organismo. Logo, esta aplicação tecnológica permite um novo avanço dentro da agricultura, com cultivares transformados geneticamente apresentando características que promovam benefícios de produção. Estes indivíduos são denominados organismos geneticamente modificados (OGM), cujo aqueles utilizados como alimentos são bastante difundidos nas mídias sociais com o título de alimentos transgênicos. Apesar da popularidade dos transgênicos, são poucas as pessoas que conhecem de fato a importância deste tipo de alimento para a sociedade e o setor de produção. Somado a isto, há uma baixa difusão informativa e transparência sobre as vantagens e desvantagens relativos à saúde humana e ao ecossistema, o que promove insegurança e desconfiança por parte da população referente ao consumo destes alimentos.
A geração dos OGMs é possível devido à universalidade do código genético, permitindo que seja feita a modificação genômica de um organismo através de diferentes técnicas biotecnológicas, sendo possível manipular características existentes ou adicionar características externas codificadas por outros organismos. Por exemplo, se uma planta é naturalmente tolerante à seca e conhecemos os genes responsáveis por desencadear esta resposta, podemos inserir este mesmo gene em uma espécie sensível ao estresse, aumentando assim sua tolerância. Estas modificações em organismos vegetais, para aplicação agrícola, têm como objetivo principal o melhoramento da qualidade de produção e redução de problemas associados às culturas tradicionais, como por exemplo: a dependência de defensivos agrícolas, alto investimento em métodos de irrigação, e manutenção química e mecânica excessiva dos cultivares.
Deste modo, é possível indicar algumas vantagens a nível sustentável para o uso de OGMs, a depender das características manipuladas no organismo, como por exemplo a presença de resistência a condições biológicas adversas, como pragas e competidores, permitindo a redução do uso de pesticidas/herbicidas químicos, evitando o escoamento destes compostos altamente prejudiciais aos ecossistemas. No Brasil, há o cultivo de soja, milho, cana-de açúcar e algodão resistente a herbicidas, insetos e doenças. Outra possibilidade, considerando a visão de aplicação sustentável, como brevemente mencionado acima, é a geração de OGMs resistentes à seca, o que possibilita a redução do consumo de água e a exploração de áreas com menor capacidade de irrigação. A tolerância à pureza da água e condições de solo também podem ser exploradas, com organismos aptos a se estabelecer em condições de salinidade, nutrição e pH variados. Estes são só alguns exemplos, mas as possibilidades de manipulação gênica que busquem contornar problemas ambientais do cenário agrícola são amplas.
Os alimentos transgênicos também podem possuir características que promovam vantagens sociais e relacionadas à saúde humana. A agricultura de transgênicos tende a apresentar maior eficiência e menor gasto de produção, minimizando o custo final entregue ao consumidor. A durabilidade também pode ser geneticamente manipulada, produzindo alimentos com vida útil prolongada, promovendo vantagem nas etapas de armazenamento, distribuição e chegada ao consumidor. Além disso, também é possível gerar organismos de produção contínua, em que haverá a produção daquele alimento ao longo de todo o ano, não estando limitado à sazonalidade. Estes são alguns aspectos que promovem benefício para o produtor e que refletem no custo e qualidade do produto entregue ao consumidor. Contudo, a manipulação genética dos alimentos não está apenas direcionada a contornar problemas de impacto ambiental e de eficiência de produção, mas também pode promover a busca por produtos com maior conteúdo nutritivo, contendo mais minerais e vitaminas, em relação aos produtos tradicionais, agregando maior valor e qualidade.
Apesar das vantagens expostas anteriormente, assim como qualquer método/processo de produção, existem problemas e desvantagens ligadas a culturas de plantas geneticamente modificadas. Algumas destas condições podem ser previstas, como a possibilidade de interferências no meio, a geração de pragas e competidores resistentes, interferência em cadeia alimentar e reprodutiva, fluxo gênico com espécies nativas e modificações nos ecossistemas em geral. Entretanto, outros aspectos muitas vezes são difíceis de serem mensurados, onde os órgãos reguladores competentes irão avaliar o nível de incerteza aceitável para a produção daquele alimento transgênico, aplicando todas as condições de biossegurança alimentar necessárias. Tais circunstâncias reforçaram a necessidade do desenvolvimento constante de uma regulamentação para o uso de OGMs. A regulamentação dos transgênicos no Brasil se iniciou em 1995 com a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), certificando a segurança e manipulação dos OGMs. Alguns princípios internacionais para avaliação de riscos, estabelecidos em 2003 pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), se refletem na regulamentação brasileira, como: avaliação de propriedades nutricionais e tóxicas, efeitos de inserção gênica, componentes alergênicos, estabilidade dos genes inseridos, efeitos nutricionais em decorrência da mudança genética, dentre outros. Em 2005 foi aprovada a nova Lei de Biossegurança (11.105/05), que apresenta a regulamentação dos transgênicos em território nacional, sendo referência avaliativa por diversos países. Devido a esta detalhada regulamentação, a liberação de culturas transgênicas no mercado leva muitos anos e consome milhões de dólares dos desenvolvedores da tecnologia. Apesar de todo este critério, novas tecnologias estão sendo implementadas para o desenvolvimento de novas variedades de plantas livres de transgenia, como a tecnologia CRISPR, ou edição gênica, que já é considerada pela CTNBio uma tecnologia não-transgênica (veja o texto na seção “Para saber mais”).
Atualmente, o Brasil é um alto produtor de transgênicos, estando em segundo lugar no ranking global. Estas medidas de biossegurança alimentar, já implementadas em território nacional, devem assegurar que os transgênicos que chegam até a população tenham qualidade igual ou superior aos produtos convencionais. Apesar dos questionamentos, quanto à segurança do consumo destes alimentos, não há relatos de danos causados pelo consumo de transgênicos a curto e longo prazo. Além disso, a fiscalização destes alimentos é bastante rigorosa e vem sendo aprimorada constantemente. É notável que a aplicação de técnicas inovativas traga algum tipo de estranhamento e receio ao serem aplicadas, sendo este comportamento observado em todas as grandes revoluções tecnológicas. As universidades, indústrias, centros de pesquisa e outros órgãos geradores de ciência estão constantemente trabalhando para elucidar a população, trazer inovações e desmistificar tópicos como este, objetivando beneficiar a sociedade e estimular o pensamento crítico embasado na informação.
Fontes:
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ABIRI, R. et al. A Critical Review of the Concept of Transgenic Plants: Insights into Pharmaceutical Biotechnology and Molecular Farming. Current Issues in Molecular Biology, v. 18, p. 21-42, 2016.
ANJANAPPA, R. B.; GRUISSEM, W. Current progress and challenges in crop genetic transformation. Journal of Plant Physiology, v. 261, 2021.
SILVA, M. S. et al. Alimentos transgênicos e segurança alimentar e nutricional no Brasil. Brazilian Journal of health Review, v. 3, n. 5, p. 11901-11923, 2020.
VARGAS, B. D. et al. Biotecnologia e Alimentos Geneticamente Modificados: Uma Revisão. Revista Contexto & Saúde, v. 18, n. 35, p. 19-26, 2018.
Para saber mais:
Cientistas desenvolvem tomate rico em vitamina D (texto)
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