A posição do polo norte magnético da Terra foi redefinida (V.2, N.4, P.1, 2019)

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Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade Ilustração do planeta Terra no espaço com uma placa escura com um X vermelho onde antes estava escrito “POLO NORTE” e outra placa mais à direita onde uma nova placa, desta vez iluminada, marca o novo POLO NORTE. Há pegadas indo da placa antiga para a nova.

Não sei você, mas eu li esse título com a entonação da voz guia do Waze… Brincadeiras a parte, vários sites de notícias publicaram nas últimas semanas matérias sobre uma mudança na localização do polo norte magnético da Terra, que estaria acontecendo “mais rápido do que se esperava”. Esse fato poderia afetar diretamente nossas ferramentas de localização? Devemos nos preocupar?

Um dos primeiros instrumentos eficientes de navegação, a invenção da bússola é um marco na história da humanidade, e sua utilização foi possível a partir da descoberta da agulha magnética e da percepção de que ela apontava para o “norte” da Terra. Mas qual “norte”?

A Terra tem vários polos, os mais importantes são os polos geográficos e os magnéticos. Os polos geográficos são as extremidades do eixo de rotação da Terra, e  foram definidos antes de compreendermos o magnetismo do planeta. O campo magnético terrestre tem origem no movimento da camada de ferro derretido que forma o núcleo da Terra, que faz com que ela se comporte como um grande ímã. Este campo magnético serve como um escudo protetor que impede que a radiação nociva do sol e de outras origens cheguem à superfície. Essa proteção tornou possível o surgimento e desenvolvimento da vida no nosso planeta.

Por convenção física, estabelecida a partir do surgimento da bússola, se você estiver mais próximo ao equador do que dos polos geográficos, o polo norte da agulha da bússola aponta para o polo sul magnético da Terra, e o polo sul da agulha aponta para o polo norte da Terra (lembre-se que a agulha e a Terra são ímãs, e seus polos opostos se atraem). No entanto, como dito anteriormente, o polo norte da agulha aponta para o norte geográfico da Terra. Que confusão!!! Para evitar essa confusão de nomenclaturas, adotou-se chamar de polo norte magnético o polo que está próximo ao polo norte geográfico, o mesmo ocorrendo com o polo sul.

Os polos magnéticos são os pontos na terra onde o campo magnético é vertical (ou seja, as linhas de campo magnético são perpendiculares à superfície). Se você estiver sobre o polo sul magnético, sua bússola aponta para cima, e se estiver sobre o polo norte magnético, sua bússola apontará para baixo. Eles não são exatamente opostos um em relação ao outro, e mudam constantemente de posição  com velocidades diferentes.

A posição dos polos é monitorada desde o século XIX, e foi observado que a velocidade dessa mudança aumentou de 15 km por ano para 50 – 55 km por ano a partir de 1990. Nos últimos 40 anos o polo norte magnético vem se deslocando na direção noroeste, do Canadá para a Sibéria. Esse aumento na velocidade é só uma de uma série de anomalias que inesperadamente alterou a posição do polo e obrigou a uma atualização antecipada dos sistemas de navegação e localização que dependem dele de alguma forma.

Cientistas especialistas em geomagnetismo publicam periodicamente a atualização do “modelo magnético mundial”. A última atualização havia sido feita em 2015, e a seguinte seria feita em 2020, mas a aceleração das mudanças na posição fez com que essa atualização fosse antecipada, e é a essa alteração que a maioria das publicações se refere.

E a pergunta que não quer calar: devemos nos preocupar? Só se você usa uma bússola para se localizar, e mesmo nas bússolas modernas é possível incorporar correções que levem em conta tal alteração. Os modernos equipamentos de GPS não usam como referência o campo magnético, e sim os dados coletados por um conjunto de satélites posicionados na órbita da Terra. Em outras palavras, as alterações necessárias já foram feitas, seus dispositivos serão atualizados “automaticamente”.

Esse também não é um sinal iminente do enfraquecimento dos polos que vai levar à inversão dos mesmos. O campo magnético tem variações locais de intensidade, e registros arqueológicos indicam que essa inversão ocorreu em outros momentos do passado. Mas isso é assunto para um próximo texto.

Em tempo: a maioria das publicações em português sobre o assunto, principalmente em veículos de divulgação mais leigos, traz uma versão bem alarmista da questão. Os sites de divulgação científica mais sérios trazem explicações mais sóbrias. Lembre-se sempre de procurar mais de uma fonte.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Mayara Santayana

revistapesquisa.fapesp.br/2012/07/16/o-que-e-o-que-e-8/

https://canaltech.com.br/ciencia/o-norte-magnetico-da-terra-esta-mudando-rapidamente-o-que-isso-significa-132133/

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-e-a-diferenca-entre-os-polos-magneticos-e-geograficos-da-terra/

http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas—Rede-Ametista/Canal-Escola/Magnetismo-Terrestre-2623.html

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