A economia política da sustentabilidade (V.4, N.8, P.5, 2021)

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Tempo de leitura: 5 minutos
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Texto escrito pela colaboradora Jaíne Wentroba, Mestranda em Desenvolvimento e Políticas Públicas – Universidade Federal da Fronteira Sul, juntamente com Louise de Lira Roedel Botelho e Carlos Eduardo Ruschel Anes

O artigo “Entendendo a questão ambiental” de Renato Souza, (2000) retrata a sustentabilidade e a inter-relação econômica que ela tem com o meio ambiente no capitalismo. Também são discutidas a economia ambiental neoclássica e os padrões de consumo, além dos efeitos que este tem no meio ambiente. Há uma crescente percepção de que o sistema ecológico de sustentação da vida encontra-se cada vez mais ameaçado e há um enfrentamento constante entre natureza e sociedade, meio ambiente e economia, com inúmeras incertezas, tem-se, portanto, uma urgência em se discutir esse assunto, pois a difusão do movimento ambientalista trouxe a modificação do comportamento em alguns segmentos sociais em relação à preferência de consumo, e a regulação e a criação de leis ambientais passaram a colocar impedimentos ecológicos às atividades humanas, sobretudo às economias.

O fogo foi uma ferramenta que ajudou na diversificação da alimentação da humanidade, porém não fomentou mudanças drásticas na relação do homem com o meio ambiente, contudo, veio a Revolução Industrial e a capacidade da humanidade em intervir na natureza deu um salto colossal, continuando a aumentar, sem cessar. Depois veio a agricultura, que foi uma das principais atividades responsáveis pela sobrevivência do homem, mas hoje está levando o homem a exterminar várias espécies e a modificar drasticamente o meio ambiente onde vive.

Uma fertilização química desequilibrada tem impactos negativos no próprio solo, bem como sobre os recursos hídricos do ecossistema. Porém, apesar de modificar totalmente o ecossistema original, a agricultura não precisa ser vista como um vilão, pois é possível e deve-se buscar caminhos para construir um ecossistema agrícola baseado em sistemas de produção que preservem certos mecanismos básicos da regulação ecológica, buscando soluções que ajudem a melhorar o solo, e não danificar tanto assim o meio ambiente e os seres vivos que nele se encontram.

A economia política da sustentabilidade é vista como um problema de distribuição intertemporal de recursos naturais finitos. Mas de nada adianta achar que o mundo pode aguentar tanta exploração para depois “tentar consertar”.

Usar as tecnologias, por exemplo, para tentar repor ou compensar aquilo que se foi tirado, nada mais é do que uma mera distorção de valores, ética e respeito ao meio ambiente. Pensa-se que tudo é mensurável, inclusive os recursos naturais que são considerados um subsistema do meio econômico, sendo eles um fator de produção substituível por qualquer outro, como capital de trabalho.

Algumas implicações da perspectiva do sistema econômico em relação ao meio ambiente é que ao se expandir incorre em custos de oportunidade ambientais positivos, já que o meio ambiente é escasso. O fato é que pensar mais na economia implica pensar menos no meio ambiente. Seria bom se não fosse assim, o sistema econômico consome na natureza a matéria e energia de baixa entropia, que são os meios fundamentais à disposição do mundo, inexoravelmente fornecendo lixo, matéria e energia de alta entropia, de volta ao sistema natural. Simultaneamente, proporciona um fluxo de prazer ou bem-estar psíquico aos indivíduos que compõem a sociedade, justificando assim sua existência. A produção de bens e serviços econômicos nada mais é, sem dúvida, do que a oportunidade material para que as pessoas consigam chegar à realização da felicidade, comprando exageradamente muitas coisas e jogando fora sem conscientização, gerando assim muito lixo.

Em relação ao capitalismo, os agentes econômicos passaram a sofrer restrições em relação à forma como vinham usando o meio ambiente. Os padrões de consumo são passados de geração em geração. Claro que nessa geração e com o avanço de novas tecnologias, houve um aumento na produção e consequentemente no consumo, tornando-se uma grande preocupação, pois com isso também houve aceleração de produção e acúmulo de lixo gerado a partir do material descartável, o que afeta drasticamente o meio ambiente.

Diante do crescimento urbano do último século, o padrão de consumo tem afetado de forma desproporcional os países em desenvolvimento. Na visão das teorias neoclássicas, o consumo exacerbado dá a intenção do prazer, satisfazer seus desejos ao máximo, sob condições de desejos ilimitados e recursos finitos. Quanto maior a oferta para o indivíduo em que o equilíbrio e produção de consumo ocorre, maior é o desperdício de recursos. Se isto para alguns pode ser sustentável do ponto de vista econômico, não o é de forma alguma do ponto de vista social e ambiental.

É preocupante o consumo exagerado em nossa sociedade, principalmente dos países industriais em que são grandes os prejuízos que esse consumo pode trazer e efetivamente tem trazido para o meio ambiente. Algumas cidades ainda não têm canalização de esgoto, o desmatamento só aumenta, sem contar o alto nível de poluição que temos, ainda assim o Governo, que deveria ir em favor do meio ambiente, passa a dispensar licenças ambientais em diversas atividades como vemos atualmente, indo em uma linha de verdadeiro retrocesso.

É preciso ter consciência de um consumo sustentável e pensar qual a “pegada” que nós, seres humanos, queremos deixar nesse planeta para as futuras gerações. É preciso ter precaução com o meio ambiente. Separar o lixo adequadamente, por exemplo, já é um grande passo para ajudá-lo. Destaca-se, aqui, também, a educação ambiental, pois não há como fazer o ser humano ser consciente de suas atitudes e ações sem que antes ele tenha conhecimento do que está fazendo no meio ambiente e quais são as suas consequências se ele não cuidar e não mantiver o equilíbrio necessário. Deveríamos priorizar o investimento em desenvolver formas sustentáveis de crescimento e pensar mais na forma como estamos consumindo e utilizando o nosso meio ambiente, mas é necessário que tenhamos um governo empenhado para isso também. Senão, logo haverá o esgotamento dos recursos naturais, e consequentemente inúmeros outros desequilíbrios como já está acontecendo.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: https://economia.culturamix.com/medidas/os-varios-aspectos-da-sustentabilidade-economica

SOUZA, Renato S. Entendendo a questão ambiental: temas de economia, política e gestão do meio ambiente. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, Apêndice cap. 3, p. 119 – 140, 2000.

MONTIBELLER Fº. Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável. Meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Florianópolis: Ed. UFSC, cap. 4, p. 111 – 138, 2001.

COHEN, Claude. Padrões de consumo e energia: efeitos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. In: MAY, Peter; LUSTOSA, Maria C. e VINHA, Valéria. Economia do meio ambiente. Teoria e prática. RJ: Elsevier, cap. 10, p. 245 – 270, 2003.

Para saber mais:

Lattes da autora: http://lattes.cnpq.br/0709811497212982

https://fia.com.br/blog/sustentabilidade-economica/

https://economia.culturamix.com/medidas/os-varios-aspectos-da-sustentabilidade-economica

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