#acessibilidade Ilustração de quatro pessoas usando máscaras de três modelos diferentes.
Já faz algum tempo que a imagem de pessoas mascaradas pela rua se tornou algo corriqueiro, principalmente nas cidades metropolitanas do país onde se concentram a maioria dos casos da doença causada pelo novo coronavírus. Mas será que essa medida é mesmo necessária?
A principal forma de contágio é pelas gotículas de saliva que carregam o vírus, por meio da fala e da tosse. A transmissão do novo coronavírus também se dá por intermédio das mãos que tocam superfícies contaminadas e levam o vírus ao nariz, boca e olhos. Por isso, hábitos de higiene, como lavar frequentemente as mãos com água e sabão e usar álcool 70%, nas situações em que a primeira medida não seja possível, são alguns dos principais meios de proteção pessoal. Em adição, cobrir o rosto com o antebraço ao tossir é uma prática que evita a disseminação do vírus e contaminação de outras pessoas.
Vimos na última semana o ministro da Saúde recomendar para aqueles que queiram usar máscaras e não apresentem sintomas da COVID-19, que façam o uso de produtos caseiros, deixando assim as máscaras cirúrgicas para os profissionais da saúde e pessoas infectadas, devido à escassez destes recursos. Porém, nas semanas anteriores recebemos das mesmas fontes a informação de que pessoas que não apresentem os sintomas e que não tenham suspeita da doença não devem usar máscaras. O que mudou? Qual a eficiência dessas máscaras para nossa proteção pessoal? Ela evita a proliferação do coronavírus?
Dado o crescente número de pessoas infectadas no país e considerando que algumas dessas pessoas podem não apresentar sintomas, mesmo portando o vírus, e assim, contaminar outras sem saber, o uso da máscara é recomendado a todos. Para aqueles que foram diagnosticados ou que trabalham na área da saúde, e portanto estão lidando constantemente com pessoas infectadas, recomenda-se o uso de máscaras com eficácia mínima na filtração de 95% de partículas de até 0,3 micrômetros, como a máscara N95/PFF2 ou máscara cirúrgica (a depender do procedimento clínico). Para os demais, que não apresentam sintomas da COVID-19, as máscaras caseiras são atualmente indicadas pelo Ministério da Saúde, apesar de não terem sua eficácia comprovada.
Pouco se sabe sobre a eficácia das máscaras, devido à ausência de estudos sobre o tema até o momento. No entanto, uma luz sobre esse assunto foi lançada com uma recente publicação na Nature, uma das revistas científicas de maior prestígio entre os pesquisadores da área de saúde e biologia. Neste trabalho, os pesquisadores avaliaram a eficiência das máscaras cirúrgicas frente a 3 grupos de vírus: influenza (da gripe comum), rinovírus (do resfriado) e coronavírus humano (da COVID-19).
Eles avaliaram 3.363 indivíduos, e dentre estes, 246 foram selecionados para os testes. Neste grupo, 17 pessoas apresentaram sintomas de infecção por coronavírus, 43 por influenza vírus e 54 por rinovírus. De maneira aleatória, alguns receberam máscaras e outros não para realizarem os testes. Tomando os devidos cuidados de proteção e segurança individual e coletiva, após um tempo foram coletadas amostras por esfregaço na região do nariz e pescoço dos indivíduos avaliados e em gotículas respiratórias expelidas no ar para determinar a carga viral. De maneira geral, a contagem de vírus foi maior para as amostras retiradas na região do nariz do que no pescoço, e também foi maior para o coronavírus do que para influenza e rinovírus para todos os participantes (com e sem máscara).
Nas amostras de gotículas respiratórias coletadas, sem o uso das máscaras, foram identificados 30%, 26% e 28% do coronavírus, influenza e rinovírus, respectivamente. Enquanto que para os aerossóis (partículas menores que 5 micrômetros) a porcentagem foi de 40%, 35% e 56%, na mesma ordem para os tipos de vírus e nas mesmas condições. Evidenciando assim, que existe uma maior carga viral em aerossóis do que nas gotículas respiratórias. Para as amostras de gotículas respiratórias e de aerossóis, coletadas em participantes que usaram máscaras, não foi identificado coronavírus nas amostras. No entanto, para o vírus influenza a mesma eficácia das máscaras cirúrgicas não foi comprovada para as gotículas menores (em aerossóis), e para rinovírus a máscara cirúrgica não se mostrou eficiente para barrar as gotículas respiratórias nem os aerossóis.
Assim, podemos dizer que os estudos sugerem que o uso de máscaras podem ajudar a conter a transmissão do vírus para outras pessoas. Todavia, a eficiência de máscaras caseiras pode depender de outros fatores, como o tipo de tecido e ajuste no rosto, por exemplo. Além disso, é indispensável manter os hábitos de higiene já mencionados e cuidados extras no manuseio da máscara, descarte e/ou higienização da mesma, para não levar a contaminação por outras vias. No mais, o distanciamento social ainda é a maneira mais eficiente e recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conter o vírus. Somente reduzindo as interações sociais podemos garantir a redução da circulação do vírus entre as pessoas. Por isso, se você puder, fique em casa!
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Pessoas vetor criado por freepik – br.freepik.com
https://www.nature.com/articles/s41591-020-0843-2.pdf
https://drauziovarella.uol.com.br/coronavirus/mascara-contra-o-coronavirus-e-hora-de-usar/
https://pfarma.com.br/noticia-setor-farmaceutico/saude/5254-mascara-coronavirus.html
https://portal.fiocruz.br/noticia/gripe-ou-resfriado-virologista-da-fiocruz-explica-diferenca
https://amb.org.br/noticias/prevencao-para-o-profissional-da-saude-coronavirus/
Para saber mais:
Confira outros textos do Guia sobre a COVID-19
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52101848
Vídeo Coronavírus – Como construir uma máscara de proteção de baixo custo? do canal Projeto ENSINANO do IQ-USP no YouTube
https://www.wired.com/story/its-time-to-face-facts-america-masks-work/
https://www.theatlantic.com/newsletters/archive/2020/04/the-debate-over-masks/609391/
https://www.cbsnews.com/news/coronavirus-face-mask-symptoms-prevent-protect/
https://time.com/5794729/coronavirus-face-masks/
1 thought on “Máscaras contra o coronavírus: usar ou não usar? (V.3, N.4, P.3, 2020)”