#acessibilidade Montagem de um DNA no centro e duas mão, uma mão humana à esquerda a outra de um gorila à direita, ambas apontando para o DNA. A composição da imagem é semelhante à obra “A Criação de Adão” de Michelangelo.
A evolução dos seres vivos foi compreendida de diversas formas ao longo do tempo. Existem muitas visões religiosas, filosóficas e científicas a respeito de como os organismos atuais surgiram na Terra. O criacionismo faz parte de muitas culturas e atua com grande papel no desenvolvimento da humanidade sob o aspecto cultural há milênios. Os criacionistas creem que toda a matéria do universo e todos os organismos são criação de um agente sobrenatural. Estes organismos não seriam correlacionados evolutivamente, pois todas as espécies teriam sido criadas individualmente. No século XVIII, porém, começaram a surgir estudos científicos sobre evolução que passaram a mudar a mentalidade da época sobre como os organismos se relacionam evolutivamente.
Primeiramente precisamos compreender quais eram os primeiros entendimentos da humanidade sobre o parentesco entre organismos. Aristóteles (384-322 a.C) acreditava na existência de um princípio ativo que proporcionaria a criação de vida, denominando esta teoria como abiogênese ou geração espontânea. Esta crença começou a ser questionada no século XVII, notoriamente por Franscesco Redi (1626-1697), que compreendeu que moscas não nasciam da comida e sim de ovos deixados por moscas preexistentes. Lazzaro Spallanzani (1729-1799) realizou um experimento semelhante, reforçando o resultado de Redi. Neste período o movimento da abiogênese era fortemente defendido, portanto acreditar que todos os organismos eram sempre gerados a partir de outros pré-existentes era fortemente radical, já que ia contra as crenças da época. Somente por volta do século XIX, quando Louis Pasteur (1822-1895) refutou a abiogênese com experimentos controlados a partir do método científico a academia passou a aceitar a hipótese de que os organismos surgem de uma vida pré-existente.
Dado isso, assumindo então que todos os organismos possuem algum grau de parentesco e que, consequentemente, possuem um ancestral comum a todos os seres vivos, podemos discutir sobre evolução. Na segunda metade do século XIX, Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913) reuniram seus estudos, semelhantes, e desenvolveram a Teoria da Evolução por Seleção Natural. Particularmente, “A Origem das Espécies” de Darwin trata sobre duas teses:
(i) todos os organismos descenderam com modificações de um ancestral comum e
(ii) o principal agente de modificação é a ação da seleção natural sobre a variação individual.
Portanto, esta teoria diz que os organismos herdam as mudanças gradualmente e estas mudanças são selecionadas pela seleção natural.
A adaptação é vista equivocadamente como o desenvolvimento de novas características com o objetivo de melhorar uma espécie de forma objetiva e direcional. Apesar disso, o processo adaptativo é o resultado da seleção de características preexistentes que aumentam a probabilidade de um indivíduo deixar mais descendentes. Por exemplo, um pássaro que possua alguma variação na plumagem que atraia mais fêmeas para a cópula possui mais chances de deixar descendentes. Esta nova característica o deixa mais adaptado ao ambiente do que os outros indivíduos. A adaptação pode ocorrer de diversas formas dependendo da população e do ambiente em que ela se encontra, haja vista que a seleção atua sob características pré-existentes e não gera novas características, portanto nunca atua com o objetivo de moldar um “ser perfeito”.
O período da chamada síntese moderna, que durou entre 1930 e 1940 concilia a teoria da seleção natural com os descobertos estudos genéticos de Gregor Mendel (1822-1884) e com estudos sobre genética populacional. Em 1953 é descoberto o modelo de dupla fita do DNA. Neste período a herdabilidade passa a ser entendida sobretudo como dependente de um agente físico-químico, passado para os descendentes, e que é sujeito a erros. As mutações são estes erros que ocorrem ao acaso durante a replicação do genoma na produção de gametas, por exemplo. Esta nova informação genética pode ter inúmeros resultados, entre eles dar origem a uma nova proteína, que pode ser vantajosa, desvantajosa ou indiferente.
A genética, portanto, revolucionou o entendimento de evolução. Novos modelos de seleção natural foram formulados, novas forças evolutivas foram sendo descobertas e um novo conceito de evolução foi adotado. A evolução passa a ser vista como uma variação na composição genética ao longo das gerações, não é um conceito atrelado unicamente ao surgimento de novas espécies, mas sim às modificações que são herdadas a nível populacional e que eventualmente podem causar a especiação. Sabendo que o nosso conceito de evolução está atrelado a isso, temos então ao longo dos anos estudos voltados a entender as forças evolutivas. Em uma população em equilíbrio de Hardy-Weinberg as frequências alélicas se mantém constantes ao longo das gerações, ao passo que quando sofrem um desvio elas estão sob ação de força(s) evolutiva(s) e consequentemente evoluindo. As forças evolutivas mais estudadas são: mutações, seleção natural, deriva genética e fluxo gênico. A deriva genética é uma força que altera a composição genética por conta do erro amostral, não direcionando a evolução a favor de algum alelo. Já o fluxo gênico é a introdução ou saída de genes de uma população por conta da migração, alterando então a composição genética da população.
A evolução é apenas um dos conceitos que podemos tomar como modelo para compreender como a ciência muda ao longo do tempo. Aristóteles não estava errado em seus pensamentos, o seu tempo na história possuía diversos limitantes que hoje, mais de 2 mil anos depois, não temos mais. Agora conhecemos a genética, o DNA, as forças evolutivas e a evolução em si, que compreende muitos aspectos que não são meramente triviais. Portanto é essencial que estejamos sempre nos atualizando, buscando novas informações e investindo no avanço científico.
Fontes:
http://www.esalq.usp.br/lepse/imgs/conteudo_thumb/A-Evolu–o-de-Darwin.pdf
http://www.theoria.com.br/edicao0711/evolution.pdf
Vídeo Cladística – reconstruindo a Evolução (#Pirula 94) do Canal do Pirulla no YouTube
Outros divulgadores:
Série de Vídeos Principais Confusões com Relação à Evolução do Canal do Pirulla no YouTube
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