#acessibilidade: Grupo de pessoas com personalidades diferentes sendo representadas por emojis no rosto tendo ao fundo fitas de DNA.
Texto escrito pelos colaboradores Beatriz Silva Piristrello, João Pedro Oliveira Casalli, Lucas Ferreira da Silva, Raul Fernandes Correa Araujo e Rebecca Felipe Silva, alunos do Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFABC, sob supervisão da Profa. Vanessa Verdade.
Todos nós em algum momento da vida já ouvimos a famigerada frase “tal pai, tal filho”, mas será que a genética influencia mesmo nossa personalidade? Será que chatice ou teimosia são características herdadas de nossos pais?
A resposta é sim, mas um pouco mais complexa. A personalidade é definida como o conjunto organizado de todos os processos e estados psicológicos de uma pessoa. Os traços característicos são organizados dinamicamente dentro do indivíduo, com base no temperamento (inato) e no seu caráter (adquirido durante a vida). Dessa forma, o ser humano não pode ser considerado um produto exclusivo do meio e nem uma máquina programada para agir de acordo com os genes.
Como sabemos que aspectos de nossa personalidade podem estar relacionados com a genética? A lógica é muito próxima àquela do estudo de doenças hereditárias. Padrões comportamentais ligados a determinadas condições psiquiátricas são mais frequentes em algumas famílias que em outras, indicando que há fatores hereditários envolvidos. Na esquizofrenia, por exemplo, a probabilidade da população geral apresentar a condição é de 1%, mas se um dos pais ou um irmão for esquizofrênico, sobe para 10-20% e se os dois pais apresentarem a condição, passa a ser 40-50%. O padrão de herança pode ser complexo, muitas vezes não há um único gene responsável, são diversos genes interagindo, ou mesmo, uma questão de regulação desses genes.
Com a personalidade a situação seria semelhante, mas ainda mais complexa – como você poderia desconfiar – pois engloba todos os aspectos psicológicos e comportamentais do indivíduo. Isso quer dizer que envolve mais genes e interações com o ambiente, que produzem reações químicas internas que podem afetar o corpo de diferentes formas. Tudo isso somado às experiências anteriores daquele indivíduo e à interpretação individual, uma vez que os efeitos da mesma experiência sobre as atividades cerebrais diferem de uma pessoa para outra. Não é à toa que classificaram a personalidade como característica de herança complexa ou herança multifatorial.
Vamos tentar entender isso melhor? Sabe aquele jogo em que você deve seguir caminhos diferentes e completar algumas missões para encontrar acessórios e atributos que melhoram o desempenho de seu personagem? Tanto os acessórios quanto os atributos estão programados para estarem presentes no jogo, mas você só os conquistará caso siga um caminho específico. Com os genes acontece algo parecido, os genes estão lá, no seu DNA, “programados”, mas eles só se manifestarão caso você siga um “caminho” específico, ou seja, a série de experiências da vida de um indivíduo influencia como sua personalidade se manifesta. Vemos isso acontecer entre gêmeos idênticos (portanto, geneticamente iguais). A genética é a mesma, o ambiente de criação é geralmente o mesmo, mas, cada gêmeo passa por experiências diferentes e interage com pessoas diferentes em sua vida, manifestando personalidades diferentes.
Ou seja, não podemos afirmar que filhos de pais depressivos ou ansiosos serão depressivos e ansiosos. Mas sabemos que existem combinações gênicas que aumentam as chances de ocorrência de depressão e ansiedade e essas combinações podem ser herdadas. Ao saber disso, o que podemos fazer? Ficar de olho, adotar práticas reconhecidamente eficazes para combate dessas doenças como alimentação saudável, exercício físico, contato com ambientes naturais, meditação.
Essa visão, que considera o papel da genética e ambiente na formação da personalidade é chamada interacionista, e é a mais aceita atualmente. Isto é, a personalidade é gerada por meio da combinação de aspectos hereditários e de situações vivenciadas, fatores os quais são individualmente interpretados e assimilados em proporções exatas que ainda desconhecemos. A tentativa de medir ou analisar as duas variáveis de forma dicotômica é equivalente a discutir se, para tocar uma melodia, a música vem do piano ou do pianista e qual dos dois seria mais importante. Ou seja, se você é chato, a culpa não é (só) dos seus pais! E isso é bom! Você ainda pode virar um cara legal!
Para saber mais:
O que dá nossa personalidade? Nerdologia
O comportamento é hereditário? – Blogs da Unicamp (2011).
Personalidade é genética ou resultado do ambiente? – Universo da Psicologia
Genética e Comportamento Social – Drauzio Varella
Como formamos nossa personalidade? – Univates
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Imagem autoral. Fundo baixado do Freepik.
Alike Tellegen; David T. Lykken; Thomas J. Bouchard Jr.; Kimerly J. Wilcox; Stephen Rich; Nancy L. Segal; Personality Similarity in Twins Reared Apart and Together. Journal of Personality and Social Psychology (1988, Vol. 54, No. 6,1031-1039).
Dayanne da Silva Freitas; Lucian da Silva Viana; Carlos Leonardo Figueiredo Cunha; Artenira da Silva e Silva; Mariela Andrea Medeiros Suarez.. Genética: um fator de influência na formação da personalidade. J Manag Primary Health Care (2012; 3(1):26-33).
Teoria da personalidade – Psicologia.pt (2010).