Você realmente sabe o que é a gravidade? (V.7, N.8, P.2, 2024)

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Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade: A imagem é uma ilustração no espaço. Num fundo branco, com dois planetas cinzas em cantos opostos, temos uma astronauta, de uniforme vermelho, flutuando ao centro.

Texto escrito por Igor Espindola de Almeida

Provavelmente na escola, te explicaram que a gravidade é o que “puxa” as coisas para baixo. Graças a ela, as coisas caem (e eu não posso voar que nem o Peter Pan). Mas não parece científico dizer que há uma força mágica que puxa tudo para baixo…ou será que é?

Quem começa com esta história de força da gravidade não é Newton, apesar do que você possa ter ouvido falar: aquilo de estar sentado embaixo da árvore e a maçã! Até o século XVII, várias teorias haviam sido propostas para explicar o porquê as coisas caem.

Aristóteles, por exemplo, acreditava que tudo continha certa quantidade dos elementos fogo, ar, água e terra. Sendo o fogo mais leve e a terra mais pesada, aquilo que continha terra tendia, naturalmente, para baixo. No livro Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, de 1632, Galileu Galilei escreveu em uma conversa sobre dois personagens:

Salviati: “Eu gostaria que me dissesse o que move as partes da Terra para baixo”.
Simplício: “A causa desse efeito é bem conhecida, e todos sabem que é a gravidade”.
Salviati: “todos sabiam o nome mas não a essência dessa coisa”.

Em 1687, entretanto, Newton escreve (longe de qualquer macieira) o livro Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. Nele, ele descreve a Lei da Gravitação Universal, que fala que os corpos se aproximam devido a suas massas de forma natural. Ou seja, não saímos flutuando por aí porque a Terra, que tem muita massa, atrai a nossa massa, da mesma forma que nós também a atraímos. Quando nos atraímos (a Terra e nós), geramos movimento. Como um bom filósofo, Newton diz que qualquer coisa que altere a quantidade de movimento de um corpo é uma força. E então temos o que hoje chamamos força da gravidade.

Mas perceba que isto não nos diz o que é gravidade, somente o que a presença dela faz. O próprio Newton entende que não chegou a entendê-la:

“Explicamos até aqui os fenômenos dos céus e de nosso mar pelo poder da gravidade, mas ainda não designamos a causa deste poder. […] E para nós é suficiente que a gravidade exista realmente e atue de acordo com as leis que explicamos, servindo abundantemente para explicar todos os movimentos dos corpos celestes e de nosso mar.”
(Escólio Geral dos Princípios)

Outro que chegou mais próximo de entender o que é a gravidade foi Einstein. Em sua teoria da relatividade geral, a gravidade aparece no universo graças a deformação do espaço causada pela presença de massa, do mesmo modo que uma cama elástica afunda quando estamos em cima dela. Deste modo, a gravidade não é resultado de uma força “mágica”, mas de uma queda no espaço.

De todo modo, novamente, parece que a massa é a causadora da gravidade.

Satisfeito? Pois eu não estou. Podemos entender como a gravidade aparece, mas o problema só se estendeu para uma outra pergunta, mais complexa: o que é massa?

Em 2013 foram identificadas partículas que antes só existiam na teoria: os Bósons de Gibbs, que são responsáveis por “causar” a massa das outras partículas, como os elétrons. Bastaria, então, assumirmos que a massa é algo que simplesmente existe por causa dos Bósons de Gibbs. Mas então, o que eles são?

Com este tanto de pergunta, parece que estamos fazendo filosofia, não é? E realmente estamos, já que a física nasce da filosofia natural. Perceba que chamei Newton de filósofo, e não de físico, porque era assim como era chamado em sua época. Para entender o que poderia ser, de fato, os Bósons e a gravidade talvez precisássemos pensar em algo para além da física: uma Metafísica. Por este tipo de pensamento, Ciência e Filosofia são conhecimentos que se complementam, apesar das técnicas e objetivos diferentes.

Não adianta querermos um mundo onde a ciência é uma verdade absoluta, porque ela não é! Fazer ciência acaba sendo muito mais um encontrar de perguntas, do que de respostas. As verdades mudam diante de novas informações. O que era verdade no tempo de Aristóteles, mudou no tempo de Newton e o mesmo ocorreu para o tempo de Einstein. O conhecimento científico não é permanente, e a cada vez que muda, não é porque não sabemos de nada, mas porque sabemos mais!

Como será que entenderemos a gravidade daqui a 50 anos?

Fontes:

DUHEM, Pierre. A teoria física: seu objeto e sua estrutura. Rio de Janeiro, RJ: EdUERJ, 2014.

MARTINS, Roberto de Andrade. A maçã de Newton: história, lendas e tolices. In: Estudos de História e Filosofia das Ciências: subsídios para a aplicação no ensino. Editora Livraria da Física, 2006.

NEWTON. Princípios matemáticos da filosofia natural. Disponível em: https://archive.org/details/Principia.Livro.1.2.3-Isaac.Newton/Principia%20-%20Livro%20II%20e%20III%20-%20Isaac%20Newton/page/n319/mode/2up?q=causa&view=theater

PIMENTA, Jean Júnio Mendes et al. O bóson de Higgs. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, p. 2306, 2013.

SILVA, Maria Adna Sena da et al. A gravidade newtoniana e einsteiniana não é só uma dicotomia conceitual. 2019.

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