#acessibilidade: desenho de um campo coberto por grama, céu noturno estrelado com algumas nuvens e a lua cheia por trás. Cerca de madeira ao centro, se projetando para o fundo, enquanto carneiros pulam sobre ela.
Quando criança, parecia que a prova definitiva de que o mundo não gostava de matemática era a associação que logo que aprendemos a contar nos é ensinada: se está sem sono, conte carneirinhos. Mesmo após algumas noites chegando na casa das centenas ou na dos milhares, não costumamos questionar que a monotonia da contagem e o sono de uma aula sobre tabuada às 7 horas da manhã deve ter alguma relação.
Talvez pelo trauma de ficar contando noite adentro, ou por pena das crianças da próxima geração, Allison G. Harvey e Suzanna Payne, pesquisadores do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, em 2002, resolveram tirar a prova. Estudando como um grupo de 50 pessoas com insônia se preparavam para dormir, analisaram que a estratégia da contagem não era eficaz. Entre os indivíduos que contavam carneirinhos, os que não usavam nenhuma estratégia e aqueles que imaginavam paisagens e cenas relaxantes, o terceiro grupo acabava dormindo 20 minutos antes dos demais, em média.
Outra técnica estudada foi a de afastar pensamentos negativos e a ansiedade, mas a preocupação com estes fatores fez com que as pessoas passassem a dar mais atenção a eles, resultando em um atraso de 10 minutos, em média, para dormir se comparado com os que não utilizaram nenhuma estratégia.
Alguns pesquisadores identificam o hábito de contar carneirinhos com a cultura do pastoreio, outros vêem como primeiro registro da prática a obra de Pedro Afonso, Disciplina Clericalis, do século XII. Entre os seus 33 contos em latim se encontra a de um rei que, desejoso de ouvir histórias até que caísse no sono, obriga um súdito a fazê-lo. O súdito, já cansado, inventa a história de um pastor que precisava passar seu rebanho por uma cerca e propõe que o rei contasse a cada carneirinho que fizesse o pulo. Hoje sabemos que provavelmente o súdito teria alongado uns 20 minutos de seu sofrimento, sem saber que uma história relaxante em uma ilha deserta era o que precisava.
Fontes:
Harvey, AG and Payne, S. (2002). “The management of unwanted pre-sleep thoughts in insomnia: distraction with imagery versus general distraction.” Behavior Research and Therapy, 40:3 (267-277). DOI:10.1016/S0005-7967(01)00012-2