Seres Bioluminescentes (V.3, N.2, P.2, 2020)

Facebook Instagram YouTube Spotify
Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade A ilustração mostra uma noite na floresta. Há muito mato e outras plantas no chão, árvores e pode-se ver a silhueta de montanhas ao fundo. Em meio às plantas existem círculos amarelos que representam vaga-lumes.

Quem já teve a oportunidade de, longe da cidade, em noites de verão ao ar livre, observar pequenos pontos de luz que se movimentam no ar? É muito provável que tenham visto vaga-lumes! Vaga-lumes são seres vivos que emitem luz própria e por este motivo são seres bioluminescentes. Estes pequenos insetos possuem uma enzima denominada luciferase que reage quimicamente com a luciferina na presença de oxigênio, produzindo luz! A este fenômeno é dado o nome de bioluminescência. Mas com qual finalidade os vaga-lumes emitem luz? A bioluminescência no caso dos vaga-lumes está principalmente relacionada com a reprodução. As fêmeas respondem aos machos em movimento no processo de acasalamento, e ambos emitem luz que é reconhecida um pelo outro. E mais interessante ainda, devido ao padrão de emissão de luz, eles podem se reconhecer como indivíduos do mesmo grupo!

É importante lembrar aqui que bioluminescência é diferente de biofluorescência, porque na bioluminescência a produção de luz ocorre através de reação química, enquanto na biofluorescência a molécula fluorescente necessita ser estimulada por uma radiação para que possa absorvê-la e depois emiti-la na forma de luz visível.

Não somente no ar podemos observar seres bioluminescentes, mas também na água. Aliás, o ambiente marinho é o mais rico em seres vivos bioluminescentes! Em regiões profundas dos oceanos, é possível encontrar muitos animais, ou também bactérias luminescentes dentro de animais, os quais se beneficiam da emissão de luz. As finalidades da bioluminescência podem ser: o auxílio na procura por presas, defesa, comunicação, dentre outros.

E nas superfícies dos mares, podemos observar algum ser vivo que emita luz? Sim! Depois dos vaga-lumes, os organismos bioluminescentes mais comumente encontrados são os dinoflagelados presentes na superfície dos mares. São microrganismos (organismos microscópicos) unicelulares e eucariontes (organelas internas), cuja emissão de luz apresenta a função ecológica de, por exemplo, defesa contra predadores que são surpreendidos com a luz e não se alimentam dos seres brilhantes! Esses microrganismos, assim como outros organismos marinhos, geralmente emitem luz azulada, o que está relacionado ao ambiente onde a luz azul atinge distâncias mais longas. O dinoflagelado denominado Noctiluca scintillans é um exemplo comum que pode ser observado em praias em períodos noturnos em ondas quebrando, ao redor de embarcações em movimento ou simplesmente ao agitar a superfície da água. A força do movimento da água sobre as células é responsável por desencadear o processo que resulta na emissão de luz. Assim como acontece nos vaga-lumes, os dinoflagelados também possuem a enzima luciferase que será responsável pela reação química com a luciferina na presença de oxigênio.

A bioluminescência apresenta diversas funções para um organismo. Será que esta propriedade de emitir luz poderia ser utilizada para outras aplicações além das ecológicas citadas acima? Sim, através de técnicas de modificação genética em laboratório podemos fazer com que um organismo não bioluminescente passe a emitir luz, como uma forma mais simples e rápida de sinalização e detecção em tecnologias desenvolvidas em laboratório. As técnicas utilizadas para produção de organismos que emitem luz, entretanto, não deveriam ser utilizadas com o objetivo de introdução do organismo na natureza, se esta emissão de luz não apresentar uma função biológica ou ecológica bem estabelecida e aprovada por órgãos responsáveis.

Ao observar que muitos organismos marinhos produzem luz, o leitor poderia pensar: seria possível ter seres bioluminescentes em casa? Em uma rápida busca é possível encontrar em páginas comerciais, recipientes de plástico transparente, que são comercializados contendo um líquido com dinoflagelados bioluminescentes. O recipiente deve ser agitado, assim como a água do mar, e, quando a luz estiver apagada, será possível observar a luz emitida pelos microrganismos. Diferentes formatos de recipientes podem ser utilizados como uma forma de aquário de dinoflagelados decorativo.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Green vector created by brgfx – www.freepik.com

Buck, J., & Case, J. (2002). Physiological Links in Firefly Flash Code Evolution. Journal of Insect Behavior, vol. 15, p. 51-68.

Haddock SHD, Moline MA, Case JF. (2010) Bioluminescence in the sea. Annual Review of Marine Science, vol. 2, p. 443-493.

MADIGAN, Michael T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2016. Becker, W.: Microalgae in human and animal nutrition, p. 312–351. In Richmond, A. (ed.), Handbook of microalgal culture. Blackwell, Oxford (2004).

Maldonado EM and Latz MI. (2007) Shear-Stress Dependence of Dinoflagellate Bioluminescence. The Biological Bulletin, vol.  212, n. 3, p. 242-249.

Valiadi M and Iglesias-Rodriguez. (2013). Understanding Bioluminescence in dinoflagellates – How far have we come? Microorganisms, vol. 1, p. 3-25.

Woods WA, Hendrickson H, Mason J, Lewis SM. (2007) Energy and Predation Costs of Firefly Courtship Signals. The American Naturalist, vol. 170, n. 5, p. 702-708.

https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/bioluminescence/

Vídeo Your very own pet Dino! do canal Vat19 no YouTube

https://www.ted.com/talks/edith_widder_the_weird_wonderful_world_of_bioluminescence

Compartilhe:

Leave a Reply

Your email address will not be published.Required fields are marked *