Quem tem sangue sempre tem veias? (V.7, N.5, P.1, 2024)

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#acessibilidade: A imagem acima é uma árvore filogenética em formato circular apresentando 30 terminações. Em cada terminação há a imagem de um representante do filo animal correspondente. Os 30 filos estão representados, alguns na cor preta, alguns na cor vermelha e outros na cor azul, indicando os tipos de sistema circulatório de cada grupo. Abaixo dessa árvore filogenética circular tem um quadro explicativo em que está escrito: O sistema circulatório nos metazoários. Um retângulo preto com o termo ausente na frente, um retângulo azul com o termo aberto na frente e um retângulo vermelho com o termo fechado na frente. Abaixo destes retângulos há a silhueta de um cachorro, na frente da qual está escrito Chordata: Vertebrata, a silhueta de uma ascídia na frente da qual está escrito Chordata: Tunicata e a silhueta de um anfioxo na frente do qual está escrito Chordata: Cephalochordata, porque o filo Chordata está representado com estas três silhuetas na árvore filogenética, correspondentes a representantes de três subgrupos do filo.

Texto escrito pelos colaboradores Ives Haifig, Victor Morais Ghirotto, Pamela Viana Barbosa e Vanessa Kruth Verdade.

Sangue é um componente importante do nosso corpo, que relacionamos com saúde, com perigo ou com emoções. Meu sangue ferve por você! Estava com sangue nos olhos! Não só seres humanos têm sangue. Esse fluido, quase uma sopa de células, pedaços de células e moléculas, é um componente importante do sistema circulatório dos animais, desempenhando funções vitais como o transporte de nutrientes e de gases da respiração de uma região para outra no corpo. O sistema circulatório surgiu junto a uma demanda importante que apareceu na evolução dos animais: a multicelularidade! Organismos unicelulares absorvem os nutrientes e gases diretamente do meio em que vivem, por difusão, ou seja, esses materiais atravessam a membrana da célula que compõe o organismo. Contudo, quando existem muitas células, caso da maioria dos animais, algumas não conseguem ter acesso ao meio ambiente porque estão localizadas no interior do corpo. Essas células só conseguem sobreviver se houver um sistema que circula nutrientes e gases da superfície para o interior.

No nosso corpo, o sangue circula pelos vasos sanguíneos e leva o oxigênio absorvido nos pulmões para as demais células, enquanto traz o gás carbônico destas células de volta aos pulmões para ser eliminado. Mas você sabia que existem muitas variações desse mecanismo entre os animais? Em alguns o corpo não depende do sangue, em outros, o sangue não corre em vasos.

Nas esponjas-do-mar e nas águas vivas, por exemplo, a própria água pode ser considerada o fluido circulatório. A água circula por entre as cavidades do corpo destes animais e faz o transporte de nutrientes e gases para as células diretamente (Figura 1). Em outros grupos, existe um fluido na cavidade do corpo, que é diferente do sangue, e faz a circulação de nutrientes e gases entre as células. Esse tipo de circulação é comum nos pseudocelomados (você leu o texto “Onde ficam nossos órgãos?”), que incluem vermes como as lombrigas, por exemplo. Embora exista a circulação de substâncias entre as células por meio de diferentes fluidos, nesses animais considera-se que o sistema circulatório está ausente (Figura 2).

É muito comum que animais pequenos não apresentem sistema circulatório, já que esse transporte pode acontecer através de difusão entre as células e a superfície do corpo ou de uma célula à outra. Em outros casos, como o das planárias, o tamanho não é pequeno, mas a forma achatada amplia a superfície de troca e aproxima as células o suficiente para que haja difusão entre elas. Adicionalmente, o sistema digestório pode ser bastante ramificado e os nutrientes são absorvidos diretamente em diferentes regiões do corpo.

Quando o sistema circulatório é considerado presente nos animais, ele pode ser de dois tipos: aberto ou fechado. No sistema circulatório fechado o fluido corporal que está no celoma (texto “Onde ficam nossos órgãos?”) e o sangue propriamente dito estão separados e são diferentes em composição e função. O sangue, responsável pelo transporte de substâncias, corre dentro de vasos sanguíneos, os quais usualmente chamamos de veias (embora existam outros tipos, como artérias, capilares, etc.). Já no sistema circulatório aberto o sangue sai dos vasos sanguíneos e cai na cavidade do corpo banhando diretamente os órgãos e permitindo a difusão de substâncias entre as células. Esse tipo de sistema circulatório é comum em artrópodes de um modo geral, como insetos, aranhas e crustáceos e em alguns moluscos, e pode assumir funções além do transporte de nutrientes e gases. As aranhas, por exemplo, utilizam a pressão do sangue para ajudar ou até acionar o movimento de suas pernas, por isso quando uma aranha morre, suas pernas vão encolhendo em direção ao corpo.

Independente do sistema circulatório ser aberto ou fechado, para que ocorra a circulação do sangue no corpo, os animais apresentam diferentes estruturas que funcionam como bombas. Podem ser vasos sanguíneos contráteis, como nas minhocas, corações com perfurações como nos artrópodes, e corações com câmaras bombeadoras, como o nosso. E quem diria, mosquitos tem coração! Será que essa informação vai segurar sua palmada?

image2 - Quem tem sangue sempre tem veias? (V.7, N.5, P.1, 2024)
Figura 1. Sistema circulatório em diferentes grupos de animais. Em cima, da esquerda para a direita: Esponja-do-mar (Porifera), a água do mar entra pelos canais e sai pela abertura central do corpo. Corais (Cnidaria), a água entra pela boca e circula na cavidade gastro-intestinal; e Verme nematoide (Nematoda), a circulação se dá através do fluido existente na cavidade do corpo (blastocele). Embaixo, da esquerda para direita: Besouro, representando os insetos com sistema circulatório do tipo aberto. O sangue destes animais corre parte nos vasos e depois adentram as cavidades do corpo; Minhoca, com sistema circulatório fechado e múltiplos vasos contráteis que fazem o bombeamento do sangue pelo corpo; e Ser humano, com o sistema circulatório fechado e coração dividido em câmaras contráteis.
#acessibilidade: A imagem acima mostra a silhueta de seis animais, sendo eles uma esponja-do-mar, um coral, um verme nematoide, um besouro, uma minhoca e uma mulher. As silhuetas estão na cor cinza, e dentro de cada uma delas tem o desenho do tipo de sistema circulatório de cada um dos animais, com setas azuis indicando a circulação. Nos três primeiros animais, a circulação é do tipo aberta, enquanto nos três últimos, a circulação ocorre por dentro de vasos sanguíneos e é considerada fechada.
image1 - Quem tem sangue sempre tem veias? (V.7, N.5, P.1, 2024)
Figura 2. A evolução dos tipos de sistema circulatório nos diferentes grupos de animais.
#acessibilidade: A imagem acima é uma árvore filogenética em formato circular apresentando 30 terminações. Em cada terminação há a imagem de um representante do filo animal correspondente. Os 30 filos estão representados, alguns na cor preta, alguns na cor vermelha e outros na cor azul, indicando os tipos de sistema circulatório de cada grupo. Abaixo dessa árvore filogenética circular tem um quadro explicativo em que está escrito: O sistema circulatório nos metazoários. Um retângulo preto com o termo ausente na frente, um retângulo azul com o termo aberto na frente e um retângulo vermelho com o termo fechado na frente. Abaixo destes retângulos há a silhueta de um cachorro, na frente da qual está escrito Chordata: Vertebrata, a silhueta de uma ascídia na frente da qual está escrito Chordata: Tunicata e a silhueta de um anfioxo na frente do qual está escrito Chordata: Cephalochordata, porque o filo Chordata está representado com estas três silhuetas na árvore filogenético, correspondentes a representantes de três subgrupos do filo.

Fontes:

Andrade MP, Ferreira FS, Pinto TCF, Sampronha S, Santos D, Silva, PKR, Carrijo TF, Costa-Nunes FR, Oliveira OMP. 2021. Um panorama atual sobre a filogenia de Metazoa: conflitos e concordâncias. Revista da Biologia, v. 21, p. 1-13. https://doi.org/10.11606/issn.1984-5154.v21p1-13

Brusca RC, Giribet G, Moore W. 2023. Invertebrates. 4th ed. Sinauer Associates. Oxford University Press. 1104p.

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Pough FH, Bemis WE, McGuire B, Janis CM. 2023. Vertebrate life. 11th ed. Sinauer Associates. Oxford University Press. 657p.

Schierwater B, DeSalle R. 2021. Invertebrate zoology: a tree of life approach. 1st ed. CRC Press. 644p.

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