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#acessibilidade: A imagem é uma ilustração com garrafas PET vazias “caindo” ao fundo por toda a imagem e, ao centro, um sorvete de casquinha “de plástico” verde, com a “massa” do sorvete tendo inclusive uma tampinha…
Texto pelo colaborador Leonardo Martins Carneiro
Não sei se já aconteceu com você, mas algumas embalagens plásticas possuem uma aparência tão fofinha e tão macia que nos dá vontade de darmos uma bela mordida, e descobrir qual o sabor de algo tão apetitoso aos olhos. Assim, a notícia sobre a criação do sorvete de plástico parece vir para matar essa curiosidade de vez. Mas vamos com calma, o que exatamente os cientistas fizeram, um novo plástico? Reciclaram um plástico para uma forma comestível? E que gosto tem isso?
Tudo começou com o estudo da pesquisadora Joanna C. Sadler, em 2021, que buscou degradar o plástico polietileno tereftalato, mais conhecido como plástico PET, bastante presente em garrafas de refrigerante. Essa degradação não poderia acontecer de qualquer forma, seria preciso um controle rígido sobre os produtos desse processo, pois a cientista não queria produzir mais microplásticos (veja mais sobre microplástico). Então a molécula escolhida como produção da degradação do PET foi a vanilina, uma molécula orgânica responsável pelo aroma e gosto de baunilha.
A forma com que a Dra Sadler realizou essa degradação é digna de nota. Ela e sua equipe modificaram uma bactéria muito utilizada em estudos biológicos, a Escherichia coli, ou para os íntimos apenas E. coli, para ter a capacidade de ingerir o plástico PET, realizar diversas reações químicas durante a digestão, para ao final ter como produto moléculas de vanilina, como na figura a seguir. Os cientista conseguiram realizar essa reação com um excelente rendimento, quase 80%!
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Neste processo, foi realizada a transformação de PET em essência de baunilha, mas em que momento chegamos no prometido sorvete de plástico? Esse último passo foi dado pela designer italiana Eleonora Ortolani em 2023, que utilizou a essência de baunilha produzida pela Dra Sadler para fabricar um sorvete de baunilha, como parte no seu trabalho de conclusão de curso na renomada Central Saint Martins da Universidade das Artes de Londres. Embora ainda em testes para verificar se não faz mal à saúde, olha que maravilha se der certo: transformar embalagens que seriam descartadas em um produto super importante para a indústria alimentícia e cosmética. No mundo, são consumidas mais de 35 mil toneladas de vanilina por ano.
Agora, chegando ao final desse texto, me sinto obrigado a pedir desculpas caso tenha decepcionado você, pois vimos que não se trata de um “sorvete de plástico”, e sim uma essência, muito saborosa, extraída de um plástico específico, o PET. Mas, para você que ficou decepcionado, pense que este é um grande passo para uma reciclagem mais eficiente do PET, pois seu destino não precisa ser apenas para a produção de mais plásticos, que podem poluir os mares ou se transformar em microplástico com danos ainda imensuráveis. Com essa nova utilização do PET, podemos ter além do sorvete de plástico, o bolo, a bala, a torta, o creme hidratante, o perfume e tudo mais que precisem do aroma ou gosto de baunilha.
Fontes:
SADLER, Joanna C.; WALLACE, Stephen. Microbial synthesis of vanillin from waste poly (ethylene terephthalate). Green chemistry, v. 23, n. 13, p. 4665-4672, 2021
Bactéria transforma plástico em produto com gosto e cheiro de baunilha.
Sorvete de baunilha feito de plástico existe e é comestível.
Estudante transforma plástico em sorvete de baunilha. Teria coragem de comer?
Para saber mais:
Plástico Biodegradável e o Greenwashing: A falsa responsabilidade ambiental
