#acessibilidade: Oito mechas de cabelo justapostas verticalmente, cada uma com uma tonalidade distinta. As cores são, da esquerda para a direita: loiro claro, castanho, loiro, loiro platinado, ruivo e loiro acinzentado.
Texto escrito por Leonardo Costa Messina e Lucas Rafael de M. Domingos, do Mestrado em Ciência e Tecnologia – Química na UFABC
Você já chegou a pensar como as pessoas possuem cores de cabelo naturais diferentes? O que está presente em nossos corpos que determina tal diferença? Por que alguns possuem cabelos de tonalidade tão claras, enquanto alguns possuem cabelos de tonalidade tão escura e como existe uma miríade de tonalidades entre estas?
Se você acha que isso é fruto de nossa genética, você está com razão. Mas, bem, tudo em nosso corpo é dependente de nossa genética, logo, essa resposta não parece ser tão satisfatória, não acha? Porém, antes de entrarmos no assunto da cor em si, precisamos conversar sobre o que é o cabelo, do que ele é feito e como é organizado.
O fio de cabelo é feito majoritariamente de uma proteína conhecida como queratina. Aliás, não apenas uma, mas sim diversas moléculas de queratina, devidamente organizadas, representando cerca de 80% do peso do fio de cabelo. A organização destas diversas queratinas é feita por meio de interações intermoleculares e ligações químicas. Sim! Seu cabelo contém a terrível química! Mas não, não precisa se preocupar, pois essa química não é tão ruim assim, porque é ela que permite que você tenha sua linda cabeleira. Essa organização das moléculas de queratina forma o chamado córtex do cabelo. Entretanto, não é apenas de queratina que o córtex é formado, há também moléculas de água, lipídeos e, não menos importante, melaninas.
Essas tais melaninas são justamente as substâncias que conferem cor aos nossos cabelos e, a propósito, não apenas aos nossos cabelos, mas a nossa pele e olhos também! Existem dois tipos de melaninas (Figura 1): a eumelanina e a feomelanina. A eumelanina confere os tons do marrom ao preto ao cabelo, enquanto que a feomelanina trata das colorações que abrangem do amarelo ao vermelho. Estas melaninas apresentam-se como grãos na estrutura do córtex e a proporção entre elas e a forma com que estão distribuídas é o que confere a tonalidade final do cabelo de uma pessoa, sendo que essa distribuição e proporção são determinadas geneticamente.
Figura 1. Fórmula estrutural da eumelanina (à esquerda) e da feomelanina (à direita). Autoria própria.
As reações químicas envolvidas na fabricação dessas melaninas em nosso corpo envolvem um conhecimento bioquímico bem denso e possivelmente maçante para muitos dos nossos leitores, mas para aqueles mais ávidos desse conhecimento, deixamos alguns materiais de leitura complementares nas seções abaixo. De qualquer forma, vale ressaltar que estas melaninas são produzidas a partir de células chamadas de melanócitos que se encontram nos folículos – ou bulbos – capilares.
Conforme envelhecemos, a produção de melanina diminui, resultando em um fio de cabelo com a cor natural da queratina na ausência de pigmentos, ou seja, o fio fica esbranquiçado. Muito embora ainda não saibamos o que realmente acontece para haver essa menor produção de melanina com o passar dos anos em nossos cabelos, uma outra maneira bastante conhecida de se eliminar os grânulos de melanina é através do processo de descoloração dos fios, algo bem presente em salões de beleza. Neste tipo de processo, alguns produtos químicos são empregados nos fios com a finalidade de oxidar as melaninas, fazendo com que o fio perca sua coloração característica. Entretanto, as melaninas são substâncias muito resistentes e por isso são geralmente utilizados produtos químicos agressivos ou tóxicos, como é o caso da água oxigenada, hidróxido de amônio, persulfatos e perboratos. Uma vez que se tratam de substâncias perigosas, o ideal é que sejam manuseadas por profissionais da área, que entendam dos perigos e de como contorná-los.
Se de um lado é possível descolorir, também é possível colorir os cabelos – aliás, geralmente são processos interligados, ou seja, para colorir, é preciso antes descolorir. Ao tingir permanentemente os cabelos com uma tintura artificial, o que estamos fazendo é inserindo essa tintura no córtex do cabelo, de uma forma com que ela reaja quimicamente, tornando sua saída muito difícil, assim, pode-se lavar diversas vezes que a tintura permanecerá firme e forte. No caso de tinturas temporárias, são empregadas substâncias que se penetram menos no fio e com interações químicas mais fracas, o que facilita sua remoção.
Ainda poderíamos entrar no mérito das estruturas do cabelo, explicando o porquê dos cabelos serem lisos, ondulados, cacheados ou crespos, ou então como os fios crescem e os problemas relacionados a eles e até mesmo abordar como agem os shampoos e condicionadores. Enfim, o assunto é tão vasto e extenso quanto os cabelos de algumas pessoas! Caso queria ler sobre alisamento, temos esta indicação no blog, que aborda tal tema. Indicamos também uma coleção de livros citada anteriormente aqui no blog, que trata sobre cabelos e diversos outros temas.
Fontes:
Fonte da imagem em destaque: freepik
Clarence R. Robbins. Chemical and physical behaviour of human hair. 4ª edição. ISBN 0-387-95094-X
Vicente Oliveira Gomes. Cabelos: uma contextualização no ensino de química. Disponível em: https://gpquae.iqm.unicamp.br/PIBIDtextCabelos2013.pdf
John Halal. Tricologia e a química cosmética capilar. 5ª edição. ISBN 978-8522125654
Para saber mais:
Breaking Down the Fundamentals of Hair Bonds
Como reverter a química dos cabelos lisos para cacheados?
Is hair colors determined by genetics?