(Português do Brasil) Podemos medir nossa inteligência? (V.5, N.5, P.2, 2022)

Facebook Twitter Instagram YouTube Spotify

Sorry, this entry is only available in Brazilian Portuguese and European Spanish. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in this site default language. You may click one of the links to switch the site language to another available language.

Reading time: 4 minutes

Sorry, this entry is only available in Brazilian Portuguese. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

#acessibilidade: desenho de uma pessoa medindo sua temperatura corporal com um termômetro infravermelho na testa, na esquerda. Na direita, a tela do termômetro marcando “Inteligência: nível Guia dos Entusiastas da Ciência”.

Por algum motivo somos interessados em ser melhores que os outros. Quando não podemos ser os que mais se destacam em competições físicas, artísticas, sociais ou em poder aquisitivo, o que nos resta é a inteligência. Mas será que podemos medi-la? E qual seria sua unidade? Bits? Sinapses? Artigos publicados? Espera, é “inteligência” ou “inteligências”?

A própria definição de inteligência é algo controverso. Geralmente é associada a uma boa memória, raciocínio lógico, capacidade dedutiva e intuitiva. Se você pesquisar por “pessoas mais inteligentes” provavelmente encontrará entre as primeiras opções Albert Einstein, Stephen Hawkings, Isaac Newton e Leonardo da Vinci. Tirando o último, parece que ser um Físico [e homem] é o bastante para ser considerado inteligente. E não é à toa, mas calma que eu te explico.

A partir do final do século XIX e predominantemente no século passado, cientistas de diversos campos procuraram por métodos para medir funções mentais. O primeiro laboratório de psicologia em 1879, criado por Wilhelm Wundt (1832-1920), deu os primeiros passos nas investigações sobre sensações e percepções. Entretanto, foi o estatístico e antropólogo inglês Francis Galton (1822-1911) que tentou produzir um teste para classificar a inteligência, publicando em 1882 suas “Investigações sobre a faculdade humana e seu desenvolvimento”, um artigo em que explicava suas teorias.

Finalmente, em 1905, os franceses Alfred Binet (1857-1911) e Theodore Simon (1872-1961), preocupados em identificar crianças que tinham dificuldade na escola, criaram o teste que em 1912, seria conhecido como teste de QI (quociente de inteligência), após proposição de Wilhelm Stern (1871-1938). A versão dos testes para adultos só viria em 1939, com David Wechsler (1896-1981).

Porém, da mesma maneira que os testes de QI foram se aperfeiçoando, seus problemas também iam sendo revelados. Logo o teste passou a ser usado para determinar uma ilusória superioridade entre raças, por grupos eugenistas e outros tipos de atos discriminatórios.

Do ponto de vista teórico, enquanto alguns pesquisadores se contentavam com o fato de um número representar toda sua inteligência, outros apontavam que os testes consideravam somente habilidades de lógica e de percepção espacial (habilidades importantes para um Físico).

Com base nisso, teorias que apontavam a existência de diversos tipos de inteligência começaram a aparecer, sendo a mais conhecida a teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner (1943-), que classifica a existência de 8 tipos de inteligência (Lógica matemática, Linguística, Musical, Espacial, Corporal-cinestésica, Intrapessoal, Interpessoal e Naturalista).

Outra abordagem, também valorizada hoje, é a separação de inteligência fluida e inteligência cristalizada. Enquanto a primeira está relacionada com a capacidade de lidar com problemas, a segunda, a segunda seria o conjunto de conhecimentos que se obtém ao longo da vida a partir do uso da primeira.
.
Além do mais, o crescimento dos escritórios e a preocupação com a gestão de pessoas na década de 90 fizeram com que o empresariado passasse a ter outro conceito na moda: “inteligência emocional”, principalmente depois da publicação do livro de mesmo nome por Daniel Goleman em 1995. Não demorou muito para surgir a ideia de medir um QE (quociente emocional).

Desde então, muitos pesquisadores colocam suas expectativas de encerrar esta disputa entre uma ou muitas inteligências na neurociência. Setiawan e Ilmiyah (2020), relacionando a teoria das múltiplas inteligências com o que sabemos sobre as áreas cerebrais e o funcionamento do encéfalo, destacam que é importante não rotularmos os estudantes pois, ao fazermos isto, podemos os desencorajar a apreenderem de outras formas. Além disso, o fato de nosso cérebro estar sempre em mudança (plasticidade) dá a entender que nossa inteligência pode ser algo não fixo, mas sim algo que desenvolvemos ao longo de nosso aprendizados

Hoje, a ideia de quantificar a inteligência, apesar de interessante, não parece tão significativa. Testes de inteligência, escolares e psicológicos se mostraram instrumentos de repressão em mãos erradas. Maria Helena Souza Patto, ex-diretora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) nos alertava que quando temos uma nota baixa em um teste, paramos de prestar a atenção nas potencialidades dos estudantes e focamos na falta, como se fosse uma patologia. O que pode causar mais dano do que desenvolvimento.

Será que ainda precisamos medir a inteligência?

Outros divulgadores:

O que mede o Teste de QI | Nerdologia Ensina 03 – YouTube

Será que você nasceu inteligente? – YouTube

The dark history of IQ tests – Stefan C. Dombrowski – YouTube (inglês)

NEUROPLASTICIDADE: Tudo que você precisa saber! – YouTube

Referências:

ARAUJO, Saulo de F.. Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional de formação de psicólogos. Temas em psicologia, v. 17, n. 1, p. 9-14, 2009.

CALDAS, Roseli Fernandes Lins. Fracasso escolar: reflexões sobre uma história antiga, mas atual. Psicologia: teoria e prática, v. 7, n. 1, p. 21-33, 2005.

COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Artes Médicas, 2004.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional.

MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora pedagógica e universitária, 1999.

QUADROS, Carlos E. P. de; BICHO, Alessandro L. de; ADAMATTI, Diana Francisca. A teoria das Inteligências Múltiplas contextualizada com Educação, Neurociência e Pensamento computacional: uma revisão de literatura. Informática na educação: teoria & prática, v. 23, n. 2 Mai/Ago, 2020.

SETIAWAN, Adib Rifqi; ILMIYAH, Surotul. Multiple Intelligences Based on Neuroscience. 2020. Tese de Doutorado. Thesis Commons.

Compartilhe:

Responder

Seu endereço de e-mail não será publicado.Campos obrigatórios estão marcados *