#acessibilidade: três crianças resolvendo operações: 1+6, 5+2, 2+3, respectivamente, na lousa.
“Tudo bem, matemática é difícil mesmo”
Quem nunca ouviu ou falou algo parecido? Quando se fala de números, operações e funções algumas pessoas já perdem as esperanças. Começam a suar, o coração começa a bater mais rápido, na mente já vem frases como “não sou bom nisso” ou “sou de humanas”. O que muitos não sabem é que estes são sinais do que chamamos “ansiedade matemática”.
Não é que não exista dificuldade na aprendizagem da matemática, mas o fato destes questionamentos aparecerem em situações cotidianas que envolvam números, como calcular o quanto você precisa pagar ou receber de troco, pode ser sinal de algo mais sério.
Pais que carregam essas questões podem influenciar a aprendizagem dos filhos. Um estudo de 2015 mostra a influência negativa da ansiedade matemática dos pais no rendimento acadêmico de seus filhos de 6 e 7 anos, quando os ajudavam nas lições de casa da disciplina.
Mais recentemente, em 2021, pesquisadores da Universidade de Chicago mostraram que a quantidade de falas que contenham números ditas por pais, mães e outros cuidadores para crianças ainda mais novas, de até 3 anos de idade, podem refletir o nível de ansiedade matemática destes cuidadores. Como estas falas compõem a proximidade que estas crianças têm com números no seu cotidiano, sua aprendizagem pode ser afetada por sua falta.
Saber que esta influência existe pode ajudar pais, educadores e estudantes a minimizar os efeitos da ansiedade matemática. Mas o que podemos fazer?
- Em casa: um primeiro passo seria evitar o uso de estereótipos que fortalecem a repulsa por tudo que tem haver com matemática. Nada de “é difícil mesmo”, “sou (só) de humanas, biológicas ou exatas”, ou pior “homens são melhores que mulheres em matemática”, o que não é verdade e causa maiores níveis de ansiedade matemática entre mulheres. Por que não substituir essas frases por: “esta (e não “é”) difícil, mas sei que você consegue” e “hoje, tenho mais afinidade (ou facilidade) pelas ciências biológicas/ exatas /humanidades”. Furner e Duffy, em um trabalho de 2002, já falavam sobre a importância de enfatizar que todo mundo faz erros em matemática, e isso faz parte do processo de aprendizagem. O mesmo estudo de 2021 citado anteriormente, sugere a criação de situações que promovam a conversa sobre assuntos de matemática, por meio de livros, apps e jogos.
- Na sala de aula: Furner e Duffy propuseram, também, que os professores permitam que os estudantes tenham alguma participação na sua própria avaliação, para que entendam melhor suas dificuldades e facilidades. Algo a ser levado em consideração durante a aula é a importância dos raciocínios criativos para as soluções dos problemas ao invés de só valorizar soluções já formalizadas, o que ajuda a desenvolver o raciocínio lógico e mostrar que a matemática também é criativa, no lugar de fortalecer o estereótipo que matemática é fazer conta e decorar fórmulas. Ou seja, avaliar mais do que corrigir. Outras pesquisas como a de Samuel Ken-En e colaboradores mostram a boa influência que a música tem no aprendizado da matemática. Incentivar os estudantes a aprenderem a tocar um instrumento, ou fazer um momento musical antes de iniciar a aula pode ser uma boa dica. Outra dica é pedir para os estudantes escreverem sobre seus sentimentos sobre matemática antes de realizar uma atividade. Pesquisas indicam que pode haver melhora em sua performance. Também é importante ter acesso a outras metodologias de ensino, que tragam a utilidade do que está sendo ensinado e a proximidade da matemática em nosso dia a dia, partindo por exemplo, da história da matemática.
- Para os futuros professores: é preciso pensar em uma formação que considere os aspectos emocionais da aprendizagem. Especialmente professores dos primeiros anos, precisam ter uma base aprofundada dos conceitos matemáticos, precisam estar familiarizados e ter domínio do que precisa ser ensinado. Os erros conceituais devem ser minimizados e sua insegurança não pode ser transmitida para as crianças.
Você pode até continuar achando Matemática difícil, mas não deve ser motivo de pânico pra ninguém.
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Imagem de Mohamed Hassan por Pixabay
Berkowitz, T., Gibson, D.J. & Levine, S.C. (2021). Parent math anxiety predicts early number talk. Journal of Cognition and Development, 22(4), 523-536.
FURNER, Joseph M.; DUFFY, Mary Lou. (2002) Equity for all students in the new millennium: Disabling math anxiety. Intervention in school and Clinic, v. 38, n. 2, p. 67-74.
MALONEY, Erin A. et al. (2015). Intergenerational effects of parents’ math anxiety on children’s math achievement and anxiety. Psychological Science, v. 26, n. 9, p. 1480-1488.
Outras publicações:
D-20 – Uma Visão da Psicologia: Ansiedade à Matemática – YouTube
Why do people get so anxious about math? – Orly Rubinsten – YouTube