O voo de Ícaro (V.1, N.3, P.6, 2018)

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Tempo de leitura: 3 minutos
#acessibilidade Concepção artística da Parker Solar Probe viajando em direção ao Sol; sonda em primeiro plano e o Sol ao fundo.

“On your way, like an eagle, fly and touch the Sun”

Flight of Icarus, Iron Maiden (1983)

No labirinto de Creta encarcerava-se o Minotauro, um monstro mitológico metade homem e metade touro. A pedido do rei Minos, um labirinto fora construído por Dédalo e seu filho, Ícaro, onde a criatura devorava a quem por lá se perdesse. Entretanto, o herói ateniense Teseu matou o Minotauro após usar um novelo de lã que o auxiliou no caminho pelo labirinto. Devido à morte do Minotauro, Dédalo e Ícaro foram presos no labirinto e decidiram construir asas artificiais com penas de pássaros e cera de abelha para escaparem voando. Dédalo advertiu seu filho para não voar muito próximo ao Sol, evitando assim que a cera das asas derretesse. No entanto, Ícaro não deu ouvidos aos conselhos do pai e voou alto em direção ao Sol; suas asas derreteram e ele despencou, afogando-se no Mar Icariano.

Para realizar parte do sonho de Ícaro, na madrugada deste domingo (12/8/2018), foi lançada a Parker Solar Probe, da NASA, em sua histórica missão rumo ao Sol. A sonda foi ao espaço a bordo de um foguete Delta IV Heavy da empresa United Launch Alliance. Ela viaja agora na direção do planeta Vênus, pois vai usá-lo como estilingue gravitacional e ser então direcionada para órbitas heliocêntricas gradativamente mais próximas do Sol, chegando até 6,2 milhões de quilômetros da fotosfera (a superfície do Sol), cuja temperatura é cerca de 5.770 kelvins. Entretanto, as condições mudam drasticamente acima dela, na atmosfera solar: a temperatura sobe aos 20 mil kelvins no topo da cromosfera e ultrapassa os 5 milhões de kelvins na coroa (ou corona) solar. É para lá que a Parker Solar Probe está se dirigindo, ela voará pela coroa solar, realizando a maior aproximação do Sol (ou de qualquer estrela) feita por qualquer espaçonave da Terra, produzindo dados sem precedentes. Incluindo-se acerca da camada superior: a heliosfera, cavidade sob a influência do Sol que se estende desde 20 raios solares até os confins do Sistema Solar e onde vivemos. A heliosfera é preenchida basicamente por plasma do vento solar, um vento de partículas emitidas constantemente pelo Sol.

De tempos em tempos, ocorrem erupções solares que formam tempestades destas partículas. Sabe-se, por um lado, que elas podem gerar os belos espetáculos naturais das auroras, mas, por outro, causar danos, tais como interferências nas telecomunicações ou em sistemas de distribuição de energia elétrica. Sabe-se também que Sol possui um ciclo de 11 anos, durante o qual aumenta e diminui a sua atividade. Nos períodos de maior atividade solar, a quantidade de manchas solares aumenta, bem como a intensidade dos campos magnéticos e do vento solar. Nestes períodos, raios cósmicos galácticos são melhor defletidos, chegando um fluxo menor deles à atmosfera da Terra. Por conseguinte, há menos ionizações das moléculas do ar e a cobertura de nuvens diminui. Ou seja, estamos sujeitos não somente à meteorologia terrestre, mas também à meteorologia solar.

A Parker Solar Probe foi inicialmente chamada de Solar Probe (ou Solar Probe Plus), mas foi renomeada em homenagem a Eugene Newman Parker, astrofísico americano que desenvolveu nos anos 1950 a teoria do vento solar supersônico e previu a espiral de Parker nos campos magnéticos solares. Creio que a NASA evitou chamar a sonda de Ícaro para que ela não tivesse o mesmo fim trágico do nosso herói mitológico. E afinal torcemos mesmo para que a Parker Solar Probe esteja em seu caminho, voe e toque o Sol.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Goddard Media Studios

Para saber mais:

Parker Solar Probe

Parker Solar Probe Blog

Parker (sonda espacial) – Wikipedia

Outros divulgadores:

Série de vídeos sobra a Parker Solar Probe do canal Space Today no YouTube

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