(Português do Brasil) O que aconteceu com a Megafauna da América do Sul? (V.8, N.6, P.3, 2025)

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#acessibilidade: imagem de uma embalagem de leite no estilo de desenho digital, em tons de branco e azul, posicionada no centro da imagem. Na lateral da caixa, há um cartaz em estilo de “procura-se”, com o desenho de um mastodonte marrom, com grandes olhos pretos e presas curvas amarelas, sobre um fundo azul. Acima da ilustração lê-se “PROCURA-SE” e abaixo “DESAPARECIDO HÁ 10 MIL ANOS”, ambos em letras maiúsculas pretas. O fundo é claro e sem detalhes.

Texto pela colaboradora Evelyn Nathália da S. Cruz, bacharela em Ciências Biológicas, mestre pelo PPG em Evolução e Diversidade UFABC e doutoranda pelo PPG em Ecologia e Conservação UFS; e Ricardo Sawaya, biólogo e professor da Universidade Federal do ABC.

Imagine que hoje você entrou sem saber em uma máquina do tempo que te levou a campos e florestas da América do Sul de 10 mil anos atrás. Você sabe que tipo de animais encontraria em seu passeio? Se pensou nos dinossauros, errou a data, mas haveria animais bem diferentes do que vemos hoje. Você encontraria gonfotérios sul-americanos — parentes extintos dos elefantes — além de preguiças gigantes, ursos, lhamas, cavalos e até tigres-dente-de-sabre. Essas espécies faziam parte da chamada Megafauna Pleistocênica, mamíferos de grande porte que dominavam as paisagens da época. A maior parte dessa fauna habitava no Brasil uma grande área que chamamos de Região Intertropical Brasileira.

Esses grandes mamíferos surgiram e se diversificaram após a extinção dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos, ocupando diferentes ambientes. Impressionavam não só pelo tamanho, mas também pelos papéis ecológicos como a dispersão de sementes, modificação do solo e abertura de clareiras nas florestas. Mas há cerca de 7 mil anos, quase todos esses animais desapareceram na América do Sul. Esse fenômeno ficou conhecido como a onda de extinções da megafauna.

Como isso aconteceu? Não há uma resposta simples ou única. Mas duas hipóteses principais são consideradas: mudanças climáticas que marcaram o fim da última era glacial, com variações bruscas de temperatura e transformações nas paisagens; e a chegada dos primeiros humanos nas américas, que podem ter contribuído para essas extinções por meio da caça e ocupação de novos territórios. Na América do Norte, por exemplo, há várias evidências arqueológicas da presença de caçadores especializados nessa época. Mas na América do Sul, o cenário é menos conhecido e ainda está começando a ser desvendado.

Uma das formas de investigar esse mistério é olhar para o clima do passado. Quando observamos como o ambiente foi mudando ao longo dos últimos milhares de anos, percebemos que os habitats favoráveis para muitos desses animais foram se tornando cada vez mais raros e fragmentados. E, quando uma espécie perde seu espaço e precisa se adaptar a ambientes instáveis, suas chances de sobrevivência diminuem. No caso da América do Sul, alguns estudos apontam que o clima não teria sido o principal responsável pelo desaparecimento de alguns desses grandes mamíferos, como os elefantes. É possível que as mudanças ambientais tenham desempenhado um papel importante, mas especialmente quando combinadas com pressões humanas de caça. Imagine um cenário em que uma população já fragilizada pelas mudanças climáticas perde algumas fêmeas férteis para a caça; o impacto pode ser decisivo para o destino da espécie.

Hoje, vivemos um momento de mudanças ambientais aceleradas provocadas pelo homem moderno. Entender o que aconteceu no passado recente pode nos ajudar a refletir sobre o futuro: quais espécies correm mais risco agora? Ou ainda, como podemos evitar novas extinções? Vale lembrar que atualmente só restam representantes da megafauna de mamíferos na África e na Ásia, os berços evolutivos de muitas dessas espécies. Nessas regiões, elefantes, rinocerontes e hipopótamos ainda resistem, embora enfrentem ameaças crescentes. A história da megafauna pode ser um alerta, e também um convite para cuidarmos melhor da biodiversidade que ainda nos resta.

Referências

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Dantas MAT, Pansani TR, Asevedo L, Araújo T, França LM, Aragão WS, Santos FS, Cravo E, Waldherr FR, Ximenes CL (2024) Potential historically intertropical stable areas during the Late Quaternary of South America. Journal of Quaternary Science. https://doi.org/10.1002/jqs.3624

Galetti M (2004) Parks of the Pleistocene: Recreating the Cerrado and the Pantanal. Natureza e Conservação 2 (April): 93–100.

Mothé D, Avilla LS (2015) Mythbusting evolutionary issues on South American gomphotheriidae (Mammalia: Proboscidea). Quaternary Science Reviews 110: 23–35. https://doi.org/10.1016/j.quascirev.2014.12.013

Sandom C, Faurby S, Sandel B, Svenning JC (2014) Global late Quaternary megafauna extinctions linked to humans, not climate change. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences 281(1787). https://doi.org/10.1098/rspb.2013.324

Fonte da imagem em destaque: imagem gerada por inteligencia artificial (chatGPT)

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