#acessibilidade: A imagem acima é uma árvore filogenética em formato circular apresentando 30 terminações. Em cada terminação há a imagem de um representante do filo animal correspondente. Vinte e nove das 30 imagens associadas aos respectivos filos estão na coloração preta, enquanto somente uma, de um cachorro, está na coloração vermelha, correspondendo aos Vertebrata. Abaixo dessa árvore filogenética circular tem um retângulo explicativo em que está escrito: Os Metazoários vertebrados e invertebrados. Um retângulo preto com o termo invertebrados entre aspas na frente e um retângulo vermelho com o termo vertebrados na frente. Abaixo destes retângulos há a silhueta vermelha de um cachorro, na frente da qual está escrito Chordata: Vertebrata, uma silhueta de uma ascídia em preto na frente da qual está escrito Chordata: Tunicata e uma silhueta de um anfioxo em preto na frente da qual está escrito Chordata: Cephalochordata.
Texto escrito pelos colaboradores Pamela Viana Barbosa, Victor Morais Ghirotto, Fernando Zaniolo Gibran, Vanessa Verdade, Ives Haifig
Os animais invertebrados são popularmente conhecidos como aqueles que não possuem ossos, mais especificamente, coluna vertebral. Mas, será que realmente podemos afirmar que todos os animais sem coluna vertebral são “invertebrados”?
Na Biologia, os organismos são classificados e ordenados em árvores de parentesco evolutivo de acordo com novidades evolutivas compartilhadas (características específicas em comum). Este tipo de classificação biológica considera vários aspectos dos organismos, como morfológicos, comportamentais, fisiológicos e/ou moleculares (aqueles que envolvem análises de DNA, por exemplo). As novidades evolutivas são características compartilhadas por todos os membros de um determinado grupo de organismos e definem um ramo completo da árvore evolutiva em questão, tendo sido originadas e herdadas do ancestral comum exclusivo a todos os membros deste ramo. A árvore evolutiva mais abrangente que existe é a própria Árvore da Vida, que inclui todos os seres vivos.
Os biólogos chamam este sistema de classificação de filogenia (classificação filogenética), que considera relações de parentesco evolutivo entre os organismos. Então, quando um grupo é composto por um ancestral comum exclusivo e todos os organismos descendentes deste ancestral, este grupo é denominado monofilético. Um grupo monofilético é considerado um grupo natural (que surgiu de um único ancestral exclusivo). Contudo, por falta de estudos, de conhecimento suficiente ou até mesmo de questões históricas e tradição, algumas vezes os agrupamentos de organismos são nomeados e não apresentam todos os organismos descendentes do mesmo ancestral comum exclusivo, correspondendo, portanto, a um ramo incompleto ou grupo parafilético. Grupos parafiléticos são recortes de grupos naturais mais abrangentes. Quando isso ocorre, tem-se por convenção usar o nome deste grupo entre aspas, exatamente a situação dos animais considerados “invertebrados”.
Os “invertebrados” são todos os animais que estão representados por imagens pretas na árvore evolutiva da Figura 1, com exceção dos vertebrados que fazem parte do grupo Chordata (representados pela imagem vermelha de um cachorro). Chordata é um grupo monofilético que inclui três subgrupos: dois de animais “invertebrados” (Cephalochordata e Urochordata ou Tunicata) e os vertebrados propriamente ditos (Vertebrata) (ver quadro explicativo da Figura 1). Os vertebrados correspondem a pouco menos de 5% das espécies de animais viventes e conhecidas pela ciência, uma fatia bem pequena da Figura 2. Já os “invertebrados”, representam todo o resto, ou seja, ~95% das cerca de 1,5 milhão de espécies de animais descritas . A balança que divide esses dois grupos de animais (“invertebrados” e vertebrados) é surpreendentemente destoante em termos de diversidade, não é mesmo?
Mas, se definirmos os “invertebrados” como um grupo de exceção composto por todos os animais exceto os vertebrados, essa definição nos conduz a outras indagações: quem são os vertebrados? Por que esse ramo da árvore evolutiva dos animais, proporcionalmente tão pequeno, parece ser tão relevante? Informalmente, quando perguntamos a uma pessoa não especialista o que vem a ser um “invertebrado”, as respostas costumam ser em torno do significado da palavra, separando o prefixo “in” do restante “vertebrado”. A forma de raciocínio é compatível com o uso comum da linguagem, já que os prefixos “in”/“im” em Português são empregados para indicar sentido contrário, privação ou negação. Assim, “invertebrado” é justamente aquele que não é vertebrado. Por sua vez, o grupo dos animais vertebrados é um grupo monofilético que reúne todos os animais que possuem vértebras (uma novidade evolutiva compartilhada e exclusiva deste grupo). Assim, costuma receber mais atenção justamente porque nós, seres humanos, também somos animais vertebrados!
Dentre os vertebrados temos os mamíferos, as aves, os “répteis” e os anfíbios viventes, todos com coluna vertebral óssea típica (como a nossa), assim como a maior parte dos chamados “peixes”. Contudo, dentre os “peixes”, existem peixes cartilaginosos (Chondrichthyes) que perderam tecido ósseo verdadeiro (aliás, esta é uma novidade evolutiva deste grupo, já que osso surgiu na história evolutiva dos vertebrados antes desta nova ramificação que deu origem aos peixes cartilaginosos), assim como alguns peixes ósseos (Osteichthyes) que apresentam vértebras, mas associadas à notocorda (um bastão flexível dorsal ancestral, típico dos Chordata, que se estende pelo eixo ântero-posterior do corpo, geralmente presente nos embriões dos vertebrados e substituídos pela coluna vertebral ao longo do desenvolvimento) e não a uma coluna vertebral típica e, ainda, há também espécies de peixes sem maxilas, como as lampreias e as feiticeiras (Cyclostomata), que apresentam vértebras cartilaginosas rudimentares, também associadas à notocorda. Assim, podemos dizer que todos os vertebrados possuem vértebras, mas nem todos apresentam coluna vertebral óssea e típica da maioria dos vertebrados viventes como a nossa. O grupo dos chamados “invertebrados” é um grupo bastante diverso e heterogêneo. Nele existem animais mais aparentados aos vertebrados do que aos demais animais denominados “invertebrados”. Ainda, se formos considerar coluna vertebral óssea e típica, como a nossa, mesmo dentre os vertebrados há animais que não a possuem… Portanto, esta denominação “invertebrados” não é nada informativa sobre relações de parentesco evolutivo. Comunica de maneira genérica e simplificada a ausência de uma estrutura que define os vertebrados e nada nos diz sobre o parentesco dos “invertebrados” entre si, podendo nos confundir, trazendo a impressão de uniformidade e história única compartilhada por vários filos bastante heterogêneos. Precisamos saber que os nomes comumente usados para se referir a grupos de animais estão sujeitos a mudanças devido ao avanço do conhecimento científico, sendo que o contexto em que estes nomes estão sendo utilizados é importante. Você deve ter notado outros nomes entre aspas nos parágrafos anteriores, como “peixes” e “répteis”. Você deve ter pensado nos animais vertebrados com brânquias, nadadeiras e hábitos aquáticos e também nos animais vertebrados com pele grossa, escamosa e que vivem em áreas secas. Mas será que é isso mesmo? Será que todos os “peixes” e todos os “répteis” podem ser definidos com base em características únicas e exclusivas, assim como vértebras para vertebrados? Agora que sabe o que é um grupo parafilético, deve ter desconfiado de algo! Que tal dar uma pesquisada e voltar aqui para comentar?
#acessibilidade: A imagem acima é um gráfico em formato de setores (comumente conhecido como gráfico de “pizza”), em que as seções (ou fatias) representam a proporção dos principais filos de animais, todos em preto exceto o dos vertebrados, destacado em vermelho. Ao lado do gráfico tem dois quadrados (legenda), sendo um de coloração preta indicando “invertebrados”, entre aspas, os quais somam 95,3% de todos os animais, e outro de coloração vermelha indicando vertebrados, que representam somente 4,7% dos animais. Fonte: Catalogue of Life, 2023.
Fontes:
Andrade MP, Ferreira FS, Pinto TCF, Sampronha S, Santos D, Silva, PKR, Carrijo TF, Costa-Nunes FR, Oliveira OMP. 2021. Um panorama atual sobre a filogenia de Metazoa: conflitos e concordâncias. Revista da Biologia, v. 21, p. 1-13. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1984-5154.v21p1-13
Brusca RC, Giribet G, Moore W. 2023. Invertebrates. 4th ed. Sinauer Associates. Oxford University Press. 1104p.
Catalogue of Life. COL Checklist 2024-03-26. Disponível em: https://www.catalogueoflife.org/ Acesso em: 08 de dezembro de 2023. doi:10.48580/dfz8d
Pough FH, Bemis WE, McGuire B, Janis CM. 2023. Vertebrate life. 11th ed. Sinauer Associates. Oxford University Press. 657p.
Schierwater B, DeSalle R. 2021. Invertebrate zoology: a tree of life approach. 1st ed. CRC Press. 644p.
Para saber mais:
https://gec.proec.ufabc.edu.br/o-que-que-a-ciencia-tem/evolucao-uma-visao-historica/
https://gec.proec.ufabc.edu.br/o-que-que-a-ciencia-tem/a-gente-evolui-mas-nao-progride/
Humm…Sim! Todos os vertebrados terrestres são parte de um grupo que compartilha um ancestral único e exclusivo que inclui alguns grupos de peixes fósseis, celacantos e peixes pulmonados. Esse grupo se chama Sarcopterygii (PEIXES de nadadeira lobada, que apresentam nadadeiras com um eixo de sustentação monobasal, homólogas, ou seja, de mesma origem, que nossos membros. Então os vertebrados incluem os peixes sem maxila (Cyclostomata) e os peixes com maxila (Gnathostomata), dos quais descendem peixes cartilaginosos (Chondricthyes) e ósseos (Osteicthyes), dos quais descendem peixes de nadadeira raiada (Actinopterygii) e peixes de nadadeira lobada (Sarcopterygii), dos quais descendem os vertebrados terrestres (Tetrapoda). Somos todos peixes! Blup!
Já já vai falar que todo vertebrado é peixe!!!
ou que todo passarinho é réptil! =P