#acessibilidade: Imagem ilustrativa de duas pessoas semi-transparentes em fundo azul, com a medula espinhal de ambas destacadas em vermelho. Fonte: aqui
Texto escrito pela colaboradora Julia Kruk
E se a possibilidade de reabilitação de um trauma medular, antes vista como bruxaria ou milagre, fosse agora uma realidade? Essa é uma esperança na recuperação de mais de 50 milhões de pessoas do mundo que vivem com paraplegia ou tetraplegia, e para os demais animais de estimação paralisados vítimas de atropelamento.
Paralisias parciais ou totais de membros são causadas principalmente por lesões medulares, decorrentes de acidentes de trânsito, quedas ou fraturas. Para esses casos, a Polilaminina apresenta ótimos resultados preliminares e pode revolucionar a medicina. Outro ponto que merece destaque é que o medicamento foi desenvolvido a partir do isolamento de uma proteína humana, produzida durante o desenvolvimento do sistema nervoso. Se você ainda não se convenceu da revolução em curso, essa biomolécula foi extraída de placentas humanas e a equipe de pesquisa que conduz os estudos da Polilaminina é liderada pela Dra. Tatiana Coelho de Sampaio (UFRJ).
A Poliaminina mostrou resultados promissores na recuperação de pacientes tetraplégicos e paraplégicos, revertendo suas lesões medulares e prometendo recuperação total de voluntários. Em parceria com o Laboratório Cristália, o medicamento já está sendo produzido em escala comercial na planta de biotecnologia do laboratório, utilizando placentas doadas por mulheres saudáveis. A ciência predominantemente patriarcal, com mulheres mudando o curso da história com uma molécula produzida por uma mãe, é ou não absurdamente revolucionário?
Agindo sobre neurônios maduros, a proteína é capaz de regenerar as células da medula, induzindo um processo de “rejuvenescimento”, permitindo assim a formação de novos axônios, que são alongamentos dos neurônios, que como “fios” transmitem os impulsos elétricos entre outras partes do corpo e o cérebro. Essa ação tem capacidade de reativar trajetórias neurais “preguiçosas” e restabelecer a condução nervosa que foi interrompida por lesões, “recriando” o caminho interrompido.
A administração do medicamento é feita diretamente na coluna vertebral por injeções aplicadas dentro do espaço espinhal, com o objetivo de devolver parcial ou totalmente a mobilidade e sensibilidade de pacientes com lesões traumáticas, sendo elas a paraplegia (perda de movimentos dos membros inferiores) ou tetraplegia (perda de movimentos do pescoço para baixo, incluindo membros inferiores e posteriores), observando resultados expressivos quando a aplicação é feita em até 24 horas após o trauma e também em aplicações mais tardias. Estudos em modelos animais mostraram resultados promissores como a recuperação da marcha e sinais de reconexão neural em até 24 horas pós-aplicação.
Em seres humanos, os resultados dos estudos experimentais têm sido ainda mais surpreendentes. Os oito voluntários humanos que receberam o medicamento apresentaram recuperação parcial ou total dos movimentos e da sensibilidade. Um dos relatos de grande alcance midiático foi o caso do voluntário Bruno Drummond de Freitas. Com 31 anos, Bruno sofreu um acidente de trânsito que o deixou completamente paralisado do pescoço para baixo, condição conhecida como tetraplegia. A aplicação da Polilaminina ocorreu 24h após o trauma, com Bruno relatando uma recuperação integral de seus movimentos e sensibilidade. Em aproximadamente cinco meses, ele já estava completamente recuperado, com uma rotina normal, praticando esportes, sem necessidade de um tratamento.
Assim como Bruno, outra voluntária do estudo experimental é a atleta paralímpica de rugby Hawanna Cruz Ribeiro, que ficou tetraplégica após uma queda de dez metros de altura. Três anos após o acidente, ela foi submetida à aplicação do medicamento e relatou ter recuperado entre 60% e 70% do controle do tronco, como também parte da sensibilidade da bexiga.
O ensaio clínico preliminar, que contou com oito participantes, teve como objetivo verificar a segurança e ausência de piora neurológica, e não só obteve sucesso, como também demonstrou que 75% dos participantes demonstraram melhora no grau da Escala de Lesão da ASIA (AIS). No entanto, faltam etapas relevantes para liberação do uso do medicamento, que antecedem o registro sanitário. A Polilaminina, além de trazer uma esperança de cura, é considerada uma alternativa mais acessível e segura do que as células-tronco, pois possui estudos mais avançados e menor imprevisibilidade após aplicação. E você? Virou uma pessoa orgulhosa ao saber que um medicamento desenvolvido em uma universidade pública do país tem esse pioneirismo na cura de lesões como paraplegia e tetraplegia?
Referências:
https://vejario.abril.com.br/cidade/polilamina-estudo-ufrj-devolveu-movimentos-pacientes/
https://www.saude.mt.gov.br/storage/old/files/clipping-280710-[15-100810-SES-MT].pdf
https://blogdellas.com.br/tratamento-brasileiro-devolve-movimento-a-pessoas-com-lesao-na-medula/