#acessibilidade Fotografia de flores com cores variadas em um campo.
Você já parou para pensar no porquê de existirem tantas variações de cores e de perfumes entre as flores? A maior parte das plantas depende dos animais para a polinização e para que ela ocorra efetivamente é necessário que os animais acessem suas flores e façam a transferência do pólen de uma flor para outra. É, portanto, principalmente por meio da visão e do olfato que as flores conseguem atrair esses animais: utilizando cores e exalando aromas atrativos. Os sinais emitidos serão reconhecidos por espécies diferentes, variando a quantidade de cores e aromas que encontramos na natureza. E aí, qual seria um bom atrativo para você? Talvez flores com aroma de lasanha?
Via de regra, é interessante diferenciar recursos florais primários e secundários. Nos estudos botânicos há uma divisão dos tipos de recursos: recursos primários são os que satisfazem a demanda fisiológica por alimento (como o pólen e o néctar) e os recursos secundários são os sinais detectados pelos sentidos dos visitantes (como a cor e o perfume), sendo basicamente os atrativos florais. Embora sejam nomeados como coisas diferentes, os atrativos muitas vezes podem ser o próprio recurso floral, não existindo portanto uma diferenciação muito clara e prática.
O pólen é a principal fonte de proteínas para os visitantes florais, mas sua produção é muito custosa para a planta, afinal é o pólen quem carrega o gameta capaz de fecundar a flor durante a polinização. Assim, a maior parte das plantas polinizadas por animais disponibiliza néctar aos visitantes, que embora seja menos custoso, é mais restrito. A secreção de néctar ocorre na base da flor e fica praticamente invisível ao visitante por conta das pétalas. Em resposta a isso, algumas flores desenvolveram os guias de néctar, que podem ser linhas, pontos ou marcas que convergem desde as pontas das pétalas até o centro da flor, onde fica o néctar. Isso diminui o tempo que o animal irá gastar para encontrar o recurso.
#acessibilidade Seis fotografias de flores de espécies diferentes exemplificando a variedade de guias de néctar presentes na natureza.
A visão é uma das principais formas de atrair o visitante e é por meio dos pigmentos que ocorre a variedade de cores nas flores. A principal classe de pigmentos encontrados é a dos flavonoides, que normalmente se encontram na camada mais externa, e portanto visível, dos tecidos das plantas. Compreendem um amplo espectro de cores, indo do amarelo ao vermelho e do violeta ao azul. O segundo grupo mais frequente é o dos carotenoides, que são responsáveis principalmente pela cor amarela e por tons entre laranja e vermelho. O terceiro grupo é o das betalaínas, que fornecem tonalidades mais esbranquiçadas e podem contribuir para cor amarela, laranja, vermelha e violeta.
As antocianinas são os pigmentos florais mais comuns e pertencem à classe dos flavonoides. Não servem apenas para deixar as flores mais atrativas, também podem agir em outros órgãos da planta, como nos caules e nas folhas, aumentando a tolerância contra desidratação, temperaturas excessivas e fotoinibição causada por excesso de luz. É sempre interessante observar como na natureza muitas coisas não possuem uma única função e a vida acaba sendo mais complexa do que parece à primeira vista.
Mas o que faz um animal preferir uma cor à outra? Essa preferência é um reflexo da história evolutiva das interações entre animais e flores ao longo dos milhares de anos. A interação com o visitante exerce uma forte pressão seletiva das características florais, resultando em associações importantes entre grupos de animais e atrativos florais que podem ser observados na imagem abaixo:
#acessibilidade Diagrama representando as preferências de cores e de aromas de alguns animais. Besouros preferem marrom, cores escuras, branco e aroma de matéria em decomposição. Moscas necrófilas preferem marrom, cores escuras, branco, amarelo e aroma de matéria em decomposição. Mariposas noturnas preferem cores escuras, branco e aromas derivados de enxofre e cítricos, adocicados. Morcegos preferem cores escuras, branco e aromas derivados de enxofre. Abelhas e moscas nectaríferas preferem azul, amarelo, branco e aromas cítricos, adocicados. Borboletas preferem azul, amarelo, vermelho e aromas cítricos, adocicados. Pássaros e mariposas diurnas preferem azul, verde, vermelho e sem aroma. Vespas preferem marrom, verde, branco e não possuem preferência de aromas.
A associação mais comum ocorre em flores vermelhas que são visitadas por pássaros. Embora exista realmente uma relação, ela não é exclusiva, pois os pássaros podem visitar flores de outras cores e realizar a polinização efetivamente. Outro ponto é que as abelhas também visitam flores vermelhas! Acontece que as aves distinguem mais facilmente flores vermelhas do que as abelhas, assim as abelhas gastam mais tempo e energia procurando elas. Em um campo com flores vermelhas e azuis as abelhas conseguem distinguir melhor as azuis, visitando mais frequentemente as flores desta cor. Ao passo que os pássaros irão preferir visitar as flores vermelhas, já que por elas não ocorrerá competição.
Já os perfumes podem agir não somente na atração, mas na repulsão de determinados animais, selecionando portanto os polinizadores de interesse. São especialmente importantes para os insetos e vertebrados noturnos, que utilizam o olfato como principal guia. Além disso, os perfumes são mais potentes que as cores, pois são aprendidos mais rapidamente e podem ser memorizados por mais tempo, sobretudo entre as abelhas. A expressão de um determinado aroma é extremamente complexa, dependendo mais de fatores regulatórios da expressão do DNA do que da presença de determinados genes. É por isso que muitas espécies aparentadas podem apresentar ou não perfumes, e quando presentes podem variar bastante de flor para flor.
Nas abelhas o aprendizado de um determinado aroma pode ocorrer por meio da regurgitação. Um indivíduo que se alimentou de um determinado néctar aromatizado, por exemplo, pode transferir esse alimento para outro indivíduo, gerando a troca de informações. A abelha que recebeu o néctar o entende como um recurso a ser encontrado e explorado. Outras formas de aprendizado são por contato pelo paladar ou por quimiorrecepção a longas distâncias utilizando o olfato.
Da próxima vez que você ver flores recebendo uma visitinha saberá que ela fez um baita investimento para atrair aquele animal!
Fontes:
Fonte da imagem destacada: Helen Bailey
Fonte da imagem 1: Marinus de Jager
Fonte da imagem 2: Milena do Nascimento com base em conteúdo retirado do livro Biologia da Polinização
Rech, A.R; Agostini, K.; Oliveira, P.E.; Machado, I.C. 2014. Biologia da Polinização. Editora Projeto Cultural; 7: 151-168.
https://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=21549
Vídeo Como abelhas enxergam flores (EXPERIÊNCIA de QUÍMICA + biologia) do canal Manual do Mundo no YouTube
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