#acessibilidade: Pinheiro-da-Mata (Podocarpus sellowii) em São Paulo. Fotografado por Nelson Antonio Leite Maciel
Texto escrito pelos colaboradores Gustavo Santos de Souza, Davi Teles, Anderson Alves-Araújo, Elton John de Lírio
Os pinheirinhos-bravos, também chamados de pinheiro-da-mata, são espécies da família Podocarpaceae, um grupo de plantas aparentadas do pinheiro-do-paraná, também chamadas pinhão-manso ou araucária. No Brasil, dois gêneros e 13 espécies da família Podocarpaceae podem ser encontradas, sendo que a Amazônia e o Cerrado possuem o maior número de espécies, com cinco cada, seguido da Mata Atlântica com três espécies, a Caatinga com dois e o Pampa com uma espécie.
Os pinheirinhos-bravos podem ser árvores ou arbustos e fazem parte do gênero Podocarpus, um grupo de plantas que se distribui naturalmente em três principais áreas: uma entre Japão, China, Nepal, Sumatra, Austrália, Tasmânia e Nova Zelândia; outra na África do Sul e Madagascar; e a terceira na América do Sul e Central. Podocarpus é o gênero que possui maior número de espécies na família e também é o gênero com maior número de espécies no Brasil.
Usos e importância para a conservação
Os usos para as espécies de pinheirinhos-bravos no Brasil são diversos, desde madeira para construção, passando por celulose, papel, constituintes químicos, lenha, paisagístico, reflorestamento para recuperação ambiental e chegando até alimentação animal (forragem), humana e uso medicinal.
Algumas espécies de pinheiro-bravo foram consideradas prioritárias para conservação por um método chamado EDGE (do inglês Evolutionarily Distinct and Globally Endangered – evolutivamente distinto e globalmente ameaçado), que leva em conta a história evolutiva e o grau de ameaça de cada espécie (para saber mais sobre o método, veja o texto seguinte “Como conservar a singularidade da vida? Entenda o método EDGE de conservação de espécies”). Entre as espécies priorizadas por este método no Brasil, destacam-se Podocarpus sellowii, Podocarpus transiens, Podocarpus brasiliensis, Podocarpus lambertii e outras. Todas ocorrentes na Mata Atlântica e listadas como ameaçadas de extinção na lista vermelha internacional da IUCN.
Os pinheiros-bravos podem atingir até 15 metros de altura, possuem crescimento lento, e ocorrem em Florestas de Araucárias, Campos de Altitude, Campos Rupestres, Florestas Ciliares, Florestas Estacionais Semideciduais, Florestas Ombrófilas, Restingas, Savanas Amazônicas e em Vegetação sobre Afloramentos Rochosos. Uma característica interessante dessas plantas é que elas são dioicas, ou seja, possuem indivíduos com sexos separados: há plantas femininas e masculinas (Fig. 1, 2, respectivamente) (leia mais sobre plantas com sexo separados aqui) Além disso, as espécies de pinheiro-bravo não produzem frutos verdadeiros (Fig. 1). A parte carnosa, muitas vezes confundida com frutos, é na verdade uma estrutura onde a semente se prende, também chamada de pseudofruto. Essa adaptação ajuda na dispersão das sementes, que são consumidas por animais, contribuindo para a propagação da espécie, e também muito apreciada por humanos.
Os pinheiros-bravos são exemplos fascinantes da rica biodiversidade brasileira, com uma história evolutiva única e com importância ecológica e econômica. A conservação dessas espécies é essencial para manter o equilíbrio dos ecossistemas onde ocorrem, como na Mata Atlântica, um dos biomas mais diversos e ameaçados do mundo.

#acessibilidade: A imagem apresenta um pseudo-fruto de P. sellowii, exibindo um ramo verde com folhas opostas. O pseudo-fruto é composto por duas partes distintas: a porção inferior, maior, com tegumento carnoso de coloração preta; e a porção superior, menor, esférica e de coloração verde, correspondente à semente.

#acessibilidade: A imagem apresenta um ramo de P. sellowii com cones masculinos. Observa-se um ramo verde com folhas opostas, das cujas axilas emergem cones masculinos de coloração amarelada, distribuídos ao longo de diferentes eixos do ramo.
Referências bibliográficas
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